Trapalhadas do presidente interino fazem senadores repensarem apoio a Dilma

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
04/06/2016 às 07:11.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:44
 (Reprodução)

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Se a recondução da presidente afastada Dilma Rousseff ao poder era algo totalmente impensável quando Michel Temer assumiu a cadeira interinamente, agora já passa a ser algo mais palpável. A marca de dois ministros afastados por envolvimento em escândalos e uma série de medidas impopulares em menos de um mês fizeram com que, pelo menos, 15 senadores, antes favoráveis ao impeachment, repensassem seus votos. 

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que até então não deixava claro seu posicionamento sobre o processo em curso, criticou a redução do prazo para o julgamento definitivo e a ameaça ao direito de defesa, indicativo de que os ventos estariam começando a soprar favoravelmente para o lado de Dilma. 

Inicialmente, 55 dos 81 senadores foram favoráveis à abertura do processo de impedimento do mandado de Dilma Rousseff. São necessários 54 votos – o equivalente a dois terços – para a efetivação do trâmite. Portanto, se todos eles mantivessem seus votos, o impeachment seria uma realidade. Mas, segundo o senador João Capiberibe (PSB-AP), o número de adeptos à mudança do líder máximo da República caiu para 40 na Casa. Ou seja, 15 políticos ficaram insatisfeitos com o início do governo Temer. 

Dois senadores que parecem estar dispostos a mudar o voto são Romário (PSB-RJ), que pediu para sair da Comissão de Impeachment, e Cristovam Buarque (PPS-DF), que criticou os escândalos envolvendo o atual governo.

Uma fonte que pediu para não ser identificada garantiu que as movimentações de bastidores seguem rumo a um consenso em torno de novas eleições. Alguns senadores votariam a favor da permanência de Dilma, caso ela divulgasse uma carta aberta se comprometendo a apoiar a realização de novas eleições. Ela garantiria o voto favorável ao novo pleito de 11 senadores de sua base aliada. 

Novas eleições
Para a realização de novas eleições antes do prazo, é necessária aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). O texto precisa passar por três vezes no Senado e três vezes na Câmara dos Deputados. 

Já existem, inclusive, duas PECs sobre o tema tramitando no Senado, ambas de autoria de Walter Pinheiro, que deixou de ser senador para assumir a Secretaria de Educação da Bahia. Uma delas, a PEC 28/2016, trata da realização de um plebiscito no primeiro turno das eleições municipais deste ano. 

O objetivo é saber se a população é favorável a um novo pleito presidencial. Caso a resposta seja sim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria 30 dias para convocar as eleições. Esse texto teve a assinatura de 32 senadores. A outra PEC é a 20/2016, que aposta em eleições presidenciais em outubro. Já tem 20 assinaturas, mas é vista como a opção mais improvável.

Para o deputado Reginaldo Lopes (PT) uma PEC trazendo a possibilidade de novas eleições passaria facilmente pela Câmara. “Seria uma forma de os golpistas tirarem definitivamente a Dilma do poder”, afirma. 

Novas eleições ganham adesão de pelo menos 30 senadores e devem ter ‘figuras’ carimbadas

Se a realização de novas eleições for aprovada, o pleito deverá ser dominado por figuras bastante conhecidas dos brasileiros. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), poderá ser o representante do PT, o ex-ministro de Integração Social, Ciro Gomes, do PDT, e a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do Rede Sustentabilidade. 

“O PMDB não tem um candidato forte e sai desse governo interino com a imagem desgastada. O PSDB também está sem opção e o Geraldo Alckmin não vai querer abrir mão do governo de São Paulo por uma aposta dessas”, afirma a cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eucimara Telles. 

Para o deputado Reginaldo Lopes (PT) é provável que Lula seja o escolhido para representar o partido. “O Lula é o mais forte com certeza. Mas temos que ver se os golpistas não vão tentar barrar a candidatura dele”, afirma. 

Eucimara acredita que o ex-presidente adotaria a postura de injustiçado e perseguido, enquanto Marina Silva o de salvação nacional.

Independentemente do tom usado nas possíveis eleições, uma coisa é fato: boa parte do eleitorado apoia um novo pleito. Uma consulta pública realizada no site do Senado revelou que 87,9% dos 40 mil participantes são favoráveis à realização de novas eleições. São 35,16 mil pessoas. 

Inicialmente, a teoria de novas eleições era apoiada por um grupo de apenas seis senadores. Agora pelo menos 30 manifestaram concordância. Na próxima quarta-feira haverá uma reunião com o objetivo de debater como levar a proposta adiante. “É preciso que a população demonstre muito apoio à essa causa para ela sair do lugar. Com vontade política, conseguimos aprovar em uma semana”, afirma o senador João Capiberibe (PSB-AP). 

Para Reginaldo Lopes, a melhor opção seria a realização de eleições gerais e não apenas presidenciais. “De que adianta mudarmos o presidente se vamos manter um Congresso extremamente conservador? Mas eleições gerais não passariam porque tem deputado com medo de perder o cargo”, critica. Ele acredita que as eleições podem ser uma boa opção apenas se for escolha da presidente afastada. “Por troca de votos não acho que seja justo”, afirma.N/A / N/A

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