(Flávio Tavares)
Uma tragédia anunciada duas vezes, ocorrida por uma falha grave no projeto estrutural, provocada muito provavelmente para atender ao cronograma das obras da Copa do Mundo. É esse o conjunto de motivos apontados pela Polícia Civil de Minas para explicar a queda do viaduto Batalha dos Guararapes, que resultou em duas mortes e outras 23 pessoas feridas em julho de 2014.
Dez meses depois do desastre, que teve repercussão mundial, o delegado Hugo e Silva apresentou o resultado da investigação com o indiciamento de 19 pessoas. Entre elas, o ex-secretário de Obras e ex-presidente da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), José Lauro Nogueira Terror, além de engenheiros, arquitetos, encarregados e projetistas responsáveis pelo empreendimento.
O grupo foi indiciado por homicídio com dolo eventual, 23 tentativas de homicídios e crime de desabamento. O prefeito Marcio Lacerda (PSB) foi poupado do inquérito policial por ausência de provas. Lacerda, no entanto, pode ser responsabilizado futuramente pelo Ministério Público Estadual (MPE), que tem uma investigação paralela na área cível.
Sequência de omissões
De acordo com laudo técnico, uma falha no projeto estrutural da fundação do viaduto, erguido com menos quantidade de ferragens do que o necessário, foi a primeira e principal falha apontada pela investigação.
Mas existe outra. Além do erro de projeto, instantes antes da queda, caminhões equipados com guindastes foram utilizados para retirar as escoras de maneira forçada. Um outro indício de que a estrutura poderia desabar.
COLETIVA – Delegados Hugo e Silva, Wagner Pinto e Marco Paiva (Foto: Frederico Haikal/Hoje em Dia)
“Desde 2012 foram suscitados erros graves e nenhuma medida foi adotada. Eles tinham conhecimento e se omitiram. Era previsível que um erro no projeto resultaria na queda e mortes de pessoas. No caso das escoras, os próprios peões da obras alertaram os engenheiros responsáveis. Mas a resposta dada foi “toca a obra, toca a obra”, afirmou o delegado, durante entrevista coletiva.
Ainda segundo Hugo e Silva, a arquiteta e diretora de Projetos da Sudecap, Maria Cristina Novais Araújo, enviou e-mails ao ex-secretário José Lauro Terror e engenheiros do consórcio Cowan/Consol alertando sobre os problemas. “Considero o momento atual como o caos”, escreveu.
“Depois de muita análise pormenorizada de todos os projetos, constatamos que a causa técnica do desabamento foi um erro de cálculo do pilar de fundamento. Erros algébricos que resultaram no dimensionamento errado do aço. Essa quantidade inferior de aço levou o viaduto a ruir”, explicou Marco Paiva, diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Civil. O inquérito conclusivo será enviado para o MPE.
Prefeitura de BH promete firmeza e empreiteiras se defendem
Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte, Consol e Cowan se pronunciaram sobre o inquérito conclusivo da Polícia Civil de Minas, que indiciou 19 pessoas pela tragédia do viaduto Batalha dos Guararapes, na região da Pampulha. Duas pessoas morreram e 23 ficaram feridas.
A prefeitura alegou que vai agir com firmeza para cobrar punições dos responsáveis e ressarcimento dos prejuízos causados. “Para tanto, aguardará o pronunciamento do Ministério Público e a decisão da Justiça”, informou.
A Consol diz contestar a declaração da Cowan de que a causa do acidente tenha sido falha de concepção do projeto.
“A Consol é uma empresa tradicional, atuando há mais de 50 anos no setor de projeto e acompanhamento de obras em todo o território nacional. É autora do projeto, porém não acompanhou a execução das obras nem teve acesso a qualquer documento de controle”.
Ainda no comunicado, a Consol afirma que vem “disponibilizando desde o início toda a documentação do projeto às autoridades competentes e irá detalhar as divergências técnicas já verificadas quando convocada”.
Já a Cowan contestou a investigação policial. “A justificativa utilizada pelo delegado para indiciar engenheiros e empregados responsáveis pela execução da obra, de que estes sabiam dos erros de cálculo do projeto, é totalmente improcedente, inexistindo qualquer indício ou prova nos autos neste sentido, o que foi detalhadamente esclarecido durante as oitivas, que seguiram de forma clara e sempre coerente”.
A reportagem deixou recado para o ex-secretário de Obras José Lauro Nogueira Terror no celular dele, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
“No pano de fundo havia um interesse de agilizar as obras da Copa do Mundo” Hugo e Silva, delegado da Polícia Civil