(Flávio Tavares - Hoje em Dia)
A Assembleia Legislativa (ALMG) vai debater em audiência pública os entraves ambientais ao asfaltamento da MGC-262, entre Caeté e Barão de Cocais, na região Central do estado.
O serviço foi anunciada em janeiro de 2013 pelo então governador Antonio Anastasia. Porém, depende de aval do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para sair do papel, segundo informa o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), que contratou a obra por R$ 52,5 milhões. O Ibama-MG alega que já vistoriou a área e o que estaria atrasando a obra é a falta de um dado técnico que o DER-MG não informou ao órgão federal. “Se chegar, na próxima semana o Ibama emite a anuência. O processo está célere, foi dada prioridade a esse projeto, cujo licenciamento deve ser feito pelo governo estadual.
Segundo o Ibama, o pedido feito pela Secretaria de Meio Ambiente (Semad) para supressão de Mata Atlântica em 10 hectares às margens da via, só chegou ao órgão no final de janeiro deste ano.
Na audiência pública, representantes do Ministério Público Estadual, Ibama, DER e Semad, além dos prefeitos e vereadores de cidades da região, vão explicar as pendências em torno do trecho que corta uma faixa de terrenos onde há décadas predomina o cultivo de eucalipto e que dá acesso a propriedades rurais.
A reunião deve ocorrer em uma dessas cidades, onde a torcida pela obra teve o fôlego renovado depois do último feriadão. Duas mil pessoas aderiram ao abaixo assinado digital em que a União das Associações de Caeté (Unac) solicita o apoio da população para cobrar providências das autoridades.
Riscos
Incluída no programa Caminhos de Minas, o asfaltamento corre risco de ser adiado por causa da campanha eleitoral. O trecho é uma rota utilizada para fugir do tráfego pesado da BR-381. “Se a obra não for iniciada até maio próximo, terá de aguardar o fim do ano eleitoral. Se ficar para 2015, terá de ser feita nova licitação”, diz o presidente da Unac, Nuno Peixoto Abras. Segundo ele, a entidade reúne 103 associações civis.
O documento pede urgência à ALMG para esclarecer a situação da obra embargada, além de reunião com o governador Alberto Pinto Coelho (PP).
O ex-governador Antonio Anastasia (PSDB) tentou atender à reivindicação dos políticos locais, que haviam conseguido do então governador Aécio Neves, em setembro de 2008, a autorização para o DER-MG executar projetos rodoviários, que incluiam a pavimentação da MGC-262. A obra também foi prometida nas eleições de 2010. O prefeito de Caeté, Zezé Oliveira (PDT), diz que esse trecho é o único que falta para interligar por asfalto as 14 cidades do Circuito do Ouro, um roteiro turístico divulgado em todo o mundo pelo governo do estado.
Moradores reclamam de serviços parados por falta de licença
Sem o sinal verde das autoridades do meio ambiente, os piquetes de bambu à beira da estrada, pela segunda vez, já começaram a cair. O Hoje em Dia percorreu a estrada e ouviu de moradores das duas cidades a reclamação de que “o asfaltamento foi anunciado duas vezes, desde 2012, sem sair do papel”.
Pior, não receberam nenhuma explicação pelos sucessivos atrasos, pois a MGC-262 é crucial para a duplicação da BR-381, conhecida como a “rodovia da morte”, por onde trafegam 120 mil veículos por dia.
No povoado de Rancho Novo, em Caeté, o fazendeiro José Flaviano Fernandes, de 72 anos, diz que “os prefeitos discordam sobre o asfaltamento do trecho que liga as duas cidades”.
Fernandes cedeu um pequeno trecho de sua propriedade, para que a estrada asfaltada não passe diante do conjunto de casas do povoado. Também ajuda a obter a adesão de moradores ao abaixo assinado solicitando o começo da obra, para ser entregue ao governador.
Assim como fez Fernandes, o dono da fazenda Maria Machado, Ariovaldo, de 83 anos, dirigiu o seu fusquinha até as comunidades mais afastadas para pedir a assinatura de moradores do distrito rural de Penedia, ao qual pertence o povoado.
O comerciante João Rodrigues de Oliveira, de 35 anos, diz que moradores de Rancho Novo recolheram duas mil assinaturas em apoio ao asfaltamento da via no último feriadão, inclusive de motoristas que a utilizaram para fugir do engarrafamento na BR-381. Segundo ele, a obra trará desenvolvimento ao povoado. “Sem asfalto e sem saneamento, estamos de pés e mãos quebrados”.
Vilão
O trecho da estrada corta uma extensa área de plantação de eucalipto. “A estrada é importante para escoar a produção de madeira”, afirma Nuno Abras, da Unac. “O dano pior são as vidas ceifadas em acidentes na 381”, emenda o aposentado Dair Moreira.
“O prefeito de Caeté não está levantando a nossa bandeira”, lamenta Moreira, que reside há 58 anos no povoado e tornou-se um dos líderes do movimento pelo asfalto.
Ele reclama que não houve uma iniciativa do governo do estado para informar a população sobre os sucessivos adiamentos da obra. “Era pra ter começado em janeiro. Não estamos sabendo de nada”.