'Lava Jato' apura se advogado atuou para ocultar imóvel

Estadão Conteúdo
06/03/2016 às 09:21.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:41
 (ALE VIANNA/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO)

(ALE VIANNA/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO)

A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga as relações imobiliárias entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu compadre, o advogado Roberto Teixeira. A empresa Mito Participações - registrada em nome da família de Teixeira - é um dos alvos dessa frente de apuração, que busca identificar o verdadeiro proprietário do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), usado pelo ex-presidente. A atuação de Teixeira na aquisição da propriedade também é investigada.

A firma foi citada na Operação Aletheia, 24.ª fase da Lava Jato que resultou na condução coercitiva de Lula na sexta-feira.

A Mito Participações é uma empresa aberta em 1980 por Teixeira que tem propriedades rurais e urbanas e também é usada para pagamentos de despesas da família. Alvo de ações de cobrança na Justiça paulista, a empresa tem sede no andar de baixo de onde funciona o escritório Teixeira, Martins & Advogados, do compadre e seu genro Cristiano Zanin Martins - defensor da família de Lula.

Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, foi neste endereço que, em 2010, foi oficializada a compra do sítio Santa Bárbara, em nome de dois sócios - Jonas Suassuna e Fernando Bittar - do filho mais velho de Lula, Fábio Luís, o Lulinha. Fernando Bittar é filho do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar (PT), amigo de Lula.

A atuação de Teixeira no negócio foi destacada pela força-tarefa da Lava Jato. "O fato de Roberto Teixeira ter participado da aquisição do sítio, tendo sido inclusive lavradas as escrituras das compras em seu escritório, somado à circunstância de Teixeira ser bastante próximo de Lula e de sua família, e não de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, formais adquirentes do sítio, é mais um sinal de que esses ‘amigos da família’ serviram apenas para ocultar o fato de que foi em favor de Lula que o sítio foi adquirido", dizem os investigadores no pedido de buscas da operação de sexta-feira.

A propriedade rural é o foco da força-tarefa em inquérito aberto no início do mês. Além da suspeita sobre os donos efetivos, a reforma e a instalação de uma antena de telefonia celular da Oi, ambas em 2011, ao lado da área estão sob apuração. A força-tarefa mira em pelo menos duas empreiteiras alvo da Lava Jato - OAS e Odebrecht - que podem ter custeado obras no sítio, em 2011, como compensação por contratos na estatal.

Compadrio

Um dos imóveis em nome da Mito é o apartamento onde mora o filho mais novo de Lula, Luís Cláudio, no bairro dos Jardins, em São Paulo. O imóvel é avaliado em mais de R$ 1 milhão. Luís Cláudio é afilhado de Teixeira e mora no imóvel sem pagar aluguel.

Luís Cláudio foi batizado por Teixeira e sua mulher, em Monte Alegre do Sul (SP), onde a família do advogado tem dez áreas registradas no cartório. Ao menos cinco delas compõem os sítios Valeska e Ilh’arissa, única propriedade onde Teixeira passa os fins de semana e que era frequentada por Lula, antes de assumir a Presidência, em 2003.

Dessas terras em Monte Alegre da família Teixeira, a Mito aparece como dona de duas delas: os sítios Pindura Gaiola I e Pindura Gaiola III, disponíveis para locação e venda. A Mito, segundo cadastro, é especializada em incorporação de imóveis. Em Monte Alegre, as despesas da família Teixeira, como combustível e mercado, são faturadas em nome da firma. "Aqui tudo sai em nome de uma empresa chamada Mito", diz um funcionário do comércio local que não quis se identificar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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