'Sou oposição ao governo', diz Eduardo Cunha após ser citado por delator

Folhapress
17/07/2015 às 14:04.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:57

Acuado pela acusação de ter recebido US$ 5 milhões do petrolão, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), elevou a temperatura da crise política ao anunciar seu rompimento oficial com o governo Dilma e, horas depois, tomar sua primeira medida de retaliação contra a presidente ao criar a CPI do BNDES. Um dos principais desafetos da presidente Dilma, a quem acusa de estar por trás das investigações que levantam suspeitas sobre seu envolvimento na Operação Lava Jato, Cunha terminou a sexta-feira (17) sem a adesão de seu partido à sua decisão.   E, na avaliação de interlocutores, correndo o risco de ficar isolado - apenas com seu grupo de aliados próximos - na trincheira que abriu contra o governo de Dilma. O peemedebista começou o dia cumprindo as ameaças feitas na véspera, quando foi divulgada a informação de que o lobista Júlio Camargo afirmou ter pago a ele propina de US$ 5 milhões por contratos feitos com a Petrobras.   "Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje. Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo", afirmou em entrevista às 11h desta sexta-feira (17), último dia antes do recesso legislativo.   Alertado por aliados, Cunha fez questão de dizer que sua posição não o levará a patrocinar o "fim da governabilidade". Mas, nos bastidores, ele indicou que pretende dar sequência a um processo de impeachment contra a presidente -já havia solicitado que  pedidos neste sentido que tramitam na Casa fossem atualizados.   Minutos depois, o PMDB, principal aliado político da presidente, veio a público para dizer que a sigla continua na base do governo. Em nota, o partido disse que a decisão de Cunha é "a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB", mas enfatizou que uma decisão sobre deixar a base aliada só pode ser tomada "após consulta às instâncias decisórias  do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional".   O presidente da Câmara já sabia com antecedência que não teria a companhia de seu partido na iniciativa de abandonar o barco governista. Na noite de quinta-feira (16), ele foi ao encontro do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), na base aérea de Brasília, de onde o articulador político do governo embarcaria para São Paulo. Acompanhado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Cunha foi logo propondo a Temer que o PMDB fosse para a oposição. A seu estilo, o vice-presidente pediu calma ao colega e disse que esta era uma decisão que não podia ser tomada de forma  isolada por eles.   Presente à reunião de quinta, Renan preferiu não engrossar o tom bélico de seu colega nesta sexta e desmarcou entrevista que concederia para fazer um balanço das atividades do semestre. Nos bastidores, Renan, que tem imposto seguidas derrotas à presidente no Senado, confidenciou a interlocutores que prefere manter-se em silêncio temporariamente.   Principal alvo da ira de Cunha, que disse que há um "bando de aloprados" no  Planalto, o governo Dilma começou o dia já sabendo da opção pelo rompimento do peemedebista e baixando a ordem de não "responder às provocações" de Cunha.   O Planalto optou por divulgar, logo no início da tarde, nota em que diz esperar que a postura de Cunha "não se reflita nas decisões e nas ações" da presidência da Câmara, que "devem ser pautadas pela imparcialidade e pela impessoalidade". Apesar do apelo, Cunha autorizou, na tarde desta sexta, a criação de três CPIs. Entre elas a do BNDES e a dos fundos de pensões de estatais, o que preocupa o governo. O BNDES informou que responderá "com tranquilidade" a questionamentos. Elas devem  começar a funcionar em agosto.   Silêncio A oposição, que tem andado de mãos dadas com Cunha desde que ele derrotou o PT e o governo e conquistou a presidência da Câmara, em fevereiro, também não saiu em defesa do peemedebista. Líderes oposicionistas preferiram classificar como "muito grave" o anúncio do rompimento, afirmando temer uma crise institucional no país. "Há uma instabilidade institucional agravada", afirmou o líder do Democratas na Câmara, deputado Mendonça Filho  (PE).   O presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), não se manifestou. Até a noite desta sexta-feira, Cunha havia obtido o apoio oficial apenas do Solidariedade. Já o PSOL pediu o seu afastamento da presidência da Casa. O maior temor do peemedebista é que sua principal fonte de poder lhe seja tirada, a presidência da Câmara. O deputado recebeu a informação de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode pedir o seu afastamento do cargo com o argumento de que  ele utiliza o posto para ameaçar seus opositores.   Neste caso, o risco de ficar isolado se concretizaria e Cunha ficaria totalmente vulnerável às acusações contra ele na Lava Jato. O aumento da tensão entre Executivo e Legislativo gerou preocupação até no meio empresarial. Em conversa com dois empresários de grande porte, a reportagem ouviu reservadamente que Cunha, para não afundar sozinho, está querendo levar quase todo mundo junto. O problema, segundo eles, é que a crise econômica já está grave o suficiente e pode ficar  ainda pior com uma crise institucional.

© Copyright 2025Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por