(Flávio Tavares)
Próximo de completar 83 anos, Ronan Tito, ex-político mineiro, conviveu de perto com Tancredo Neves, morto no dia 21 de abril de 1985, antes de tomar posse como presidente eleito por voto indireto, num processo de transição para a democracia. Com memória vivaz, Tito lembra-se com riqueza de detalhes de casos e diálogos do amigo Tancredo e de outros companheiros que construíram um capítulo importante da história do país, como Ulisses Guimarães e Teotônio Vilela. Ronan Tito é o entrevistado da Página 2 desta segunda-feira (21). Sobre o ex-governador mineiro, Tito recorda: “Tancredo sabia que o Brasil não precisava de heróis ou mártires, carecia de políticos capazes de sepultar o regime autoritário sem abrir feridas que poderiam ser transformadas em fraturas impossíveis de curar. Era um homem culto, lia muito, os livros certos. Tinha uma formação intelectual fincada nos clássicos franceses. Eu conheci de perto o homem, a figura humana”. De acordo com Tito, Tancredo e Ulisses eram como irmãos. “Tentaram intrigá-los, mas isso nunca colou”, recorda o ex-senador, que ouviu de uma secretária do ex-governador: “Não fale do doutor Ulisses Guimarães perto do doutor Tancredo”. “Por quê?”, indagou. “Os dois são irmãos siameses”, respondeu a moça. Espectador “Nas Diretas Já, Tancredo Neves me ligava pedindo que estivesse às 7 horas da manhã no aeroporto. Eu era o maleiro dele, com muito orgulho. Tancredo me disse uma vez: ‘ô, moço, política é para quem tem mais de 18 anos, de política.’ De política, ele sabia tudo”, conta Tito. Aposentado, Tito é hoje um espectador das transformações do país e da política. “Os partidos transformaram a política num grande balcão de negócios. A reforma política é uma necessidade. Nenhum partido sério, enraizado na sociedade, precisa temê-la”. Político da velha guarda, diz que não sente saudades da vida pública. “De vez em quando vou ao Senado, para ver amigos e pegar livros na biblioteca da Casa”.