O delegado federal Maurício Moscardi Grillo afirmou nesta sexta-feira, 17, que parte do dinheiro arrecadado pelo esquema de corrupção envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura e os maiores frigoríficos do país, descoberto pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, abastecia o PMDB e o PP. "Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Já foram citados ao longo das investigações dois partidos: o PP e o PMDB", afirmou.
Mais de mil agentes da PF cumprem desde as primeiras horas desta sexta-feira (17) 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal. De acordo com a PF, os fiscais se utilizavam dos cargos para, mediante propinas, facilitar a produção de alimentos adulterados por meio de emissão de certificados sanitários sem que a verificação da qualidade do produto fosse feita.
Em Minas, uma funcionária da Divisão de Defesa Agropecuária foi alvo de um mandado de condução coercitiva e prestou depoimento à Polícia Federal nesta manhã. Os policiais estiveram na sede da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no bairro Cidade Jardim, e também em um apartamento no bairro Sion. ambos na região Centro Sul de BH. Dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos.
Procurada, a superintendência informou que todas as informações sobre os mandados judiciais serão passadas pelo gabinete do ministro Blairo Borges Maggi, responsável pela pasta em Brasília. A reportagem tentou contato com o Ministério da Agricultura, mas não teve resposta até o momento.
Frigoríficos
Executivos do frigorífico JBS e da empresa BRF Brasil foram presos.Segundo a PF, a operação detectou em quase dois anos de investigação que as Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás "atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público".
"Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva", diz PF.
A JBS divulgou nota sobre o assunto: "Em relação a operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação", diz o texto. "A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e à comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas". s partidos citados pelo delegado Maurício Moscardi Grillo ainda não se manifestaram.
Sindicato de fiscais divulga apoio à operação
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) informou na manhã desta sexta-feira, 17, por meio de nota, que apoia a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (PF). A entidade reforçou que a denúncia partiu dela própria e que consta de processo administrativo que tramita no Ministério da Agricultura desde 2010. "O Anffa Sindical entende que a operação está alinhada aos objetivos de auditores fiscais federais agropecuários no sentido de aprimorar a inspeção de produtos de origem animal no Brasil", diz o texto.
No comunicado, o Anffa Sindical afirmou ainda "que vai continuar trabalhando para que cargos de chefia sejam ocupados por servidores públicos selecionados por meio de processos meritocráticos". "Ou seja, por competência técnica, contribuindo para o fim de influências políticas."
*Com agências