(Maurício Vieira)
Minas Gerais precisa escolher, nas eleições deste ano, um representante do Estado para ocupar uma cadeira no Senado. Pesquisa Ipec divulgada na semana passada, porém, mostra que os candidatos à vaga terão muito trabalho para garantir a atenção e preferência do eleitorado.
Na abordagem espontânea – em que não é apresentado nenhum nome –, 68% dos mineiros disseram não saber em quem votar para senador e 15% responderam intenção de não votar em nenhuma das opções existentes.
A indecisão é grande até mesmo na pesquisa estimulada – quando se apresenta os nomes que estão na disputa: 44% não sabem quem escolher e 19% disseram que não votariam em ninguém.
Após ouvir os candidatos ao Governo de Minas que aceitaram o convite para entrevistas transmitidas ao vivo nas últimas semanas nas plataformas digitais do jornal e no Canal Universitário (12 na NET) – nem o governador Romeu Zema (Novo) e nem o senador Carlos Viana (PL) confirmaram presença –, o Hoje em Dia abriu espaço para os nomes na disputa pelo Senado. O primeiro entrevistado foi o deputado estadual Cleitinho Azevedo, do PSC.
Diferentemente do que foi feito com os candidatos ao Palácio Tiradentes, a transcrição da entrevista com os postulantes ao Senado será publicada aqui neste espaço, às segundas-feiras. A ideia é dar um pouco mais de visibilidade às propostas, posturas, pensamentos e bandeiras dos candidatos para ajudar o eleitor, diante do cenário apontado pelas pesquisas, de elevado índice de desconhecimento e/ou indecisão.
Em entrevista ao jornalista Carlos Lindenberg na última quinta-feira (18), Cleitinho Azevedo, mineiro de Divinópolis, falou sobre sua história, seu propósito de aproximar o Senado do povo e sobre o que considera ser um bom político.
Dados do TSE mostram que o Partido Social Cristão, pelo qual concorre ao Senado, tem direito a R$ 76,2 milhões do Fundo Eleitoral. O teto de gastos da campanha ao Senado é de R$ 5,3 milhões neste ano. Por quê, então, o senhor resolveu levantar recursos abrindo uma vaquinha virtual?
Acho muito imoral esse tipo de dinheiro. Não vou usar nem um centavo desse dinheiro público. Nas minhas campanhas para vereador e deputado estadual eu não usei. E não vou usar novamente. Já que é dinheiro público, deveria estar sendo investido na educação, na saúde e na infraestrutura de todo o país. Acho desnecessário esse dinheiro.
Sendo assim, você está dizendo para o eleitor que só vai gastar o que arrecadar mesmo?
O que eu conseguir arrecadar eu vou gastar. Eu vou gastar a sola do pé, garganta e ir para a rua pedir voto, pôr a cara para bater.
No seu boné está escrito “respeite a minha história”. Que história é essa?
A minha história é de verdureiro, com muito orgulho. Filho do Zé Maria, que é verdureiro também. Muitas das pessoas zombavam de mim, falavam que eu não ia ser vereador, ser deputado, não ia ter a oportunidade de concorrer ao cargo de senador, e hoje estou aqui dando entrevista para o senhor.
Como foi a sua chegada na Assembleia Legislativa (ALMG)?
Minha chegada foi bem tranquila. Alguns deputados ainda não me conheciam. Então ficou aquela situação de acharem que eu ia desrespeitar algum deputado, que eu ia brigar, pelo estilo de política que eu faço. Mas pode perguntar aos 76 deputados lá, todos eles me respeitam. Tanto que em todos os Projetos de Lei que apresentei na Assembleia, não tive um voto contra, todos a favor.
Alegando falta de recurso, o senhor gravou o próprio jingle da campanha, que pode ser entendido como provocativo ao Supremo Tribunal Federal, com a seguinte frase: ‘O STF, com Cleitinho vai pegar rabo”. O que isso quer dizer exatamente?
Isso é um ditado popular. Por exemplo: se eu for um jogador de futebol, for um centroavante, um zagueiro pode virar pra mim e dizer “eu vou fazer uma marcação cerrada em você, vai pegar rabo”. Então, o que eu quis dizer é isso, eu vou fazer o que minha função manda fazer. O STF é um poder independente, mas quem faz a sabatina e fiscaliza o STF é o próprio Senado. Se eu tiver a oportunidade de fazer isso, que mal tem eu cobrar dentro da democracia? Não vejo problema nenhum. São poderes independentes, eu jamais vou contra a democracia. Mas vou fazer o meu papel.
(Maurício Vieira)
Nas suas redes sociais, o senhor critica muito o sistema político. Já chegou a chamá-lo de nojento. Mas um irmão do senhor é prefeito, agora um outro irmão, que era vereador, tentará como deputado estadual. Não é contraditório você criticar o sistema e a família do senhor seguir a carreira na política?
Qual é o problema da minha família estar na política? Eles foram pelo voto, não tem problema nenhum. Seria contraditório da minha parte dizer que o sistema é nojento e eu usufruir dele, colocar meus irmãos em estatais, na Cemig, na Assembleia. Aí eu estaria sendo imoral. Agora, eles foram através do voto popular. Só com o meu voto, meu irmão não seria prefeito e meu outro irmão não seria vereador. Foi o povo que quis, até porque é democrático.
A última pesquisa Ipec, divulgada nesta semana, mostra que todos candidatos estão tecnicamente empatados. Mas o senhor aparece, numericamente, na frente com 9%. O que acha que fará diferença para mudar esse resultado?
Vou ser sempre transparente, verdadeiro. É muito fácil falar agora o que o povo quer ouvir, um monte de coisa. Eu não vou fazer isso. A minha maior promessa é não prometer. Prometo é comprometimento, é estar presente na vida das pessoas e mostrar o que é o Senado. O senador não é um faraó, não é uma aposentadoria de políticos antigos que ficam lá sem fazer nada. O Senado é um dos órgãos mais sérios do país. E eu vou trazer para perto do povo, trazer proposta, vou andar na rua, dar a cara para bater e vou ser o senador da história que menos gastou, eu não vou comprar ninguém, vou só conquistar.
Esse mesmo levantamento mostra que nada menos que 44% dos eleitores mineiros não sabem em quem votar para o Senado. Na pesquisa espontânea, esse percentual sobe para 68%. O eleitor está muito perdido ou a mensagem que não chegou nele até agora?
Isso mostra o tanto que o Senado está distante. A maioria das vezes que um eleitor vota num senador é na última hora. Às vezes, está lá na zona eleitoral, pega um santinho no chão e pergunta “quem eu vou votar para senador?”. Então é o desinteresse que as pessoas têm com o Senado. Eu quero fazer com o Senado um verdadeiro Big Brother. A população vai querer saber qual é o papel de um senador, o que ele está fazendo. Se você perguntar em quem as pessoas votaram para senador, garanto que metade não vai saber responder.
Qual a sua principal estratégia para atrair a preferência do eleitorado?
A minha estratégia é, como eu falei, trazer proposta, dar a cara para bater, usar os vídeos e aproveitar o alcance que tenho nas redes sociais e andar. Eu falo: não existe o candidato ideal, mas eu vou mostrar que sou a melhor opção.
Você tem usado bastante as redes sociais. Até com uma certa extravagância. E isso te trouxe muita popularidade. Isso te colocou em um patamar mais alto?
Eu acredito que, além da rede social, foi meu trabalho. Quem sabe o que é função de deputado, que é fiscalizar e legislar, eu passei três anos e meio do meu mandato fazendo isso. Sou um dos deputados que tem mais propostas dentro da Assembleia. Sou o autor do projeto que virou lei agora, da Taxa de Licenciamento que vai custar R$ 20 pro povo mineiro, e era R$ 135. Então, essa liderança que estou, tem muito a ver com o meu trabalho.
Entre os nomes que concorrem à vaga no Senado, quem você considera ser o seu maior adversário?
Eu estou orando para eles. Não tenho isso de adversário. Até estou com um boné aqui, “respeite a minha história”, mas todo mundo tem a sua história. Eu respeito eles, mas quero ganhar. Não espere de mim difamar algum candidato aqui. Mas, é claro, se vier me difamar, eu vou ter defesa. Te falar quem que é, eu não posso falar. Todos têm potencial, e que o povo mineiro escolha a melhor opção.
(Maurício Vieira)
Em que o senhor difere de outros candidatos que concorrem ao Senado?
Acho que o eleitor vai falar. Eu tenho o meu jeito, não tenho um jeito muito peculiar de político não. Mas acho que sou bem aquele político que o povo espera, que é representar, que é fiscalizar, ser empregado do povo. O eleitor contrata igual o patrão contrata na empresa. Só que o eleitor contrata através do voto. Então se me contratou e não gostou, tira. Se contratou e está bom, renova através do voto. Sou um cara fora da curva dentro daquilo que a política pede, mas sou um cara do bem, com falhas e defeitos que todo mundo tem. Não espere achar um candidato 100%, não vai achar. 100% é só Jesus Cristo, que não foi político, mas foi o maior líder desta terra. É o nosso maior rei, mas morreu crucificado. Imagina nós aqui.
Você se considera um bolsonarista?
Primeiro, eu sou Jesus Cristo. Mas, se defender as pautas da família, ser contra droga, aborto, respeito a questão da orientação sexual, mas ideologia de gênero eu sou contra… se isso é ser bolsonarista, eu sou bolsonarista hoje.
Qual é a sua opinião sobre orçamento secreto, que é algo muito utilizado pelos senadores? Você entraria nessa de votar favoravelmente a esse orçamento?
Não. Acho que tem que ser tudo transparente. Política pra mim tem que ser tudo transparente, às claras. Se isso é uma prática tanto do Senado quanto da Câmara, tem que ser mudado. Sozinho não sei se vou conseguir, mas eu acho isso errado.
Você é favorável ao Regime de Recuperação Fiscal do Estado?
Servidor não tem culpa nenhuma do Estado estar nessa situação, inclusive o governador também não tem. O Regime que a gente precisa fazer é nos três poderes, estão inchados. Está precisando desinchar. Eu fiz uma PEC – chamada PEC do Miserê – pra poder cortar auxílio moradia, mas isso não passa. Mas tirar do servidor, aí consegue tirar. Então, eu sou contra. Não tem que mexer com servidor. Não foi ele que roubou.
O senhor apoiou o governador Zema na última eleição. Houve conversa para um novo apoio nestas eleições? Como é a sua situação pessoal com o Zema?
Normal. A gente não tem muito contato não. Ele não é meu amigo e eu não sou amigo dele. Temos que falar a verdade. Tenho respeito de política. Eu apoiei ele na candidatura anterior. A não ser os deputados do Novo, eu devo ter sido o único que apoiou e acreditou nele. Meu partido (Cidadania) me avisou que iria me tirar se eu continuasse (apoiando o Zema). Eu falei: “vou continuar. Estou com ele, acredito nele”. Comprei essa briga, foi eleito. Não é perfeito, mas acredito que ele acerta muito mais do que erra. E eu senti, nessa situação, um pouco de ingratidão. Porque eu vesti a camisa dele, mas, neste ano, não tive conversa nenhuma com o governador Romeu Zema. Ninguém me procurou pra gente fazer uma chapa junto. Mas continuo desejando boa sorte. Fico triste, mas passa.
Uma vez eleito, qual seria o projeto mais urgente para Minas Gerais?
Senador representa a Federação. Então, o que tenho que fazer lá é representar a minha federação que é Minas Gerais. O projeto mais importante é uma reforma política urgente. Já passou a reforma trabalhista, da previdência, mas uma reforma política, que tem que mexer nos três poderes, não se mexe. É uma bandeira minha.