Procuradora investiga pagamentos do Ministério do Trabalho ao PDT

Andreza Matais e Fábio Fabrini
19/09/2013 às 10:30.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:33

O Ministério Público Federal investigará a suspeita de que uma entidade financiada pelo Ministério do Trabalho pagava militantes do PDT de Santa Catarina por serviços prestados ao partido. Em depoimento ao Estado, um ex-dirigente da legenda afirmou que o esquema foi montado em 2008 pelo atual ministro da pasta, Manoel Dias (PDT-SC), na época presidente do diretório catarinense e secretário-geral da sigla.

A Procuradoria da República em Santa Catarina informou que as apurações sobre a suposta contratação de "fantasmas" serão feitas no âmbito de inquéritos que já apuram irregularidades em convênios da entidade, que correm sob sigilo.

Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) mostra que a Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Rio Tijucas e Itajaí Mirim (ADRVale) "contratou" 55 pessoas sem comprovar que elas, de fato, trabalharam em convênio de R$ 6,9 milhões com a pasta. Ao menos 17 são ou eram filiadas ao PDT-SC. A lista inclui André Tomé Igreja, nomeado por Manoel Dias para um cargo no ministério, e Roger Minotto, irmão do chefe de gabinete do ministro, Rodrigo Minotto.

Dinheiro vivo

Delator do suposto esquema, John Sievers Dias, que presidiu a Juventude do PDT em Santa Catarina em 2012 e ainda é filiado ao partido, recebeu pagamentos mensais, por meio de depósitos feitos na boca do caixa. Ao Estado, ele entregou seis comprovantes bancários que, segundo relata, foram feitos pela ADRVale por serviços que, na verdade, prestou à Universidade Leonel Brizola. Braço da sigla para a formação da militância, a instituição é mantida por fundação homônima, comandada por Manoel Dias.

Os valores, que variam de R$ 800 a R$ 1.335, foram depositados entre fevereiro e agosto de 2008 numa conta mantida por Sievers em agência do antigo Banco do Estado de Santa Catarina, mais tarde incorporado pelo Banco do Brasil.

Chefiada por dois ex-pedetistas, a ADRVale, hoje inativa, recebeu R$ 11,3 milhões do Ministério do Trabalho na gestão de Carlos Lupi (PDT-RJ), aliado político de Manoel Dias, para qualificação de trabalhadores. A CGU aponta diversas irregularidades nos convênios.
A ADRVale e Manoel Dias negam o esquema. Em nota, a Juventude do PDT desqualificou o relato de Sievers, classificando-o como "pessoa fragilizada". "A tática é desmoralizar.

Assistem a injustiças de camarote e acham tudo normal", rebateu ontem o delator.
Sievers disse que, além dele, outro pedetista, Fábio Machado, foi indicado por Manoel Dias para receber "salário" da ADRVale. Ontem, Machado falou por telefone, mas, questionado sobre o que fazia como auxiliar administrativo, disse não se lembrar. "Isso faz quatro anos. Tenho de me recordar."

E defendeu Manoel Dias: "Me sinto lisonjeado por conhecê-lo e não tive nenhuma decepção com ele". Tomé Igreja desligou o telefone quando o repórter se apresentou e não respondeu a e-mail enviado ontem. A assessoria do Trabalho também não respondeu a e-mail com questionamentos a Manoel Dias e seu chefe de gabinete. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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