A procuradora da República Andréa Bayão Ferreira acusa o ex-diretor de planejamento de Furnas, Dimas Toledo, empresários e políticos de participarem da “lista de Furnas”, uma caixinha de campanha clandestina que funcionou na estatal no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A denúncia reúne um arsenal de documentos da Polícia Federal e da Receita que, além de atestar a veracidade, comprova a existência de um “mensalão” organizado por Dimas na estatal.
A suspeita é de desvio de mais de R$ 54 milhões em contratos superfaturados, que alimentavam os financiamentos ilegais de campanha de 153 políticos – incluindo as de ex-governadores de São Paulo e Minas Gerais. Em agosto de 2006, a PF recolheu R$ 1,2 milhão e outros US$ 356 mil, em Bauru (SP), na casa de Airton Antônio Daré, sócio da empresa Baruense Tecnologia e Serviço, que recebeu R$ 500 milhões de Furnas entre 2000 e 2005.
Para o MP, o esquema era custeado por contratos superfaturados assinados pela estatal com as empresas Toshiba do Brasil e JP Engenharia Ltda. Elas foram contratadas, sem licitação pública, para realizar obras no Rio. A Alstom do Brasil e Siemens, acusadas de pagar mais US$ 20 milhões de propina a partidos, venceram vários contratos com Furnas. Elas aparecem na chamada lista de Furnas como possíveis financiadoras do esquema de repasse de dinheiro a políticos.
Termelétricas
Em 2011, Furnas celebrou contratos de US$ 270 milhões com a Toshiba para implantação da Termelétrica São Gonçalo e, com a JP, no valor de US$ 167 milhões para a Termelétrica de Campos.
Para lavar o dinheiro da caixinha de campanha, Dimas teria montado, em nome de seus amigos e filhos, Gabriel Toledo e Fabiana Toledo, cinco empresas de fachada que simulavam prestar serviços de consultoria para a estatal: BCE, Intertel, Compobrás, ECB, e Baruense. Para apagar rastros, elas eram subcontratadas pela Toshiba e JP.
Em depoimento ao MP, os diretores da Toshiba admitiram o pagamento de propina à chefia da estatal. O superintendente administrativo da empresa, José Csapo Talavera, disse que os contratos fictícios das empresas de fachada até 2004 eram esquentados em um esquema de “notas frias”. Tudo para lavar o dinheiro da corrupção, já que os serviços não eram realizados.
“Em reunião, ouvi Dieckson Barbosa (colega de diretoria) relatar que, nos contratos da construção das usinas, os valores que seriam pagos por Furnas teriam embutido percentuais destinados ao pagamento de propinas para diretoria da estatal e para políticos, através de falsos contratos de consultorias”, disse Csapo Talavera.