PT tenta voltar às origens, mas sem reabrir o diálogo

Humberto Santos- Hoje em Dia
07/10/2013 às 06:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:07

Após os protestos de junho, o PT adotou um discurso de volta às origens e busca uma reaproximação com os movimentos populares. Antiga marca registrada da legenda, os movimentos sociais reclamam do distanciamento desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula. O partido acena agora com essa retomada para tentar conter os protestos de rua e evitar o crescimento da oposição num setor que dominava.
 
Em visita recente a Minas Gerais para campanha à reeleição na presidência do PT, o deputado Rui Falcão (SP) disse que o partido quer “cada vez mais estar próximo dos movimentos sociais”. A aproximação seria para entender “as vozes das ruas” que tomaram o país durante a Copa das Confederações.

O vice-presidente do PT mineiro, deputado Miguel Corrêa, não acredita que a sigla esteja distante dos movimentos sociais, mas pondera que tem dificuldades com o novo contexto. “O PT não foi criado no mundo de hoje, com a internet. Precisamos estar próximos dos movimentos que surgem pelas redes sociais, até mesmo para entendê-los”, avalia.

“Os governos Lula e Dilma são marcados por avanços significativos, porém não foram feitas reformas importantes, como a agrária, que foi escanteada. Esse é um motivo que levou ao distanciamento. Também houve um expectativa equivocada do PT de que as conquistas só seriam possíveis com a chegada ao poder”, avalia Sílvio Neto, diretor do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) de Minas Gerais.

O integrante do MST participa de fóruns com outros movimentos sociais que já discutiram a relação do PT com os movimentos sociais. Para Neto, o PT esqueceu a força das ruas e perdeu a interlocução com as forças populares.

“A partir das manifestações de junho mudou a conjuntura da sociedade brasileira. Estamos esperando o diálogo com o PT para construir um novo projeto popular. Temos visto a disposição do PT em discutir, mas na prática isso não ocorreu até agora”, reclama Neto.

Dependência

“Não houve distanciamento do PT dos movimentos. Houve um processo de cooptação dos movimentos sociais, tanto que eles perderam parte de sua vitalidade e criaram uma dependência do Estado. Como se faz isso? Cria uma secretaria, um conselho, abre espaço e os coloca dentro de uma posição que não incomoda e também não decide. Só para controlá-los”, avalia o doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília, Leonardo Barreto.

O cientista político Rodrigo Mendes possui análise parecida. “Quando Lula chegou ao poder, não houve ruptura com os movimentos, houve assimilação. Isso provocou uma relativização dos movimentos sociais. Isso ficou claro nas manifestações de junho. Quando os sindicatos tentaram chamar novos protestos, foi um fracasso”, avalia.

Corrêa defende a entrada de membros dos movimentos sociais no governo. “O PT não cooptou os movimentos sociais; os movimentos são base do partido, são parte dele desde a sua fundação”.

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