(Márcio Fernandes/AE)
Depois de ter declarado que a presidente Dilma Rousseff não resistiria a mais três anos e meio de governo, com índice de popularidade de 7%, o vice-presidente Michel Temer divulgou nota neste domingo (6) repudiando a tese de que é um conspirador. No texto, ele diz que o momento é de "união" e que a "divisão" e a "intriga" agravam as crises política e econômica. Afirma ainda que "trabalha e trabalhará junto à presidente Dilma Rousseff para que o Brasil chegue em 2018 melhor do que está hoje".
As declarações do vice-presidente, na quinta-feira, em São Paulo, deixaram Dilma e seus assessores "surpresos" e "assustados" não só pelo conteúdo, mas pelo local onde elas foram feitas - em um evento organizado pela empresária Rosangela Lyra, que também integra movimento que faz críticas ao governo Dilma. Nos bastidores, o episódio acabou fortalecendo a tese de uma corrente de assessores que acha que Temer ajuda a conspirar contra a presidente. Eles avaliam que isso ficou claro desde o início de agosto, quando o vice disse que "alguém" precisava reunificar o País.
Conspiração
Temer, ontem, fez questão de repudiar a tese conspiratória. "A hora é de trabalho e de união. Apesar de seu zelo, e atento ao cargo que ocupa, não são poucas as teorias divulgadas de que suas atitudes podem levar à ideia de conspiração. Repudia-a", disse Temer na nota distribuída por sua assessoria. "Seu compromisso é com a mais absoluta estabilidade das instituições nacionais", prosseguiu o texto, acrescentando que Temer "trabalha para superar as dificuldades", que "é legalista por convicção e vício profissional", que "seu limite é a lei", "sua única cartilha é a Constituição" e que ele "sabe até onde pode ir".
A nota rebate ainda aqueles que dizem que Temer age por "debaixo dos panos", ao declarar que ele "não se move pelos subterrâneos, pelas sombras, pela escuridão". Ao ressaltar que defende que "todos devem se unir para superar a crise", o vice-presidente tentou ainda acabar com as notícias de que trabalha contra Dilma. Temer disse "advogar que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil" e que "agravam a crise política e econômica que enfrentamos".
A nota de Temer foi divulgada na véspera de encontro dele com Dilma, no desfile de Sete de Setembro, na Esplanada dos Ministérios. Será o primeiro encontro dos dois após as declarações do vice-presidente em São Paulo.
Dilma chegou a convidá-lo para uma reunião ontem, no Palácio da Alvorada, mas o convite não se confirmou. A reunião de coordenação política ocorrerá somente amanhã. Temer já estava em Brasília, mas não foi ao encontro da presidente.
Em entrevista ao Canal Brasil, exibida na noite de ontem, mas gravada no fim de agosto, antes das novas declarações, o vice-presidente afirmou que não manobra para assumir o cargo da presidente. "Se eu quisesse ocupar o lugar de Dilma, teria agido subterraneamente. Acho que ela não se deixou levar por nenhuma espécie de intriga", disse.
Amanhã à noite, no Palácio do Jaburu, Temer reunirá os sete governadores do PMDB, os seis ministros do partido, além dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Há expectativa no Planalto do que poderá sair desse encontro, que oficialmente foi convocado para discutir saídas para a crise econômica.
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