Os funcionários dos Correios estão atualmente no ápice da negociação salarial deste ano e em algumas regiões vigora o risco de a categoria entrar em greve a partir da zero hora desta terça-feira. Mas o risco de greve não vale para todo o País. Em São Paulo, por exemplo, não haverá greve dos funcionários dos Correios nesta terça-feira, pois o sindicato da categoria na capital realizará assembleia apenas amanhã, devendo convocar nova assembleia para a semana que vem.
Ainda hoje, devem realizar assembleias sobre a possibilidade de greve sindicatos de funcionários dos Correios de mais de dez Estados (AL, AM, CE, PB, PE, PI, PR, SC, SE e RS, além das unidade de Belo Horizonte), conforme informações da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect). As demais regionais só deverão realizar assembleias amanhã. Em Santos, por exemplo, a assembleia dos funcionários dos Correios deve ocorrer apenas no dia 25, informa a federação.
As negociações estão ocorrendo de forma bastante fragmentada, com datas de assembleias, pauta de reivindicações e lideranças diferentes. De um lado está a Fentect, que agrega 31 das 35 regionais, e que solicita 43,7% de reajuste, entre outros pedidos. A federação argumenta que o índice refere-se a 33,7% de recomposição salarial desde o início do Plano Real, mais 10% de aumento real.
Em outro polo está o grupo formado pelos "Sindicatos Unificados", reunindo os trabalhadores dos Correios da capital paulista e região metropolitana; de Bauru, no interior paulista, e dos Estados do Rio de Janeiro e Tocantins. O reajuste solicitado pelos "Sindicatos Unificados" é de 10,2%, sendo 5,2% de reposição da inflação no último ano mais 5% de aumento real; mais R$ 100 de forma linear para os funcionários, entre outras reivindicações. O grupo dos "Sindicatos Unificados", que agrega as duas principais praças do País, ou seja, a capital paulista e o Estado do Rio de Janeiro, desfiliou-se da Fentect no primeiro semestre deste ano.
Na semana passada, os Correios apresentaram à Fentect e aos Sindicatos Unificados uma nova proposta que prevê 5,2% de reajuste de salários e benefícios. A proposta anterior previa 3% de reajuste. "O índice proposto aos 120 mil empregados garante o poder de compra, uma vez que cobre a inflação do período", avaliam os Correios, em nota. O sindicato dos trabalhadores dos Correios da capital paulista realiza assembleia amanhã, com indicativo de rejeição da proposta de 5,2% e realização de nova assembleia na semana que vem (provavelmente no dia 18), mas ainda não fala em greve. A direção do sindicato admite que as negociações com os Correios têm avançado, embora a passos curtos, o que não justificaria adotar uma postura mais dura, ou seja, a greve.
Há um ponto de convergência entre os dois grupos: ambos rejeitam mudanças no convênio de saúde atualmente oferecido pelos Correios. A pauta dos "Sindicatos Unificados" pede "manutenção da assistência médica nos moldes atualmente praticados na empresa". A Fentect também rejeita qualquer mudança no sistema de atendimento à saúde dos funcionários dos Correios. Uma funcionária dos Correios do Rio de Janeiro resume a preocupação da categoria: "O plano de saúde é o melhor benefício dos Correios. É o único motivo que poderia levar para uma greve". Ela também critica a politização do movimento sindical que representa a categoria.
A fragmentação nas negociações já havia sido verificada no ano passado, quando a greve durou 28 dias. Em 2011, a greve dos Correios só terminou depois de o Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinar o fim da paralisação. Mais do que isso, os ministros do TST fizeram duras críticas aos sindicatos dos trabalhadores dos Correios. À época, o presidente do tribunal, ministro João Orestes Dalazen, disse que "ficou nítido o descompasso entre a cúpula dos sindicatos e as bases". Dalazen se referia à rejeição da proposta acertada entre o TST e a Fentect, que representava o comando da greve, pelos 35 sindicatos regionais de todo o País. "A cúpula foi desautorizada pelas bases", afirmou Dalazen.
No mês passado, sob uma onda de greves envolvendo mais de 30 categorias de servidores, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi taxativo e já avisou: se os funcionários dos Correios entrarem em greve, os dias parados serão descontados. "Vamos controlar com rigor a presença e descontar dias, horas e minutos", avisou Bernardo. "Chega um momento em que não tem conversa: parou, tem de descontar."
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