No mesmo dia em que a Justiça determinou a libertação do contraventor Carlos Augusto Ramos, o relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), pressionado pela cúpula do PT, cedeu e propôs no texto que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) investigue o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o indiciamento do jornalista Policarpo Junior, redator-chefe da Revista VEJA. Cunha apresentou o relatório final com a proposta de indiciamento de 46 pessoas envolvidas com o bicheiro, entre elas o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, e o prefeito de Palmas, o petista Raul Filho.
No relatório, Odair Cunha alega que Gurgel suspendeu "sem justificativa" as investigações da Operação Vegas, ação da Polícia Federal iniciada em 2009 que apontou os primeiros indícios de ligação do contraventor com parlamentares, entre eles o senador cassado Demóstenes Torres (sem partido-GO). Durante os trabalhos da comissão, o procurador-geral da República informou à CPI que decidiu parar as investigações da Vegas para encontrar elementos mais fortes da atuação de Cachoeira. Segundo Gurgel, isso só ocorreu quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira em 29 de fevereiro.
Entretanto, o relator da CPI sustenta que as duas operações têm origens distintas, não havendo motivo para a paralisação da Vegas. "Não estou afirmando nada, estou colocando essa questão do PGR na pauta. Ele precisa se explicar", afirmou Odair Cunha ao Estado. Ele vai apresentar hoje seu parecer, que só irá à votação na semana que vem.
Desde o início da CPI, o chefe do Ministério Público Federal tornou-se alvo dos petistas e do ex-presidente e atual senador Fernando Collor (PTB-AL). Gurgel foi o responsável por defender a condenação das principais personalidades do PT envolvidos no escândalo do mensalão, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do partido José Genoino. Incentivado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a comissão de inquérito foi idealizada para tentar neutralizar o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. O relator nega ter sido pressionado a incluir Gurgel no seu texto final.
Odair Cunha pediu o indiciamento do jornalista Policarpo Junior por formação de quadrilha, sob a alegação das relações "constantes e permanentes" com o chefe do esquema. As conversas entre o jornalista e o contraventor levaram a várias reportagens publicadas na revista semanal. "Todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram em favor dos interesses da quadrilha tiveram o pedido de indiciamento. E ele (Policarpo Junior) sabia dos interesses da quadrilha", afirmou.
No texto, o relator da CPI sugere que o indiciamento de Marconi Perillo por seis crimes, entre eles corrupção passiva e formação de quadrilha. Para Cunha, o esquema criminoso comandado por Cachoeira estava incrustado no governo do tucano. Oito pessoas ligadas a Perillo, entre secretários, ex-secretários e assessores, tiveram o seu indiciamento pedido. É o caso do ex-presidente do Departamento de Trânsito de Goiás Edivaldo Cardoso.
O relatório, que tem cinco mil páginas, livrou o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz. Havia a suspeita de que o governo de Brasília havia favorecido a empreiteira Delta, ligada a Cachoeira, em um milionário contrato para a coleta de lixo na capital do país. Contudo, Odair Cunha não encontrou elementos para implicar Agnelo com o esquema. Outro governador que não figurou no texto final é o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
Odair Cunha destacou no relatório que Cachoeira mantinha empresas-fantasmas que receberam R$ 98 milhões da Delta. A comissão, contudo, não conseguiu rastrear o destino da maior parte desse dinheiro - uma das suspeitas era para pagar propina a políticos. "A Delta serviu a interesses da organização criminosa", afirmou. Ele pediu o indiciamento por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha de Fernando Cavendish, dono da empreiteira, e a investigação de todos os diretores da construtora.
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