Para o ministro da Defesa, Celso Amorim, o que está acontecendo atualmente no Brasil é “um tipo de enigma” que o governo tem que decifrar. “É preciso entender as razões desse mal-estar”, afirmou o ministro, em entrevista publicada ontem, sexta-feira (21). Em sua opinião, o atual governo não é o alvo das manifestações, pois sempre existem motivos para reclamações e o mal-estar aflora de tempos em tempos. Até mesmo, porque “as estruturas de governo em geral acabam levando certo distanciamento entre a população e o poder, qualquer que seja o poder”.
O ministro da Defesa classificou como “muito positiva” a atitude da presidente da República ao defender o direito de manifestações nas ruas, pois tal atitude de Dilma Rousseff “é o primeiro passo para se ter um diálogo e se poder entender” . Amorim disse que as razões para os protestos podem ser difusas, mas parece claro o desejo de participação mais direta dos jovens nas decisões dos governantes.
O movimento que ocorre nas ruas brasileiras desde a primeira semana de junho pode talvez provocar, conforme Celso Amorim, que se “acentue a necessidade de uma reforma política que de alguma maneira aproxime todas as estruturas de poder dos cidadãos e dos jovens em geral”. O ministro não vê consequência negativa “para o partido A ou B”.
Na sexta (21), a presidente da República se reuniu com vários ministros, para avaliar as manifestações, que já causaram a morte de duas pessoas.
Amorim também acredita que as Forças Armadas não serão chamadas a controlar as manifestações, porque os órgãos de segurança pública têm perfeito controle da situação. “A questão é saber se agem com maior rigor ou com maior comedimento. É um equilíbrio às vezes delicado, mas acho que isso é encontrável”, disse.
A entrevista do ministro da Defesa é importante. Revela serenidade do responsável por uma área do governo que, no passado, foi convidada a agir pelos que não demonstravam compromisso real com a democracia neste país. Se houver nova tentativa, apostando na insatisfação das Forças Armadas com os recursos que lhes são destinados pelo Orçamento da União, essas pessoas podem se frustrar. Pois a área de defesa, disse o ministro, tem sido razoavelmente bem tratada dentro desse contexto de dificuldades enfrentadas por todos os governos. Hoje, 1,5% do Produto Interno Brasileiro é gasto com defesa, devendo aumentar para 2% em 10 anos. É razoável, num país cujos recursos naturais “podem ser objeto de cobiça”.