(Editoria de Arte)
O primeiro programa eleitoral gratuito na TV e no rádio, exibido nessa terça-feira (19), foi marcado pela personalização, com foco nas qualidades de cada um dos candidatos à Presidência, e pela repetição de estratégias de campanha usadas anteriormente pelo PT e pelo PSDB, como a relação com o povo e os louros de cada gestão à frente do Planalto. Além de prometerem mudanças, os presidenciáveis elegeram a economia como o tema mais relevante e tentaram capitalizar o legado do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). “A citação a Eduardo já era esperada, e pouparam a imagem da Marina Silva até mesmo por prudência. Para a Justiça Eleitoral, ela ainda não é candidata e a chapa não foi oficializada”, comenta o cientista político e professor da UFJF Paulo Roberto Figueira Leal. O anúncio deverá ser feito pelo PSB nacional nesta quarta-feira (20). A equipe de Dilma Rousseff (PT) optou por traçar um perfil “humanizado” da presidente e por vinculá-la ao seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foram usadas ainda imagens de contato físico de Dilma com o eleitor, como na disputa pelo Palácio do Planalto em 2010. “Ela (Dilma) dividiu seu programa entre as realizações de seu governo e as conquistas econômicas e sociais, com a preocupação de mostrar a rotina dela, falar no jingle do coração valente para mitigar a visão que têm dela de durona”, afirma o cientista político . No programa do senador Aécio Neves (PSDB), é feito o anúncio da chegada do “nome da mudança” à casa das pessoas. No lugar de suas realizações como ex-governador, apareceram críticas ao governo federal, segundo o especialista em marketing político Daniel Machado. Lula, no entanto, foi poupado. “Aécio e sua equipe sabem que, conforme indicado pelas pesquisas Datafolha, Lula ainda é o nome mais considerado pelo eleitorado. Se ele bater em Lula, vão comparar com o FHC, e os tucanos não querem essa comparação”, disse. “O senador fez questão de citar Minas Gerais pela preocupação em firmar a eleição estadual também”, acrescentou. Campos Para Machado, a novidade desse horário eleitoral se daria no programa de estreia de Eduardo Campos (PSB), que foi cancelado em virtude de sua morte. A peça está sendo veiculada nas redes sociais. Nela, o pessebista aparece conversando com eleitores e prometendo colocar as famílias Sarney e Calheiros no campo da oposição. “Campos fala de participação popular em uma roda de eleitores, conta dos formatos que ele quer para o Brasil e traz um novo jeito de se iniciar um debate e até o horário eleitoral”, afirma o especialista. Em vez disso, o PSB exibiu uma homenagem aos mortos na tragédia de Santos em 13 de junho, com imagens de Eduardo Campos cumprimentando o povo em campanhas anteriores. Não se bate de frente com a popularidade Fazer oposição a um governo ou governante bem avaliado pela população sempre traz desafios para um candidato e seus estrategistas. Por uma questão de bom senso, não se briga com a popularidade. Fazê-lo é quase a mesma coisa que atacar o afeto, os gostos pessoais do eleitor, e o resultado costuma ser desastroso. Nas disputas pela Presidência e pelo governo de Minas, PT e PSDB vivem esse dilema, em situações opostas. O senador Aécio Neves (PSDB), para explicitar divergências e fincar o marco oposicionista, focou os últimos quatro anos de gestão petista para ancorar suas críticas. Evita ataques à gestão de Lula (PT) e, claro, à pessoa do ex-presidente, ambas com índices altos de aprovação e parte da memória afetiva do eleitorado, conforme indicam as pesquisas. Ao tratar dos últimos quatro anos, Aécio mira a presidente Dilma Rousseff (PT), que é sua real adversária na corrida e tem uma gestão com menor aprovação. De quebra, tenta desvincular o criador _ Lula _ da criatura. Por fim, não a cita pelo nome, pois não interessa personalizar a disputa e enfrentar, depois, um debate centrado na figura de um e outro. Em Minas, o ex-ministro Fernando Pimentel (PT) vem adotando o mesmo roteiro. Ele tem que se posicionar como candidato de oposição, mas esbarra na popularidade do próprio Aécio Neves e de seu sucessor, Antonio Anastasia (PSDB). Seu adversário, ao contrário do caso de Aécio, não é um governante que possa ser isolado e combatido à parte. A estratégia até agora, então, tem sido criticar os 12 anos de governo do PSDB, sem tocar no nome dos governadores do partido. A abordagem trata gestor e gestão como coisas separadas. Preserva e isola o primeiro para centrar fogo apenas no governo, tratado quase como algo autônomo. Se a estratégia é boa, as pesquisas dirão.