Investigado é preso em operação contra lavagem

Andreza Matais e Fausto Macedo
20/03/2014 às 22:30.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:45

Em meio à crise envolvendo a Petrobras, a Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira o ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, homem forte na gestão do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. A Operação Lava Jato, da PF, identificou a participação de Paulo Roberto em esquema de lavagem de dinheiro e o relaciona a um "plano de negócios com a Petrobras" para venda de medicamentos que seria intermediada por ele.

Paulo Roberto, que se desligou da Petrobras em março de 2012, é investigado pelo Ministério Público Federal no Rio por irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), pela estatal brasileira. Ele foi um dos responsáveis por elaborar o contrato da compra da refinaria e ajudou a fazer o "resumo técnico" de 2006 criticado pela presidente Dilma Rousseff por não trazer cláusulas do contrato que iriam transformar o negócio de Pasadena num problema para a Petrobras. A prisão de hoje não tem relação com irregularidades na compra da refinaria.

O executivo atuou na Petrobras por indicação do PP e do PMDB, da ala do partido ligada ao senador José Sarney (AP). Hoje, ele atua na área de afretamento de navios.

A Lava Jato desmontou organização criminosa acusada de lavagem de recursos ilícitos no montante de R$ 10 bilhões. A investigação mostra relações próximas do ex-diretor da Petrobras com o doleiro Alberto Youssef, condenado no caso Banestado - remessa de US$ 30 bilhões para o exterior nos anos 1990.

A ordem de prisão temporária contra Paulo Roberto foi decretada pela Justiça Federal no Paraná. Na segunda feira, 17m a PF fez buscas na residência do executivo, no Condomínio Rio Mar IX, Barra, e apreendeu em seu poder US$ 181.485, R$ 751.400 e 10.850 euros em dinheiro vivo.

A Operação Lava Jato cumpriu 24 mandados de prisão e buscas que resultaram na apreensão de documentos, computadores, veículos de luxo, obras de arte e joias em 17 cidades de seis Estados e no Distrito Federal. Entre os presos estava o ex-sócio da Bônus-Banval, Enivaldo Quadrado, condenado no processo do mensalão.

A investigação da PF revela que Youssef presenteou o executivo com uma Land Rover, em março de 2013. O carro foi encontrado no mesmo endereço onde a PF localizou todo o dinheiro em espécie.

Inicialmente, a Justiça só havia ordenado a varredura nos endereços de Paulo Roberto. A prisão foi decretada quando surgiram indícios de que o alvo estaria ocultando provas.

O ex-diretor alega que ganhou o veículo por "serviços de consultoria" e que não há relação com o cargo então ocupado na estatal. A PF suspeita que Paulo Roberto e Youssef, agindo em conluio, planejavam conquistar contratos milionários com a Petrobras por meio da Labogen Química.

O doleiro seria o verdadeiro controlador da empresa que, em dezembro, assinou contrato de R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde para fornecimento de medicamento. O negócio foi amparado na Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), mecanismo adotado pela Pasta em abril de 2012.

Youssef foi um dos principais doleiros do Caso Banestado. Naquela investigação, foi revelado que ele controlava diversas contas bancárias no Brasil em nome de ‘laranjas’. Uma conta era em nome da empresa Proserv Assessoria Empresarial S/C Ltda, em cujo quadro social figuravam subordinados do doleiro. Nessa conta, Youssef depositou R$ 172,96 milhões.

Ao analisar documento na sede da Labogen intitulado "projetos em desenvolvimento", a PF destacou em relatório. "Observa-se que o foco da Labogen é a Petrobrás, que já havia sido citadas em conversas telefônicas monitoradas. O documento da PF faz um alerta. "Pode-se estar diante, portanto, de mais uma ferramenta para sangria dos cofres públicos, uma vez que os Relatórios de Inteligência Financeira indicam claramente a atuação da empresa Labogen para objetivos bem distintos de seu objeto social."

A PF incluiu Paulo Roberto em um dossiê com dados pessoais da organização criminosa que se dedicava à lavagem de dinheiro. Em um trecho do documento, a PF anexou foto do executivo e o ligou a outros 11 investigados. Ao pedir autorização para compartilhar os procedimentos envolvendo os alvos da Lava Jato com a Receita, Banco Central, Controladoria Geral da União e Tribunal de Contas da União, a PF assinalou: "a organização criminosa ora investigada demonstrou de forma clara sua forte atuação."

Injusta

A defesa do ex-diretor da Petrobras decidiu entrar com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, no Rio Grande do Sul. Segundo o advogado Fernando Fernandes, do escritório Fernando Fernandes Advogados, que defende o ex-diretor da estatal, ele recebeu a Land Rover como remuneração porque Youssef não efetuou o pagamento pelos serviços prestados por Paulo Roberto. "A prisão é injusta", declarou o advogado Fernando Fernandes.
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