(Ezequiel Fagundes)
Após 53 dias de greve, caiu em 80% a utilização de armas estratégicas da Polícia Federal (PF) em Minas contra o crime organizado e a corrupção. Com isso, procedimentos de interceptações de comunicações – telefônicas e telemáticas (e-mails), infiltração de agentes, depoimento de delatores e o uso do Guardião (a supermáquina de grampos) estão praticamente parados, emperrando a realização de operações de vulto e comprometendo investigações que já estavam em andamento. Os dados fazem parte de relatório da PF obtido pelo Hoje em Dia. Pelo documento, as investigações de crimes financeiros e desvios de verbas estão sendo feitas com apenas 20% de seu potencial”. Na superintendência de Belo Horizonte, a frota de viaturas parada no pátio em horário de expediente simboliza o atual momento. Desde 7 de agosto, agentes, escrivães e papiloscopistas (especialistas em identificação) estão em greve. Eles são os únicos que mantiveram a paralisação após anúncio de reajuste concedido pelo governo aos servidores do funcionalismo público federal – 15,8% nos próximos três anos. Só em Minas, são cerca de 600 policiais federais. Rachada Nos bastidores, a informação é a de que a corporação está rachada. De um lado, delegados e peritos. Do outro, os servidores em greve. Motivo: divergências salariais. O imbróglio foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que impôs limites. Conforme decisão liminar, portos e aeroportos devem manter 100% de suas atividades de plantão e o atendimento das demandas da Justiça Eleitoral no primeiro e segundo turno da eleição. Nessa semana, a reportagem teve acesso a dois documentos, internos e restritos, das entidades que defendem os interesses dos grevistas. Um deles, atribuído à Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), fala sobre o excesso de delegados e revela um plano estratégico para “atingir negativamente o governo federal”. Plano Em nota, a federação alegou se tratar de uma “minuta de ideias” e rechaçou qualquer “plano para desestabilizar o governo”. O outro papel, preparado pelo Sindicato dos Policiais Federais no Estado de Minas Gerais (Sinpef/MG), é uma resposta à decisão do STJ. Na tentativa de driblar o cumprimento da ordem judicial, a entidade enviou ao superintendente regional da PF em Minas, Sérgio Barboza Menezes, uma relação contendo nome e local de trabalho de cada policial. Porém, para engrossar a lista, o sindicato relacionou delegados e peritos que, na realidade, não aderiram a paralisação.