Cunha cria CPI do BNDES e autoriza a de fundos de pensão

Estadão Conteúdo
17/07/2015 às 17:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:57

Nem bem oficializou seu rompimento com o governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu início às retaliações ao Palácio do Planalto, acusado por ele de querer prejudicá-lo com as investigações da Operação Lava Jato da Polícia Federal.   No fim da manhã desta sexta-feira, Cunha anunciou que estava rompendo como Planalto. Foi a primeira resposta à denúncia de ter pedido propina de US$ 5 milhões, feita pelo lobista Julio Camargo. A segunda resposta veio na forma do anúncio de duas novas CPIs para tentar impor ainda mais desgaste ao governo: criou a CPI do BNDES e autorizou a dos Fundos de Pensão. Para isso, ignorou quatro requerimentos que pediam a criação de comissões para apurar falhas no setor elétrico, violência contra mulheres, desabastecimento de água e problemas na telefonia.    Cunha também encaminhou ofício ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a outros dez "cidadãos" para que refizessem em dez dias, por erro de formatação, seus pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. "Vou incluir mais uma justificativa no meu requerimento. Semana que vem, apresento ele atualizado", disse Bolsonaro ao Estado.    Aliados do presidente da Câmara esperam a rejeição das contas de 2014 de Dilma, a partir de recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), o que pode acabar em impeachment por crime de responsabilidade da petista. Pessoas próximas a Cunha já dão como certa a reprovação das contas da presidente. Na quinta-feira passada, o presidente da Câmara já havia dito que o julgamento no Congresso seria político.    As retaliações, no entanto, não devem parar por aí. Dilma também deve enfrentar ainda mais dificuldades para aprovar projetos de interesse do governo na Câmara. Na volta do recesso, o governo deve ver rejeitados projetos prioritários, como a reforma do ICMS e a repatriação de recursos no exterior, segundo aliados políticos.    O pacote de retaliações ao governo deve se estender à CPI da Petrobras, sob controle de um político de sua "tropa de choque", o deputado Hugo Motta (PMDB-PB). Aliados de Cunha querem aprovar a convocação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Aguardam a divulgação oficial da delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, que afirmou que o ministro recebeu R$ 250 mil para sua campanha ao governo de São Paulo em 2010 e que o dinheiro teria origem no esquema de corrupção na Petrobrás. Mercadante nega irregularidades.    Ao longo do dia, o governo tentou amenizar a virulência das declarações de Cunha nos pronunciamentos oficiais. Nos bastidores, porém, não escondeu a tensão com a declaração de guerra feita pelo peemedebista. Petistas apontaram sinais de enfraquecimento de Cunha como a ausência de aliados, como os líderes do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), e do DEM, Mendonça Filho (PE), no anúncio do rompimento com o governo. Apenas cinco parlamentares do "baixo clero" acompanhavam Cunha: André Moura (PSC-SE), Rogério Peninha (PMDB-SC), Hildo Rocha (PMDB-MA), Édio Lopes (PMDB-RR) e Roney Nemer (PMDB-DF).    A oposição entende que o rompimento agrava a crise institucional  "A guerra fria virou guerra total. Haverá destruição de parte a parte", disse um líder oposicionista que preferiu o anonimato. Para eles, o vice-líder do governo, Sílvio Costa (PSC-PE), tentou "apagar incêndio jogando gasolina" ao defender o afastamento de Cunha da presidência da Casa. O governo desautorizou Costa.    Partido O PMDB deu sinais de divisão. Para alguns, Cunha furou o sinal ao declarar o rompimento e deu um tiro no pé ao criticar o juiz Sérgio Moro, que comanda a Lava Jato, tido como "paladino da ética". Para outros, o deputado reagiu na medida e no momento certos, dividindo o noticiário com as acusações contra ele. No PMDB, há quem argumente que, ao ir para o confronto direto com Dilma e o PT, Cunha mantém apoio da opinião pública, insatisfeita com a presidente e seu partido.    Também há divisão na bancada quanto ao rompimento. Há quem diga que Cunha terá a maioria a seu favor, já que o governo ainda não liberou cargos e emendas para os parlamentares. No entanto, o temor de enfraquecimento pode isolar o parlamentar, sujeito a ser enfraquecido por novas acusações e pela formalização da denúncia ao Supremo Tribunal Federal.    Em nota, o PMDB ressaltou que o rompimento é uma posição pessoal de Cunha. Isso também gerou interpretações diversas. Para alguns, o comunicado demonstra isolamento do presidente da Câmara. Para outros, foi apenas uma nota burocrática, já que o presidente da legenda, Michel Temer, é vice-presidente da República e articulador político do governo.    Cunha quer que Temer deixe a articulação política tão logo o governo conclua o ajuste fiscal. O vice-presidente estará nos EUA na segunda-feira e na terça-feira da próxima semana.

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