PSDB e PT em lados opostos na disputa e nos projetos ideológicos

Aline Louise - Hoje em Dia
19/10/2014 às 07:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:40
 (Reprodução)

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Desde 1994 o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) polarizam a disputa nas eleições presidenciais no Brasil. De lá para cá, o PT contabiliza três vitórias, contra duas dos tucanos. No entanto, mais que um placar, a decisão entre um ou outro, feita pelo eleitor, representa a escolha de qual modelo de gestão se quer para o país.   Apesar de ambos, se consideradas nomenclaturas e origens, serem partidos de ideologia de esquerda, segundo especialistas ouvidos pelo Hoje em Dia, há diferenças fundamentais entre eles que os identifica como correntes diferentes.   “Apesar da retórica do PT ser socialista, ele é majoritariamente social-democrata”, afirma o cientista político e professor da UFJF, Paulo Roberto Figueira. Segundo ele, o modelo que o PT representa no poder é o da construção do bem-estar social, da defesa dos segmentos mais pobres, uma agenda característica da corrente de centro-esquerda europeia.   “E o PSDB, que nasceu anunciando-se como social-democrata, desde os anos 90, com os governos de FHC, tem implementado políticas liberais do ponto de vista econômico. O PSDB acabou sendo beneficiário do voto de centro-direita, não porque seu projeto inicial fosse esse, mas a polaridade com o PT acabou fazendo com que ele atraísse o voto mais conservador”, avalia Figueira.   O cientista político e professor da PUC Minas Gilberto Barros Damasceno também entende que PT e PSDB representam correntes ideológicas distintas. “Votar no PT é votar por uma maximização do Estado e uma maior intervenção na economia e na vida social. Já votar no PSDB é optar por um Estado menor, mais enxuto e menos intervencionista”.   Gilberto explica que o Estado é mais intervencionista quando “interfere nas regras de funcionamento do mercado”. Ele cita como exemplos na atual gestão petista a redução do IPI para os carros e a determinação de que 60% dos equipamentos adquiridos para construção das plataformas de petróleo da Petrobras devam ser produzidos no Brasil.   “Isso é um protecionismo que rompe com a lógica que dá preferência ao menor preço das empresas fornecedoras. Esse movimento, segundo o PT, é feito no sentido de proteger e fortalecer a indústria nacional, mas não é inteiramente verdade, porque em longo prazo pode não produzir os efeitos esperados”.   Já nos exemplos de gestão tucana, afirma Gilberto, a opção é por uma visão mais “clássica do mercado, onde o Estado se coloca mais como agente regulamentador do que um interventor direto”.   Diferenças no social   O enfoque que se dá às políticas sociais também marca a diferença entre os dois partidos, segundo o professor Paulo Roberto Figueira. “Desde a gestão do Lula houve um brutal aumento no orçamento destinado às políticas sociais. As prioridades mudaram”, diz.   Segundo ele, classicamente, a direita enfatiza o Estado como um ator que cria mais problemas do que soluções, enquanto que a esquerda considera que é o Estado quem tem que ser indutor de políticas sociais. “A direita acredita que o mercado pode, por si só, com o mínimo de interferência estatal, equalizar as distorções sociais. A direita enfatiza o valor da liberdade econômica”.   Gilberto Damasceno acrescenta que a corrente defendida pelo PSDB “busca a produção de empregos, a dinâmica da inclusão social por meio da ampliação do mercado, enquanto o PT acredita que a justiça social se faz através de intervenções diretas via políticas públicas”.   Análises divergentes na economia   As avaliações de analistas econômicos sobre os modelos de gestão representados por Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) são divergentes.   Segundo o professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira, Lula, até meados do segundo mandato, não alterou muito a lógica econômica empregada pelo antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso. “Lula manteve o Banco Central autônomo, que usou a taxa de juros para manter a meta de inflação. Manteve uma política fiscal que prezou a austeridade, superávits primários relativamente altos e permitiu que a taxa de câmbio flutuasse. Ele manteve o tripé econômico que FHC estabeleceu no segundo mandado. Uma diferença foi a ampliação do gasto social”.   Ele explica que a mudança na condução da economia veio para fazer frente à crise econômica internacional em 2008. “Há uma inflexão ao desenvolvimentismo, que é mantido com Dilma e se tornou a tônica do atual governo”, diz Nogueira.   Já o economista Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Unicamp, tem opinião totalmente diversa. Para ele, o caminho tomado pelo atual governo é adequado, porque permite crescimento econômico com inclusão social.   Ele ainda avalia que os “remédios” propostos por Aécio resultarão em desemprego. “Ficará impossível dar continuidade à política gradual de valorização do salário mínimo”.

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