Ex-vice presidente da Camargo Corrêa diz que herdou prática de propina

Estadão Conteúdo
26/05/2015 às 11:33.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:12

Deputados da CPI da Petrobras começaram a ouvir na manhã desta terça-feira (26) o depoimento de Eduardo Hermelino Leite, ex-vice-presidente da Camargo Corrêa. Falando em arrependimento, Leite disse que "lamentavelmente" participou do pagamento de propina a agentes públicos e privados e que hoje tem seu futuro profissional comprometido. "Mais do que arrependimento, tenho uma profunda frustração profissional", declarou.

Em suas primeiras palavras, o executivo disse que tinha 21 anos de Camargo Corrêa e que em 2009, ao assumir a diretoria de Óleo e Gás da empresa, herdou um esquema preexistente, passado por seus antecessores. Ele relatou que os colegas haviam dito que o "cliente" (Petrobras) funcionava dessa maneira e que era difícil deixar tal "atividade". "Herdei uma prática e tive de administrá-la, mantendo os procedimentos já adotados", comentou.

Ao assumir a prática de atos ilícitos, Leite confirmou que manteve contato com os ex-diretores Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento) - e com o ex-deputado federal José Janene (PP-PR) e os operadores Júlio Camargo, Alberto Youssef e João Vaccari Neto. "Eram operadores contumazes, que insistiam no pagamento dessas obrigações", disse.

Júlio Camargo e Youssef foram chamados por ele de facilitadores de encontros com os diretores da Petrobras. O delator chegou a revelar, em oitiva à Justiça Federal na semana passada, que foi procurado por Costa e Duque para pagar propina mesmo depois que eles deixaram os cargos na estatal.

Leite destacou que 1% do custo da obra era destinado ao pagamento de propina. "Esse custo era cobrado pela Petrobras, conforme o andamento da obra", contou. De acordo com ele, se não tivesse esse custo, os valores cobrados da estatal poderiam ter sido 2% menores, já que era pago metade para cada diretoria.

Leite falará apenas sobre os crimes relacionados ao esquema de corrupção na Petrobras. O executivo, que cumpre prisão domiciliar e renunciou ao direito de ficar em silêncio, é ouvido na condição de investigado.
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