Os peruanos vão às ruas neste domingo para escolher entre dois candidatos conservadores em uma acirrada disputa eleitoral. O escolhido irá governar até 2021. Keiko Fujimori, filha de um ex-presidente controverso, de raízes japonesas, presos por assassinato e corrupção, e Pedro Pablo Kuczynski, um ex-banqueiro de Wall Street que passou grande parte de sua vida no exterior, concorrem ao cargo. Uma pesquisa realizada no sábado pela GFK mostrou que Kuczynski tem 51% das intenções de votos, enquanto Fujimori tem 49%. Embora a pesquisa tenham uma margem de erro, de mais ou menos 1,6 pontos percentuais e o
resultado ainda seja um empate estatístico, mostra a recuperação Kuczynski, que perdeu há uma semana contra a rival em quase 4 pontos. Fujimori venceu por quase 20 pontos no primeiro turno.
Kuczynski, de 77 anos, apoiou Fujimori, 41, no segundo turno das eleições de 2011 contra o então candidato de esquerda, o agora presidente, Ollanta Humala, mas nos últimos dias o economista abandonou sua parcimônia habitual e atacou Fujimori ligando-a a corrupção. "O narcoestado vai matar a todos nós (...) precisamos de um governo limpo de cima abaixo", disse ele durante o encerramento de sua campanha em uma área de classe média em Lima. Ele acrescentou que irá combater o narcotráfico e "as conexões duvidosas dessa gente política". A referência não era só a ligação do pai da sua rival com a corrupção e os esquadrões da morte, que foram todos condenados a 25 anos de prisão, mas também uma tentativa de chamar a atenção para os escândalos do partido de Fujimori, incluindo uma reportagem que aponta o grande doador de sua campanha e secretário-geral, Joaquin Ramirez, como um dos investigados do DEA (o departamento antidrogas dos Estados Unidos).
O companheiro de chapa de Fujimori, José Chlimper, também está no olho do furacão depois de entregar a uma emissora de televisão local um áudio adulterado para beneficiar Ramirez. O Peru é o maior produtor mundial de cocaína. "Se Fujimori ganhar, a grande questão é se ela será capaz de controlar seu partido", disse Eduardo Dargent, cientista político da Universidade Católica do Peru. PPK, como é conhecido Kuczynski no Peru, também se beneficiou do apoio no último minuto do ex-candidato esquerdista Veronika Mendoza, que participou nesta semana, em uma demonstração com 30.000 pessoas contra Keiko Fujimori, a maior desde o final turbulento governo de seu pai há 16 anos.
Fujimori tentou conter o avanço do rival, inclusive assinando um compromisso de não usar seu poder político potencial para libertar seu pai. "A candidata sou eu e não Alberto Fujimori", afirma ela com frequência. Ao mesmo tempo, ela prometeu retomar o estilo de punhos de ferro de seu pai para parar o crime, a maior preocupação dos eleitores. Fujimori também buscou rotular Kuczysnki - filho de um médico polonês de origem judaica e que passou décadas trabalhando fora do Peru - como parte da elite branca, que tradicionalmente não atenderia os interesses dos pobres.
Independentemente de quem vencer, Keiko Fujimori já reformulou a paisagem política do país. Em Abril, seu partido ganhou Força Popular ganhou 73 das 130 cadeiras do Congresso, tornando-se o mais poderoso poder legislativo dos últimos 16 anos. Se ela ganhar, seu poder será maior do que a de cada um dos presidentes que governaram o Peru desde 2000, quando seu pai fugiu do país e pediu asilo ao Japão, após escândalos de corrupção que terminaram o seu mandato, que teve início em 1990. Se perder, terá uma tremenda capacidade de negociar com a sua disciplinada bancada e liderar um grupo poderoso, capaz de alcançar a renúncia de ministros. Fonte: Associated Press.
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