O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso disse nesta quinta-feira, 20, não ser favorável à abertura da CPI da Petrobras agora, mas avalia que o desdobramento do caso depende do empenho do governo em investigar as denúncias de irregularidades na estatal. Para FHC, a proximidade das eleições presidenciais pode 'partidarizar' a apuração.
No Congresso, entretanto, a liderança do PSDB já participa da articulação que cobra abertura de comissão. "Acho que o momento eleitoral não é o mais propício. Não sou favorável a partidarizar. Mas se o governo não apurar direitinho, abre espaço [para CPI]", declarou o ex-presidente, após ministrar palestra para novos alunos da universidade Estácio.
Durante o evento, o ex-presidente disse que a Petrobras "deu marcha à ré" durante o governo de seu sucessor, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, quando, segundo ele, houve uma retomada da influência dos partidos na empresa. "Nós transformamos a Petrobras em uma corporation, uma empresa, não uma repartição pública. Para isso, tem que tirar a influência dos partidos. No governo anterior ao atual, deu marcha à ré e o resultado está aí, com escândalo nos jornais", afirmou ao responder à pergunta de um estudante.
Em entrevista à reportagem após a palestra, Fernando Henrique cobrou do governo investigação sobre a compra da refinaria em Pasadena. "Já se sabia do caso, a novidade é que a própria presidente reconheceu que está errado. Então ela tem que agir em consequência. É estranho (a aprovação pelo Conselho com base em um relatório). Pelo que vi, o valor (atual da refinaria) é muito aquém do que foi pago, é muito escandaloso. Não quero culpar ninguém, não é só ela (Dilma), o conselho é formado por muita gente, gente de peso. Mas quando se erra se paga a consequência", afirmou.
Fernando Henrique fez questão de lembrar que a compra da refinaria aconteceu na gestão anterior à da presidente atual da Petrobras, Graça Foster. "Com essa presidência a Petrobras voltou um pouco ao que é necessário, a ter uma visão mais profissional", disse.
O negócio de Pasadena, formalizado em 2006, é investigado pela Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União (TCU). Ambos suspeitam que tenha havido superfaturamento e evasão de divisas. A compra custou R$ 1,18 bilhão à estatal e, anos antes, foi adquirida por uma empresa belga por US$ 42,5 milhões.
Conforme revelou o jornal O Estado de S.Paulo, a presidente Dilma Rousseff justificou em nota oficial que "documentos falhos" a induziram ao erro ao dar aval à aquisição da unidade. Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras. Dirigentes da Petrobras rebateram a afirmação e sustentam que Dilma tinha acesso a todos os documentos produzidos sobre a compra.
http://www.estadao.com.br