No debate sobre impeachment, recesso causa divisão entre oposicionistas

Erich Decat, Isabela Bonfim e Adriano Ceolin
04/12/2015 às 07:54.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:12

Líderes da oposição divergiram nesta quinta-feira, 3, sobre a melhor estratégia a ser adotada para alcançar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o líder tucano no Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), querem reduzir o ritmo de tramitação do processo de impedimento mantendo o recesso parlamentar, previsto para se iniciar em 22 deste mês. Outros oposicionistas, porém, defendem acelerar o processo.

Nos cálculos do senador mineiro, a situação do governo deverá se agravar nos próximos meses com uma piora no quadro econômico refletida, principalmente, nos crescentes índices de desemprego da população. "Talvez, o recesso seja um momento para os parlamentares se encontrarem com as suas bases, com aqueles que aqui representam, e colherem de forma mais direta um sentimento que é amplo na sociedade brasileira, de que a presidente vem perdendo as condições objetivas de governar o País", afirmou Aécio. "Dilma mente ao dizer que não aceita barganha em troca de votos."

Cunha Lima traçou um paralelo com o processo de impedimento do ex-presidente de Fernando Collor. "O impeachment do Collor nasceu na rua e veio para o Congresso Nacional. Agora, o pedido nasce no Congresso e tem que ir para a rua", afirmou o senador da Paraíba.

'Celeridade'

Numa linha oposta a Aécio e Cássio Cunha Lima, o senador tucano José Serra (SP) prefere que o Congresso não pare seus trabalhos. "Agora é a oportunidade de fazer o processo. Tem que se fazer com a maior celeridade. A meu ver, o Congresso não deve entrar em recesso, deve ser convocado. Essa não é uma questão para ser empurrada com a barriga", afirmou Serra.

Essa é a mesma avaliação do líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO). "Qual é o exemplo que você dá para o País? Se você luta por isso, acolhe e instala a comissão e, quando chegar o dia do recesso, encerra e vamos pensar só em fevereiro? Não sei como explicar para o cidadão brasileiro que nós vamos entrar de férias e voltar só no dia 2", disse.

Com a esperança de impulsionar o impeachment por meio mobilizações nas ruas, aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendem o recesso parlamentar durante as festas de fim de ano e férias escolares em janeiro. A decisão caberá à Camara e ao Senado, que terão que aprovar por maioria absoluta.

O objetivo é evitar uma tramitação rápida do processo na Câmara, na contramão do que quer o Palácio do Planalto. A equipe de coordenação política aposta que, neste momento, tem votos para barrar o afastamento da presidente Dilma. Em uma reunião na manhã ontem, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) defendeu que não haja recesso.

Braço direito de Cunha nas negociações em favor do impeachment, o líder do PSC, André Moura (PSC-SE), disse a interlocutores que "é melhor deixar o impeachment para 2016". Os aliados do presidente da Câmara reconhecem que precisam arregimentar mais votos contra Dilma.

O deputado Lúcio Vieira Lima (BA) é outro peemedebista que defende a realização do recesso como estratégia para impulsionar o impeachment após as férias escolares. "Quando a população começar a ir para rua até o Picciani subirá na tribuna para pedir a saída de Dilma", disse, em referência ao líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), que se aproximou do Palácio do Planalto e tem se manifestado contra o impeachment da presidente.

Picciani exerce forte influência na bancada, pois conseguiu negociar com o governo duas cadeiras para deputados na Esplanada dos Ministérios: Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia).

"A bancada está rachada e ainda precisamos construir uma forma de convivência entre quem quer o impeachment e quem não quer", disse o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que é a favor do afastamento da presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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