Ser político: sonho de muitos jovens de Belo Horizonte

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
05/05/2014 às 08:18.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:26
 (Montagem Hoje em Dia)

(Montagem Hoje em Dia)

Eles não têm sobrenome de políticos tradicionais, parentes nos poderes Legislativo ou Executivo, nem são candidatos nas eleições majoritárias deste ano. Mas, na contramão da crise de representatividade dos grandes partidos brasileiros, jovens com idade entre 17 e 32 anos, de Belo Horizonte, possuem em comum o sonho de uma carreira política.

Estimulados pelo engajamento nos movimentos estudantis, nas lutas sociais, ou incentivados por familiares, o presidente do PMDB Jovem, Felipe Piló, o ex-presidente da Juventude do PT Bruno Roger, o militante Fernando Soares e o ex-candidato a vereador pelo PSDB Diego Sanches, são exemplos de pessoas que escolheram a política como profissão e que querem construir carreira.

Para o consultor de marketing político e especialista pela USP Daniel Machado, professor da pós- graduação da UNA, o chamado “político do futuro” é a pessoa que sabe lidar com conflitos e que tem ações efetivas, muito além do dom da oratória.

“Os tipos ou arquétipos de pessoas que se elegem devido ao seu grau de conhecimento na mídia, marca temática específica, base eleitoral sólida ou que ocuparam cargo político estão mudando. Hoje, a figura política não é mais distante, interage com o eleitor. Antes, era preciso ser bom orador. Atualmente, além de saber conversar, é preciso ter um comportamento social refletido na política. Ter discurso, mas também perfil de gestor e ações efetivas”, avalia.

Inspirado no pai, que costuma temperar as conversas da família com doses de assuntos políticos, o ativista Fernando Soares, membro da Assembleia Popular Horizontal (movimento nascido na esteira das mobilizações pelo passe livre, em 2013), de 25 anos, desenvolveu o gosto pelas lutas sociais, como o direito à moradia e a reforma urbana, causas que pretende defender quando conquistar um cargo político. O estudante de Arquitetura e Urbanismo integra movimentos pelo Direito à Moradia e pela Reforma Urbana de BH.

“Desde adolescente, via a segregação espacial na cidade, questionava isso, e como meu pai sempre participou de movimento estudantil, entrei para essa luta, há três anos. Me interesso pelas políticas urbanas, participo de pelo menos três grupos, e pretendo me lançar candidato para repensar a cidade e questionar mais”.

Apesar do interesse pela política, ele ainda não se filiou a um partido. “Preciso ser reconhecido como uma liderança bem preparada antes de me lançar candidato”, pondera. l

Disputa ou bastidor: espaços de atuação para perfis diferentes

Entre os jovens que já têm atuação partidária, Diego Sanches (PSDB) chegou a se candidatar a vereador em 2012, quando obteve cerca de 2.200 votos fazendo campanha voltada para jovens, por meio da internet. Hoje, aos 26 anos, ele ocupa um cargo de assessor de Relações Institucionais na Prefeitura de BH e defende, desde a campanha, a proposta de gestão eficiente, com controle de gastos.

“Minha proposta era trazer à tona o dever essencial de um vereador, que é legislar e fiscalizar o poder público, oferecendo serviço de qualidade para a população”, diz.

“Não vim de família de políticos. Era mensageiro do BDMG, comecei lá embaixo, trabalho desde os 17 anos, o que me estimulou a crescer, e me interessei por gestão quando integrei a equipe de assessoria do ex-governador Antonio Anastasia, quando ele foi vice. Quando me tornei tio de uma criança que necessita de cuidados especiais, percebi que a política pode interferir, positiva ou negativamente, na vida das pessoas”.

Diego Sanches participa de cursos do Instituto Teotônio Vilela, mantido pelo PSDB, e fez pós-graduação em Gestão pública para Resultados, após graduar-se na área.

O presidente da ala jovem do PMDB em Minas, Felipe Piló, de 30 anos, frequentava a Fundação Ulysses Guimarães, ao mesmo tempo em que se dedicava às atividades do Diretório Acadêmico de uma faculdade de BH. Mesmo sem muitos recursos financeiros, decidiu ingressar na política.

Apesar da idade e de não ter vivido os acontecimentos políticos da época, ele se diz admirador do ex-deputado Ulysses Guimarães, que teve grande papel na oposição à ditadura militar do Brasil.

Em 2008, Felipe Piló se lançou candidato a vereador, defendendo a não verticalização da Pampulha, o meio-passe estudantil e a criação de faixa exclusiva para motociclistas. Mas só podia gastar R$ 200 na campanha.

“É muito difícil para o jovem que não tem apoio financeiro. Tem que ser feito todo um trabalho de captação, às vezes junto ao empresariado, porque o partido dá a abertura política. Estamos em contato com as lideranças, temos curso de formação política, mas os recursos financeiros dependem do candidato”, pondera.

Já Bruno Roger, de 26 anos, ex-presidente do movimento jovem do PT, não pretende disputar cargo, mas diz gostar dos bastidores da articulação política. “Minha meta é ser um político articulador, estar na direção do PT, ajudar a fazer a construção programática. Minha prioridade, enquanto jovem de uma geração que não ajudou a construir o partido, é fazer com que ele não seja apenas um caminho para alcançar cargos, mas um instrumento da classe trabalhadora rumo ao socialismo”.

Idealista, ele se filiou à legenda em 2005, quando estourou o caso do mensalão do PT. “Foi um gesto de confiança no partido em um momento de crise. Eu já tinha afinidade com a esquerda, uma formação marxista. Tenho admiração pelo ex-presidente Lula”.

Roger trabalha no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, pasta que foi administrada pelo pré-candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel.

Aos 15 anos, teve a primeira experiência em campanha, trabalhando pela eleição da ex-prefeita de Contagem (Região Metropolitana) Marília Campos (PT), depois de se destacar no grêmio estudantil em uma escola municipal. l

Para especialista, idealismo é fundamental

Na avaliação da psicóloga Sylvia Flores, professora do Centro Universitário Newton Paiva, o idealismo é um dos pontos fundamentais para um político, além da capacidade de gestão e planejamento, características defendidas pelo consultor em marketing político Daniel Machado.

Para Sylvia, se o postulante a algum cargo eletivo não tiver a vontade de deixar um legado ou de defender uma causa, pode fazer da função uma atividade sem o seu principal fim, que é a luta pelo coletivo, e beneficiar somente um pequeno grupo de interesse pessoal.

“Um bom político tem que entender as demandas da sociedade, ter capacidade de planejamento e execução, ter força de caráter e ser altruísta. Se ele não for altruísta, vai legislar ou governar pensando apenas nas pessoas de seu convívio familiar”, ressalta a psicóloga.

Segundo Daniel Machado, consultor em marketing político, em sua maioria os jovens que têm se destacado na política ganharam representatividade por causa da atuação em ambientes de discussão de ideias.

“Inicialmente, é mais raro um jovem buscar o partido. O primeiro caminho costuma ser a luta por alguma causa e o partido convida o jovem que sobressai pelo perfil de gestor a se filiar”, diz.

Outro aspecto que contribui, conforme o especialista, para projetar candidatos, são os tipos já presentes no imaginário popular: de pai/mãe, herói, homem/mulher simples, ou líder carismático.

Um dos desafios, além da questão de financiamento de campanha citada por Felipe Piló, do PMDB Jovem, é ganhar espaço nos quadros do partido. “Os partidos já têm os nomes definidos dos puxadores de voto. Alguns jovens podem entrar apenas para compor chapa. Os donos dos partidos, ou seja, os que dão as cartas dentro da legenda, temem não conseguir cadeira ou vaga. Como muitos jovens não têm experiência ou prática política, ficam distantes do processo”,avalia Daniel Machado. 

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por