Diretor de estatal que citou propina ao depor é demitido

Fernando Gallo e Fausto Macedo
17/01/2014 às 16:03.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:25

Titular de vários postos de comando em estatais ao longo dos governos tucanos em São Paulo, Benedito Dantas Chiaradia disse em depoimento prestado em 14 de novembro à Polícia Federal que ouviu de pessoas da área metroferroviária relatos sobre pagamento de propina a agentes públicos.

Chiaradia, que foi diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) entre 1999 e 2002, disse que o consultor Arthur Teixeira era apontado como intermediador das empresas do cartel. Ele viabilizava, segundo os relatos que diz ter ouvido, o pagamento de propina para o hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo Mário Covas nos anos 1990, e para servidores da CPTM e do Metrô.

Até o fim do ano passado Chiaradia tinha um cargo de direção no Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), autarquia do governo paulista. Acabou exonerado no dia 20 de dezembro, pouco mais de um mês após o depoimento à Polícia Federal.

Chiaradia é a terceira testemunha a citar propina do cartel no inquérito e a primeira de dentro do próprio governo a tratar do assunto. A Polícia Federal tem em mãos um depoimento do ex-diretor da empresa alemã Siemens Everton Rheinheimer no qual ele cita propina para diretores de estatais de trens e para políticos - três deles ocupam hoje o secretariado do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

A outra testemunha que citou aos policiais federais a propina - mas num contexto de que apenas suspeitava dela - foi o executivo da Siemens Mark Gough, que atua na empresa na Alemanha. O inquérito do cartel, aberto em 2008, está no Supremo Tribunal Federal pois os secretários de Alckmin são deputados licenciados e têm foro privilegiado.

Assinatura

Chiaradia atuou na CPTM como diretor administrativo e financeiro na mesma época em que João Roberto Zaniboni, Oliver Hossepian e Ademir Venâncio ocupavam cargos de chefia na estatal. Os três foram indiciados no inquérito pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, crime financeiro e formação de quadrilha.

Chiaradia foi um dos signatários de um dos três contratos da CPTM que a Siemens denunciou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) - a empresa alemã admitiu ao órgão federal as combinações entre as empresas a fim de evitar ou diminuir futuras sanções. Há mais três contratos sob suspeita, nos metrôs de São Paulo e de Brasília. Chiaradia, porém, não foi indiciado porque a Polícia Federal não encontrou problemas em suas movimentações financeiras ao quebrar seus sigilos.

No depoimento de novembro, ele declarou que "Teixeira tinha contato muito próximo e constante com Oliver, Ademir e Zaniboni" e que "acredita que essas reuniões eram para tratar de propina". Chiaradia disse acreditar que um dos motivos para ter deixado a CPTM naquela época "foi justamente não ter convívio social" com os outros três, "o que demonstrava a clara má vontade para assuntos relativos ao pagamento de propinas". Ele também disse crer que os valores encontrados nas contas de Zaniboni na Suíça eram "a título de propina".

Histórico

Chiaradia tem longa ficha de serviços prestados ao Estado de São Paulo. Advogado, chefiou o departamento jurídico do Metrô entre 1975 e 1983. Entre 1983 e 1986 assessorou secretários de Segurança Pública e foi chefe de gabinete de Miguel Reale Jr.

Depois de uma incursão de uma década no setor privado, voltou ao serviço público em postos no governo estadual. Entre 2005 e 2007 foi secretário-geral da Assembleia Legislativa de São Paulo. Depois voltou para o Executivo paulista, retomando cargos nas direções de estatais e autarquias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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