Esquema de lavagem pagou gastos eleitorais em MT, diz PF

Fernando Gallo, Fausto Macedo e Fátima Lessa, especial para a Agência Estado
22/05/2014 às 09:57.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:41

A Polícia Federal (PF) afirma que o principal operador do esquema de lavagem de dinheiro que abasteceu campanhas eleitorais e pagou propina em Mato Grosso agia a mando do senador Blairo Maggi (PR) e do governador Silva Barbosa (PMDB). Eder Moraes, ex-secretário da Fazenda de Blairo, está preso em Brasília, acusado de operar milionário esquema de lavagem de dinheiro por meio de instituição financeira clandestina. Maggi governou Mato Grosso até 2010, quando renunciou para disputar o Senado. Silval, que era o vice, assumiu e foi reeleito naquele ano.

A conclusão da PF tem base, entre outros documentos, em delação premiada feita por um dos principais integrantes do esquema, o empresário Gércio Marcelino Mendonça Filho, que entre 2005 e 2013 concedeu empréstimos em Mato Grosso por meio de uma empresa de factoring e de sua rede de postos de combustíveis, que funcionavam como instituições financeiras clandestinas, conforme o Ministério Público. Ele decidiu fazer a delação após ser envolvido nas investigações da Operação Ararath, que terça-feira teve a quinta fase desencadeada, na qual foram presos Moraes e o deputado estadual José Riva (PSD).
Mendonça disse aos investigadores que, nas eleições de 2008 e 2010, fez empréstimos a Silval que seriam, segundo relato do governador ao delator, "para fins de campanha eleitoral".

Ele revelou que, em 2008, emprestou R$ 4 milhões para o governador, a pedido do próprio. "Silval Barbosa relatou ao depoente que o empréstimo era para ser utilizado para as eleições municipais daquele ano para fundos do PMDB", diz a PF. "Silval afirmou que o governador Blairo Maggi tinha conhecimento de que tomaria dinheiro emprestado em alguma factoring".

Em 2010, segundo Mendonça, Silval o chamou em seu apartamento e lhe pediu R$ 7 milhões, dos quais R$ 4 milhões foram emprestados, a juros de 3% ao ano. Além disso, ele afirmou ter gasto mais R$ 300 mil para pagar pesquisas eleitorais encomendadas por Barbosa e R$ 150 mil para gastos da convenção do PMDB como ônibus, comida e água. A reportagem não encontrou registros oficiais desses empréstimos como doações para as campanhas.

No caso de Blairo Maggi, as revelações do delator, somadas a documentos obtidos em operações de busca e apreensão, levaram o Ministério Público a concluir que há indicativos de que, em 2009, quando era governador, ele pegou ao menos dois empréstimos em um banco, dissimulando sua condição de tomador. Esses empréstimos estariam relacionados a empresas de Mendonça. Segundo a Procuradoria, Maggi "obteve" do empresário R$ 4 milhões em favor de um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. O conselheiro receberia a quantia para deixar o TCE e abrir a vaga para um aliado do governo.

Defesa. Por meio de sua assessoria, Maggi informou que não tem nenhuma relação com os fatos apontados na Operação Ararath. O senador está "indignado", segundo a assessoria. Maggi afirmou que "quem está falando em seu nome está mentindo" e disse que "nunca conversou" com o delator e que, quando retornar da Europa, se convidado a depor, "prestará todos os esclarecimentos".

O advogado Ulisses Rabaneda, que representa Silval Barbosa, disse que ainda não teve acesso à integra dos autos da Ararath. "Sabemos que a sociedade e os meios de comunicação esperam uma manifestação da defesa ou do próprio governador, mas o que sabemos ainda é muito vago." A defesa de Moraes não respondeu às ligações da reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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