O jornalista Glenn Greenwald, que denunciou casos de espionagem dos Estados Unidos sobre o Brasil, e o companheiro dele, David Miranda, deverão ter proteção especial da Polícia Federal (PF) por tempo indeterminado. A determinação é da Comissão Parlamentar da Inquérito (CPI) da Espionagem instalada nesta terça-feira, 3, no Senado para investigar o monitoramento do governo dos EUA a correio eletrônico e telefonemas no Brasil. O monitoramento teria atingido até mesmo a presidente Dilma Rousseff.
"Consultamos o Glenn a respeito da iniciativa (de pedir proteção) e ele considerou muito adequada e prudente por causa das novas denúncias que ele fez no fim de semana envolvendo a quebra do sigilo da presidente Dilma e de novas denúncias que vão continuar acontecendo, em razão do processamento que ele está fazendo", destacou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que foi eleito nesta terça-feira relator da CPI.
De acordo com Ferraço, a presidente da comissão, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) entrará em contato com o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, para comunicar e requerer a imediata escolta de Greenwald e Miranda. De acordo com o senador do PMDB do Espírito Santo, Dilma terá oportunidades para demonstrar não apenas indignação em relação ao caso, mas cobrar uma aliança internacional sobre o assunto.
Segundo Ferraço, o tema deve ser discutido com o presidente norte-americano, Barack Obama, na visita que ela deverá fazer a Washington, em outubro. "Poderá se traduzir em excepcional oportunidade para que o Estado brasileiro possa solicitar esclarecimentos da denúncia de por que um país aliado esta sendo tratado dessa forma", afirmou. Além disso, o senador do PMDB afirmou acreditar que em setembro, na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na qual o Brasil, tradicionalmente, faz o discurso e abertura, Dilma deveria abordar o assunto e criar "todo tipo de constrangimento".
Apesar dos esforços do Senado, há receio de que a CPI represente mobilizações, mas sem consequências. "Temo que não se consiga produzir nada e acabe ficando no meio caminho", destacou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Ferraço, contudo, afirmou acreditar que a comissão conseguirá dar respostas ao caso.
"Vamos fazer uma radiografia de como o Estado brasileiro está se estruturando para conviver com esse fato, que tem a ver com essa guerra cibernética." O senador ressaltou ainda que convocará Cardozo e os ministros Defesa, Celso Amorim, e das Comunicações, Paulo Bernardo, além de convidar o embaixador americano no País, Thomas Shannon, que já se negou a comparecer ao Senado quando chamado pela Comissão de Relações Exteriores (CRE), na época das primeiras denúncias.
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