Vaiado em Ouro Preto, Pimentel critica injustiça

Aline Louise e Bruno Moreno - Hoje em Dia (*)
22/04/2015 às 06:17.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:43
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Em seu primeiro grande evento público, o governador Fernando Pimentel (PT) enfrentou saia justa na entrega da medalha da Inconfidência, em Ouro Preto, na manhã dessa terça (21), e optou por um discurso político, que teve como foco a condenação de “injustiças” e “acusações infundadas”. Manifestantes receberam o petista entoando gritos de “traidor”.

A maior parte deles estava vestida de preto, com camisas com os dizeres “Luto pela Educação”, com o emblema da Central Única dos Trabalhadores (CUT), aliada histórica dos petistas. Grande parte dos manifestantes pedia melhorias para a Educação, refletindo a insatisfação da categoria com o novo governo.

Sob o sol forte, cerca de 5 mil pessoas, segundo a Política Militar, compareceram à praça Tiradentes, na antiga capital mineira. Ao contrário dos anos anteriores, o cordão de isolamento permitiu que as pessoas chegassem no centro da praça, local em que os agraciados receberam as homenagens.

Na tentativa de abafar os gritos dos manifestantes, a organização do evento não realizou o momento de silêncio, que seria comandado por um corneteiro da Polícia Militar.

Ao discursar, o governador criticou os manifestantes. “Que alegria ouvir as vozes da democracia ecoando em Ouro Preto, as vozes da liberdade, ainda que usem, às vezes, palavras equivocadas. São vozes democráticas”.

Para o secretário de Governo, Odair Cunha (PT), que recebeu a Grande Medalha, as manifestações foram injustas. “No que diz respeito à pauta de reivindicações (dos professores), existe uma mesa de negociações aberta. Há diálogo aberto com a categoria. Haverá uma assembleia dia 29 de abril. É uma precipitação, uma deselegância”, afirmou.


Servidores da educação protestam em Ouro Preto (Foto: Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Político

O governador optou por um discurso político em um evento em que um dos homenageados foi o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski. Em Belo Horizonte, manifestantes lembraram do voto do ministro, no caso do “mensalão”, em que posicionou-se favorável à absolvição de José Dirceu.

O governador lembrou a trajetória de Tiradentes, destacando a injustiça sofrida pelo alferes. Tiradentes se tornou símbolo da luta pela liberdade.

“A história desse homem nos ensina que quanto mais seletiva for a punição, mais coletiva será a impunidade. A conveniência política, momentânea, apaixonada, desequilibrada, viciada pelos impulsos mesquinhos, não patrocina a justiça. Ao contrário, a conveniência política é irmã do arbítrio e a mãe da injustiça”, disse.

Em outro trecho, reforçou que “as acusações, quando a serviço de estratagemas, morrem. Os acusados morrem. Mas a injustiça contra as vítimas da acusação infundada, essa é eterna, incontornável, irreparável e, sobretudo, imperdoável”.

Durante entrevista, Pimentel foi irônico ao ser questionado se o discurso foi uma referência ao momento político por que passa o país, com protestos contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “Eu falei aqui de Tiradentes. Não sei se você sabe que 21 de abril é a data nacional que nós comemoramos o mártir. Eu lembrei o julgamento de Tiradentes e que nós devemos ter em mente que contra ele se praticou uma enorme injustiça, que só o tempo pôde corrigir”.

“Nós temos sempre que ouvir a voz das pessoas” Fernando Pimentel

Homenageado pelo governador, líder do MST chama ministro da Fazenda de ‘infiltrado’

Após receber do governador Fernando Pimentel (PT) a medalha da Inconfidência, o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, criticou a presidente Dilma Rousseff (PT) e chamou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de “infiltrado”.

“O governo Pimentel eu acho que está acertando, até porque ele é uma grande surpresa depois de oito anos do tucanato aqui nesse Estado. E a tia Dilma é que está errando muito. Errou ao montar o governo. Errou ao escolher o ministro da Fazenda (Joaquim Levy) que, pra nós, é um infiltrado dos bancos. Está errando nessa política de ajuste neoliberal. Nós compreendemos que o país passa por uma crise econômica. Porém, essa crise econômica pode ter outras saídas, que não seja penalizar os trabalhadores”, afirmou.

Apesar de criticar Dilma, ele afirmou que é contra a retirada dela do poder. “Todo mundo tem o direito de se manifestar. Agora, a direita não tem o direito de pedir golpe nas ruas”, disse.

Questionamento

O deputado estadual Gustavo Corrêa (DEM), líder da oposição, solicitará ao governador o rol de serviços prestados por Stédile a Minas Gerais que justificariam a medalha. Corrêa afirmou que, com a homenagem a Stédile, “o governador mineiro mancha a história daqueles que realmente fizeram jus a esta homenagem”.

O governo de Minas afirmou que os homenageados são escolhidos por um conselho formado por representantes de entidades civis, professores, pesquisadores, historiadores, juristas e representantes dos três poderes “com plena independência de atuação”.

Em Belo Horizonte, manifestantes levaram corda vermelha amarrada ao pescoço

Na Praça Tiradentes, em Belo Horizonte, 120 pessoas se reuniram em protesto contra o PT, a presidente Dilma Rousseff e o governador Fernando Pimentel. Vestidos de branco, eles levaram cordas vermelhas ao pescoço, para demonstrar, segundo os manifestantes, como “o partido deixou o Brasil com um nó na garganta”. Eles simularam a entrega da medalha da Inconfidência ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela operação “Lava Jato”.

O ato expressou a contrariedade com os homenageados na cerimônia em Ouro Preto, entre eles o presidente do Superior Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e o presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. “A honraria concedida ao líder do MST, que incita a violência e já invadiu propriedades privadas, é a maior ofensa. Mas também estamos insatisfeitos com a homenagem ao Lewandowski, que já protegeu o José Dirceu”, disse Flávia Figueiredo, referindo-se ao voto do ministro no processo do “mensalão”. (*) Com Janaina Oliveira.

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Fotos: Frederico Haikal

 


 

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