(Reprodução/Record Minas)
A pedido do Ministério Público, será aberto nesta semana um novo inquérito para investigar crimes financeiros que teriam sido cometidos pelo dono do Novojornal, Marco Aurélio Flores Carone. Preso desde 20 de janeiro, o empresário já responde, entre outros crimes, por formação de quadrilha, falsificação de documentos e fraude processual. Agora, o foco do trabalho é descobrir a origem do dinheiro que bancava o funcionamento do portal de notícias, cerca de R$ 1 milhão por ano.
“Vamos responder a este e outros questionamentos a partir da análise dos documentos apreendidos, referentes aos últimos cinco anos da empresa. Ainda no mês que vem, também já devemos ter acesso ao sigilo bancário do Carone e de outros suspeitos que forem aparecendo ao longo da investigação”, afirma o promotor André Luis Garcia.
O caso vem gerando polêmica e já motivou uma reunião, na semana passada, de integrantes do bloco parlamentar Minas Sem Censura (MSC) e da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com o procurador-geral do Ministério Público de Minas, Carlos André Mariani Bittencourt.
“Não estamos discutindo a competência do promotor, mas muita coisa está estranha neste processo. A mudança na linha de investigação e as versões opinativas nos relatórios devem ser analisadas”, disse o presidente da Comissão, William Santos.
Santos atuou por cerca de três anos como defensor do lobista Nilton Monteiro, apontado pelo MP como especialista em falsificação de documentos. Entre eles, a Lista de Furnas, com nomes de políticos mineiros que teriam recebido recursos da empresa para a campanha de 2002.
Santos teve o nome citado em uma planilha em que constam pessoas que teriam sido beneficiadas em outros golpes aplicados pelo lobista.
“A única coisa que recebi neste tempo foi o percentual de uma ação que ele ganhou na Justiça contra alguns deputados. Algo em torno de R$ 10 mil. Mesmo sem os honorários, mantive o trabalho por causa de um contrato que havia sido firmado”, explica Santos.
O defensor não trabalhou para Carone, mas foi procurado pelo empresário. “Ele queria informações sobre processos que investigavam o irmão do promotor André Luis. Me recusei a passar”.
Força-tarefa para derrubar promotor
Nos bastidores do caso, especula-se que uma força-tarefa teria sido montada para tentar afastar o promotor da investigação. “Não fui informado de nenhum pedido oficial neste sentido. Todo o processo está muito bem embasado e a folha de antecedentes criminais do suspeito mostra ligações com outras atividades ilícitas”, alega o promotor André Luis Garcia.
O representante do MP acusa Marco Aurélio Carone de integrar uma quadrilha comandada pelo lobista Nilton Monteiro, que também está preso. “O Nilton usava os serviços do Carone para divulgar as documentações falsas que produzia. Ainda não sabemos se havia troca financeira, mas o novo inquérito vai esclarecer essa questão”, aposta o promotor.
Chegou a ser ventilada a possibilidade de um acordo entre a promotoria e o empresário, por meio de uma delação premiada. Caso apontasse os nomes de quem estaria injetando dinheiro na empresa, Carone acabaria beneficiado. Hipótese refutada pelo representante do Ministério Público. “Isso nunca existiu e não há nenhum interesse de nossa parte nesse tipo de medida, já que o acusado não tem credibilidade para tal”, alega Garcia.
Documentos
O Novojornal, veiculado apenas na internet, publicava denúncias constantes contra políticos mineiros. Computadores e documentos apreendidos na sede da empresa, que funciona no bairro Cruzeiro, região Centro-Sul da capital, já estão na 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, onde corre o processo. Ainda não há data prevista para o início da oitiva das testemunhas.