Após o presidente Michel Temer afirmar que não renunciará e destacar que não tem medo de delação, o governo agora vai trabalhar para desconstruir a imagem do delator Joesley Batista e tentar anular as provas que culminaram com o pedido de abertura de inquérito contra o presidente pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A iniciativa capitaneada pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, de pedir perícia nos áudios divulgados na quinta é a principal aposta do governo para desconstruir as provas. Interlocutores do presidente destacam que "é grotesco" e "evidente" que as gravações foram editadas pelo delator.
"Que prova é essa? Como podem por meio de uma prova forjada afetar o país e a economia desta maneira", disse uma fonte do Planalto.
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência pediu que fossem feitas perícias nos áudios e vai capitanear a iniciativa com o argumento de que grampear um presidente da República em sua residência é um "crime grave". A argumentação será a de que as provas foram forjadas e devem ser invalidadas.
A ideia inicial da estratégia partiu do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, que já vinha expondo a tese de que a legalidade das fitas precisavam ser verificadas.
A avaliação foi tomada antes de o STF tornar público os inquéritos abertos com base na delação de Joesley para o Ministério Público Federal.
Trechos
Na avaliação feita internamente no Planalto há pelo menos duas partes da gravação apresentada pelo delator, entre os minutos 6 e 12, que apontam para uma adulteração justamente no momento em que a conversa trata do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando há entradas "abruptas da fala do presidente". Em outro ponto, por volta do minuto 30, há na avaliação do governo que houve um corte evidente no diálogo.
Inicialmente o governo fará essa perícia particular por uma "questão natural para a defesa do presidente". Apesar disso, segundo uma fonte, a publicidade desta perícia ou algum pedido formal de questionamento no STF ou na PGR será uma estratégia ainda a ser avaliada. "É um dever de oficio para a questão de defesa, mas entre fazer a perícia e divulgá-la há uma lacuna", diz uma fonte, ponderando que uma das ideias é "aguardar o noticiário do fim de semana".
Uma tese que interlocutores do presidente defendem é que o resultado da divulgação dos áudios não foi a bomba esperada. "A própria sociedade já está desconstruindo as acusações, vendo que não tinha nas fitas e na conversa o que tinha sido vendido", observou um auxiliar de Temer.
As criticas a atuação do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal, apesar de cautelosas dentro do Planalto, vão na direção de que não se pode "brincar" com a figura do presidente e nem com a economia do país. A reação do mercado financeiro na quinta, segundo fontes do Planalto, não pode ficar sem uma resposta enfática do governo. "É no mínimo irresponsável considerar como prova uma gravação claramente adulterada", comentou uma fonte.
O mercado financeiro no Brasil não vivia um dia como a quinta-feira desde que o banco americano Lehman Brothers quebrou, em 2008, arrastando as bolsas de valores de todo o mundo. A delação de Joesley Batista que colocou Temer no meio de um turbilhão, fez com que a Bolsa brasileira recuasse 8,8%, pior resultado em quase nove anos. O dólar fechou em alta de 8,07% - o terceiro maior aumento da história do real.
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