Silêncio no Senado: a eleição de Renan Calheiros em meio a denúncias

Do Hoje em Dia
02/02/2013 às 06:44.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:39

Quase dez horas depois de revelado o teor da denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República contra o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, ele foi eleito presidente do Senado, por 56 votos dos 78 senadores presentes à primeira sessão de ontem. Se a denúncia assinada por Roberto Gurgel for aceita pelo Supremo, teremos o presidente de uma das casas do Legislativo sendo julgado pela cúpula do Judiciário.

A revista “Época” teve acesso com exclusividade ao documento de 17 páginas que deveria ser sigiloso, no qual Gurgel denuncia o agora presidente do Senado pelos crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos. A denúncia está desde a última segunda-feira (28) no gabinete do ministro Ricardo Lewandowski. Ele não tem prazo para decidir sobre o acatamento ou não da denúncia. Se acatar, o processo será julgado em plenário, o que pode demorar anos.

Renan Calheiros discursou duas vezes, antes e depois de ser eleito. Em nenhum momento se referiu ao Poder Judiciário. Antes, discursaram 18 senadores. Os nove primeiros não foram ouvidos, pois os colegas mantinham animada conversa no plenário, provavelmente sobre a reportagem da revista. No entanto, Pedro Simon, do mesmo partido de Renan, ao subir à tribuna, implorou: “Pelo amor de Deus, peço silêncio, porque é da maior importância”. Ele queria que todos ouvissem seu apelo para que Renan renunciasse à candidatura e o PMDB encontrasse um nome de consenso para substituí-lo. Sustentou que a eleição de um senador denunciado ao Supremo criará uma crise entre os dois poderes, num momento em que um deles, o Senado, se acha com baixa credibilidade.

Esse apelo, escutado em silêncio, foi rebatido logo pelo senador Lobão Filho, do PMDB do Maranhão, que garantiu: “Aqui nesta Casa não há nenhuma vestal”. Renan ignorou o apelo de Simon e se calou sobre a denúncia. O senador alagoano Fernando Collor, do PTB, declarou seu voto no conterrâneo, depois de afirmar que o procurador-geral da República não tem autoridade moral para denunciar qualquer senador.

Renan concorreu apenas com o senador Pedro Taques, do PDT do Mato Grosso, que teve 18 votos. Nenhuma surpresa. “É como perdedor que ocupo hoje esta tribuna”, declarou Taques, ao iniciar seu discurso, ouvido em silêncio. “O silêncio dos covardes”, concluiu. A eleição foi secreta. Três senadores não compareceram, dois votaram em branco e dois anularam o voto.
 

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