A Polícia Federal suspeita de vazamento de informações no curso das investigações que culminaram com a Operação Lava Jato. A interceptação de troca de mensagens entre os doleiros Alberto Youssef e Nelma Kodama, apontados como líderes do "grande esquema" de lavagem de dinheiro, levantou a desconfiança dos investigadores de que a organização pode ter tido acesso a dados confidenciais.
Seis dias antes da operação, deflagrada em 17 de março, a PF flagrou Youssef indagando a Nelma, por mensagem instantânea, se "teve bagunça hoje (11 de março)por aí". Ela responde que não e pergunta por quê. "Eu falo no mercado", diz o doleiro.
Para a PF, o teor do diálogo é indício de que Youssef "já tinha sido avisado de que uma possível operação relacionada a crimes financeiros estava para acontecer". No dia 13, Youssef chegou a alertar a doleira de que a operação iria mesmo ocorrer. "Outra coisa, amanhã vai ter operação. Então você sabe o que fazer", escreveu - a ação estava prevista para ocorrer entre os dias 16 e 17.
A PF diz que Nelma ofereceu ao parceiro rota de fuga com helicóptero no Campo de Marte, em São Paulo. "Se quiser, temos um (helicóptero) Agusta no (Campo de) Marte à nossa disposição, ok? Tá na mão."
Na casa de Youssef, a PF encontrou documento com a numeração completa dos processos na Justiça Federal do Paraná sobre a Lava Jato, que ainda estavam sob sigilo. "Essas evidências apontam a possibilidade real de que os dois alvos pudessem tentar fugir das autoridades no momento da deflagração da operação."
Viagem
Na madrugada de 15 de março, a doleira foi presa em Guarulhos quando tentava embarcar para Milão com 200 mil euros na calcinha. "A prisão em flagrante de Nelma com 200 mil euros às ocultas e na véspera da efetivação das prisões e buscas deve ser analisada sob nova perspectiva", avalia a Justiça Federal. "Diante do conhecimento prévio de que teria operação policial, a explicação para o episódio não se resume a mera tentativa de prática de evasão fraudulenta de divisas, mas sim a tentativa de fuga."
O advogado Marden Esper Maués, que defende Nelma, disse que ela não sabia da Lava Jato. "O trecho da conversa foi pincelado para dar a impressão de que havia um plano de fuga. Não é verdade. Youssef se referia a uma dívida de empréstimo com Nelma. Quando disse amanhã vai ter operação, ele quis dizer sobre câmbio e poderia fazer a quitação. Nelma até duvidou, por isso disse que ia ter um Agusta à espera." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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