Comissão usará livros de visitas para apurar envolvidos em torturas no Dops

Daniel Roncaglia - Folhapress
18/02/2013 às 18:04.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:06

SÃO PAULO - A Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo quer utilizar os livros de visitas ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para apurar o envolvimento de pessoas e entidades em torturas e mortes cometidas dentro daquele que era um dos principais órgãos da repressão da ditadura militar (1964-1985). Nesta segunda-feira (18), a comissão apresentou, em sua primeira audiência pública, a linha de investigação que seguirá com os seis livros encontrados no Arquivo Público de São Paulo.

"A gente está fazendo cruzamentos de datas de entradas de vários outros com a informação de quem pode ter sido preso e torturado lá", afirma Ivan Seixas, coordenador da comissão. Uma das primeiras investigações será verificar o registro da presença do cônsul dos Estados Unidos em São Paulo de 1971 a 1974, Claris Rowney Halliwell (1918-2006), nas dependências do Dops no dia 5 de abril de 1971, quando foi preso o militante do MRT (Movimento Revolucionário Tiradantes) Devanir José de Carvalho.

De acordo com Seixas, Devanir foi morto dois dias depois dentro do Dops após longas sessões de torturas. Oficialmente, ele foi morto por resistência à prisão. Entre 1971 e 1972, Halliwell foi 34 vezes ao prédio do Dops. Segundo Seixas, que ficou preso no local em 1971, quando alguém era torturado era possível ouvir os gritos em qualquer lugar do prédio. Com base nesses registros, a comissão vai enviar um ofício ao Consulado dos Estados Unidos em São Paulo questionando as visitas do cônsul ao órgão de repressão. O consulado já informou que não tem registro de ex-funcionários e não respondeu qual seria o motivo das visitas de Halliwell ao Dops.

Fiesp
Outra entidade que será questionada é a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Entre os nomes que aparecem nos livros dos Dops está o de Geraldo Rezende de Matos, cujo cargo é identificado nos livros apenas como "Fiesp".

Em nota, a Fiesp afirmou que "o nome de Geraldo Rezende de Matos não consta dos registros como membro da diretoria ou funcionário da entidade". "O trabalho da comissão é produzir as provas para que a gente possa cobrar. Queremos no caso da Fiesp e do consulado uma explicação. Esse tipo de relacionado é no mínimo suspeito", diz Seixas.

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