(Lucas Prates e Frederico Haikal)
Eles têm sobrenomes parecidos, o que pode até confundir o eleitor. Ambos foram prefeitos de Belo Horizonte, construíram trajetórias políticas semelhantes e, na avaliação de especialistas, possuem semelhança até nos estilos de gestão. Mas, nestas eleições, Fernando Pimentel (PT) e Pimenta da Veiga (PSDB) tentarão se distanciar ao máximo um do outro, ressaltando as diferenças e adotando discursos e estratégias para marcar campos opostos.
Apesar de Aécio Neves (PSDB), principal nome do palanque de Pimenta, ter sido aliado de Fernando Pimentel na construção do projeto para Belo Horizonte concretizado na eleição de Márcio Lacerda em 2008, agora PT e PSDB voltam a polarizar a disputa no Estado, espelhando o cenário nacional, na análise do cientista político Malco Braga Camargos. “A identidade partidária volta a fazer diferença em Minas Gerais”, resume.
Isso impacta diretamente o discurso adotado pelos dois mais expressivos candidatos ao Palácio Tiradentes. “A principal divergência será em relação ao governo Federal. Enquanto Pimentel vai fazer uma defesa das políticas sociais implementadas pelo Planalto, Pimenta vai bater na questão econômica e nas falhas que considera que a atual gestão comete”, diz Malco.
Aquecimento
Ainda estamos na chamada pré-campanha, uma espécie de aquecimento para a briga, mas o clima não tem nada de pré. Pimenta e Pimentel não estão dispostos a perder tempo. O tucano já visitou ao menos 24 cidades, contemplando diferentes regiões do estado. Pimentel também mantém a caravana por Minas, mas até agora percorreu 5 municípios do interior. Na última segunda-feira, a presidente Dilma esteve em Belo Horizonte, em uma reunião da qual Pimentel participou. Nos bastidores, especula-se que ela tenha alertado o pré-candidato petista sobre a lentidão na conquista de territórios.
Já o deputado federal Miguel Corrêa (PT) justifica esse ritmo diferente dos dois candidatos pelo fato de Pimenta precisar se mostrar mais ao eleitorado, já que ficou por muitos anos afastado da política.
Pimenta foi eleito prefeito da capital em 1989. A lembrança de Pimentel está mais fresca na memória do mineiro. Ele foi prefeito no período entre 2005 e 2008. Esse hiato dá uma vantagem inicial para o petista, mas, segundo Malco Braga, isso tende a se diluir ao longo da campanha. “O eleitor vai conhecer melhor o Pimenta durante a campanha. A partir do momento que o Estado colocar sua máquina a favor do seu candidato, ele tende a crescer”, analisa. O PSDB está no governo de Minas há 11 anos.
Aliados dizem que a estratégia do PSDB será a de multiplicar presença das suas principais lideranças pelo estado. Três estruturas independentes serão montadas em Minas para as campanhas de Aécio Neves, Pimenta da Veiga e Anastasia, que deve mesmo ser confirmado para o Senado. A ideia é que essas lideranças cumpram agendas diferenciadas. “Enquanto Anastasia estiver no Norte de Minas, Pimenta estará no Sul e Diniz Pinheiro (PP), presidente da Assembleia – que deve ser confirmado vice na chapa de Pimenta, em outro local”, exemplificou. Diniz Pinheiro é advogado e está no seu quinto mandato na ALMG.
Partidos discordam sobre apoios fechados
A campanha do ex-ministro Pimenta da Veiga ao governo de Minas conta, segundo fonte do Palácio Tiradentes, com apoio da maioria dos deputados. O PSDB também já anunciou que teria fechado acordo com cerca de 20 partidos, que comporiam coligações em torno das candidaturas majoritárias e proporcionais.
O presidente do PSDB mineiro, deputado federal Marcus Pestana, adiantou que os colegas Narcio Rodrigues (PSDB) e Alexandre Silveira (PSD), além de Diniz Pinheiro (PP), vão centralizar a coordenação da campanha de Pimenta da Veiga. No entanto, ele admite que esse é um momento de articulações, em que o eleitor ainda não é parte ativa do jogo. “Estamos num momento de mobilização, mas a população só é envolvida efetivamente no processo após as convenções e, particularmente, este ano depois da Copa do Mundo. Agora é um momento de mobilizar militantes, dirigentes políticos municipais, vereadores, deputados e formadores de opinião”, revelou.
“Não é a toa que o PSDB coloca pela segunda vez um deputado com boa articulação na Assembleia Legislativa (Diniz Pinheiro – PP) para ser o provável vice na chapa majoritária. Os deputados terão o papel de fazer esta articulação com o interior de Minas”, avalia o especialista em marketing político Daniel Machado.
“O segredo é importante”. Essa máxima faz parte da estratégia do PT, segundo o deputado federal Miguel Corrêa, que é um dos coordenadores da pré-campanha de Fernando Pimentel, junto com o presidente da legenda, Odair Cunha.
Corrêa questiona ainda os apoios partidários declarados pelo PSDB. “Acho temerário fazer uma afirmação dessa, porque as convenções partidárias não aconteceram ainda. Todas as negociações estão em curso. Eu prefiro construir melhor as parcerias pra depois anunciar. O que posso adiantar é que teremos uma ampla aliança, com a possibilidade de ser maior que a do PSDB”.
Agenda intensa de viagens para ouvir demandas
O que deverá ter mais peso para o eleitor: o partido, o passado político, a trajetória de cada candidato, ambos já testados como administradores públicos?
Daniel Machado avalia que “o eleitor tem apresentado cada vez mais necessidade de interação, o que exige dos candidatos um melhor diálogo”.
Embora ainda pré-candidatos, Pimenta e Pimentel já arregaçaram as mangas e estão em plena batalha pela conquista de votos, ainda que estes votos não sejam, neste momento, os do eleitor, propriamente dito.
Apesar de Pimenta já estar cumprindo uma agenda intensa de encontros com lideranças pelo interior do Estado, os trabalhos da pré-campanha devem ser mais intensificados após a Semana Santa. O desafio, segundo fontes do PSDB, será percorrer todas as regiões mineiras, avaliando as diferenças regionais de um estado que é considerado uma miniatura do país, com suas peculiaridades. As viagens servirão para elaboração de um plano de governo que vai contemplar demandas nas áreas da saúde, educação, segurança pública, emprego e mobilidade urbana.
Miguel Corrêa provoca: “diferentemente de Pimenta, Pimentel já é uma liderança muito conhecida em Minas”. Mas o petista também está viajando pelo interior nas chamadas Caravanas da Participação. O objetivo é o mesmo, colher sugestões para a construção do programa de governo. O presidente do PT em Minas disse que as caravanas pelo Estado foram intensificadas a partir do fim da semana passada. Cunha comenta que o PT quer qualificar a presença no Estado, fazendo reuniões sistemáticas e agregando partidos aliados.
Aécio Neves e Lula: agregadores de votos
Na avaliação do especialista em marketing político Daniel Machado, a figura do senador Aécio Neves será muito importante para Pimenta da Veiga na corrida eleitoral no estado. “À medida que o pré candidato a presidência da República crescer nas pesquisas, o Pimenta cresce junto no estado”, prevê.
Já Pimentel, segundo o especialista, “tem condições de caminhar sozinho, principalmente se acertar bem o discurso, pegando pontos fracos do atual governo estadual, como a educação”.
Para o especialista, nesse sentido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria uma figura mais interessante para alavancar Pimentel.
Cabo eleitoral
Pesquisa recente divulgada pelo Datafolha mostra que 37% do eleitorado votaria em candidato indicado pelo ex-presidente Lula. O índice dos que talvez votariam num candidato sugerido pelo petista ficou em 23%. Em contrapartida, 35% dos entrevistados disseram que não dariam seu voto a um nome apresentado pelo ex-presidente.
Segundo o presidente do PT, Odair Cunha, Pimentel deve continuar acompanhando a presidente Dilma Rousseff em todas as suas visitas ao Estado, que segundo sua assessoria informou ao Hoje em Dia, serão mensais.