(Luiz Costa/Hoje em Dia)
A Polícia Federal investiga a relação entre a antiga empresa de consultoria do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram). Segundo reportagem do jornal O Globo, a OPR consultoria Imobiliária recebeu R$ 1,1 milhão do sindicato. A suspeita é a de que trata-se de caixa dois para a campanha do petista.
A OPR, que tinha o nome de P-21 Consultoria até 2012, pertencia a Pimentel e ao assessor dele Otílio Prado. A empresa foi transferida para o filho de Prado, Alexandre Allan Prado, no fim de 2014, após a eleição de Fernando Pimentel. Atualmente, Prado é assessor especial da Secretaria de Estado da Fazenda e recebe R$ 23 mil.
Ao jornal O Globo, várias associadas da OPR Consultoria negaram ter tido os bens avaliados. O patrimônio do Sintram, que é de R$ 2,5 milhões, segundo balanço oficial, também não justificaria o pagamento de R$ 1,1 milhão. Em julho, o Hoje em Dia revelou, com exclusividade, que Otílio montou uma rede de empresas, abertas em nome de familiares, para atuarem na campanha de Pimentel no ano passado.
Doações proibidas
Fundado em 2001, o Sintram reúne as empresas de transporte de passageiros dos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Por lei, concessionárias de serviços públicos não podem fazer doações eleitorais.
A empresa contratada pelo sindicato para realizar o balanço também não tem autorização para executar o serviço, já que não está inscrita no Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG). De acordo com o órgão, a “atribuição de valor mercadológico de um bem” deve ser realizada por inscritas e o exercício ilegal da profissão enseja “ação penal”.
Os pagamentos à OPR teriam sido feitos em quatro parcelas, pagas entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano. Ao Globo, o diretor financeiro do Sintram, Ermelindo da Rocha Faria Júnior, disse que a "crise" foi um dos motivos do pagamento milionário à consultoria de Alexandre Prado. Ele assegurou, ainda, que todas as associadas teriam sido contactadas para receberem visitas e que o trabalho buscaria "garantir o equilíbrio econômico-financeiro das empresas".
Visitas negadas
Proprietários e funcionários de associadas ao Sintram negaram ao Globo terem sido visitadas pela OPR. Em nota, o Sintram afirmou que a empresa de consultoria teria produzido “aproximadamente 50 laudos”. Se considerado o valor pago, é como se cada laudo custasse, em média, R$ 22 mil.
Proprietário da empresa, Alexandre Prado não quis dar entrevista nem respondeu às perguntas da reportagem de O Globo. Mas informou, por meio do advogado, que “dados de interesse da Justiça serão respondidos a tempo e modo à Polícia Federal e ao Judiciário”.
O governador divulgou nota em que afirma “que nunca participou da OPR” e que não tinha conhecimento dos contratos firmados e trabalhos realizados. Pimentel não respondeu sobre a suspeita de que empresas ligadas a Otílio Prado tenham sido usadas para financiar a campanha eleitoral.
Negócios em família
Conforme o Hoje em Dia mostrou, filho, sobrinha e outros parentes de Otílio são donos de ao menos três empresas que receberam praticamente R$ 1,8 milhão da campanha de Pimentel
Parte do pagamento feito pelo PT às empresas recebeu um pente fino da equipe técnica do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), que reprovou em junho as contas petistas das eleições.
As firmas contratadas durante a campanha de 2014 foram BBC Consultoria e Negócios, QA Consulting e AAP Instalação e Manutenção. Mesmo com objetos sociais distintos, as empresas dividem dois endereços na região Noroeste de Belo Horizonte. Há, além das citadas, até uma loja de roupas femininas compartilhando sede.
Ao menos cinco empresas de parentes de Otílio funcionam, conforme registros na Junta Comercial, em apenas dois endereços na região Noroeste de BH. Três são responsáveis por receber cerca de R$ 1,8 milhão da campanha petista nas eleições de 2014. Parte desses pagamentos passou por auditoria do TRE-MG.
Em um dos locais, no bairro Carlos Prates, funcionam a QAConsulting, BBC e outra empresa registrada no nome de Alexandre Allan Prado e um cunhado de Otílio. Mesmo dividindo o endereço, as firmas possuem objetos sociais distintos.
A BBC, conforme o Hoje em Dia já revelou, foi criada pouco antes do período eleitoral, em abril de 2014, no nome da sobrinha Adriana Teixeira e sobrinha neta Samantha Teixeira Gomes de Prado.
A empresa chamava-se BBC Consultoria e Negócios e tinha como objeto social, dentre outros, prestar consultoria nos ramos de administração e organizar palestras e seminários sobre assuntos de interesse empresarial. Recebeu durante as eleições R$ 822 mil para prestar serviços de gestão de eventos políticos, incluindo logística de transporte, estadia e alimentação de Pimentel e da então candidata Dilma Rousseff.
Alteração de nome
Após o primeiro turno, o nome foi modificado para BBC Locação e Negócios e passou a ter como atividade econômica principal “locação de veículos, carros e caminhões e ônibus”.
A QAConsulting, que recebeu R$ 20 mil do PT durante as eleições, foi criada em 2002 pelos filhos de Otílio, Alexandre e Gustavo Daniel Prado. No início deste ano, Gustavo saiu do quadro societário, que passou a ter como sócio majoritário o cunhado de Otílio, Mauricio Gomes.
Já no bairro Padre Eustáquio está registrada a AAP, cujo nome fantasia é QACabling, no mesmo endereço onde funciona uma loja de roupas femininas da esposa de Alexandre.
A firma foi criada pelo próprio Alexandre em 2002 com o objeto social “serviços de instalação, manutenção elétrica, bem como cabeamento estruturado” e instalação de redes de computador. Em 2013, o filho de Otílio saiu da sociedade, mas a empresa continuou registrada no mesmo local. Um ano depois, recebeu R$ 950 mil da campanha petista em Minas.
Na época da publicação, o Hoje em Dia procurou Otílio e todas as empresas citadas. Não obteve retorno até o fechamento. Atualmente, Otílio é assessor especial da Fazenda e integrantes de três conselhos. O salário líquido é de cerca R$ 18 mil. O filho dele, Gustavo, é diretor de Negócios da Prodemge.