Veto de faixas ofusca políticos na Lavagem do Bomfim

Tiago Décimo
16/01/2014 às 20:27.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:24

Em ano eleitoral, a Lavagem do Bonfim, maior festa religiosa da Bahia, que recebeu nesta quarta-feira, 15, o título de Patrimônio Imaterial Nacional do governo federal, costuma ser um termômetro da popularidade de governantes e candidatos da Bahia.

Os políticos prestigiam o cortejo de oito quilômetros entre as Basílicas de Nossa Senhora da Conceição da Praia e do Senhor do Bonfim, na Cidade Baixa de Salvador, por onde passam mais de 1 milhão de fiéis, para fazer corpo-a-corpo com os eleitores e tentar colher aplausos e cumprimentos - apesar de, rotineiramente, receberem vaias. Os partidos aproveitam a exposição para definir posições políticas e, por vezes, lançar ou firmar candidaturas.

Foi logo após o cortejo de dois anos atrás, observando a reação da população, por exemplo, que as oposições ao governo petista de Jaques Wagner no Estado fecharam questão em torno da candidatura do então deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) à prefeitura de Salvador. ACM Neto acabou eleito, ao fim de 2012, vencendo a disputa contra o petista Nelson Pelegrino, no segundo turno.

Este ano, porém, a política acabou ofuscada no cortejo, nesta quinta-feira, 16, por causa de duas novidades introduzidas no evento pela própria administração de ACM Neto. A primeira foi a criação de um cortejo católico antes do início do tradicional, de origem nas religiões de matriz africana. A outra foi a fiscalização rigorosa da proibição de faixas, painéis, placas e blimps publicitários no cortejo - como são proibidos em quaisquer festas públicas na capital baiana desde 2000, de acordo com um decreto que nunca havia sido, de fato, obedecido na cidade.

Com esta última novidade, os políticos que participaram do evento acabaram sendo "camuflados" no cortejo. Sem faixas e blimps de partidos e coligações ao redor, não passavam de mais algumas pessoas vestidas de branco no meio da multidão. Só quem estava perto e notava a movimentação dos seguranças conseguia percebia a presença deles. "Acho que ficou melhor assim, sem as faixas e os cartazes", comentou o governador Wagner. "A campanha de verdade começa em junho ou julho."

Já a criação do cortejo católico, realizado antes da caminhada comandada pelas baianas tipicamente trajadas, causou uma situação inusitada. Em um evento que reuniu o governador baiano, uma ministra (Marta Suplicy, da Cultura), prefeitos de dezenas de cidades, centenas de políticos, entre eles todos os principais pré-candidatos ao governo baiano - Rui Costa (PT), Lídice da Mata (PSB), Geddel Vieira Lima (PMDB) e Paulo Souto (DEM) - e até um pré-candidato à presidência (o senador do Amapá Randolfe Rodrigues, do Psol), o principal personagem foi um padre.

Responsável pela paróquia do Bonfim, Edson Menezes não iniciou sua tradicional mensagem de boas-vindas aos fiéis até que o cortejo liderado pelas baianas se juntasse ao católico, que havia chegado à frente da basílica uma hora antes. "Vamos mostrar que este é um espaço de união, não se segregação", discursou, da varanda superior da igreja, em aparente crítica à medida de separar as celebrações. "Só vamos começar quando as baianas estiverem aqui na frente. O Senhor do Bonfim abraça a todos."

Atalho

Entre os políticos, chamou a atenção o fato de o governador Wagner, que já não havia participado do cortejo no ano passado, preferir não enfrentar a caminhada. Acompanhado da ministra Marta Suplicy, ele deixou o trajeto pouco depois do início e seguiu, de carro, até a Colina Sagrada, no topo da qual fica a basílica do Bonfim.

Coube ao pré-candidato petista ao governo, Rui Costa, e ao vice-governador - e virtual candidato da coligação ao Senado -, Otto Alencar (PSD), puxar o bloco governista do cortejo. "Ele (Wagner) teve uma fissura no tornozelo e o médico recomendou que ele não caminhasse todo o trajeto", justificou o vice-governador.

Aproveitando a ausência do governador, o prefeito ACM Neto (DEM), liderando o bloco de oposição ao governo - acompanhado, entre outros, por Geddel (PMDB) e Paulo Souto (DEM) -, aproveitou para cumprimentar os fiéis. Animado, deixou o grupo várias vezes e driblou a segurança para distribuir abraços e apertos de mão aos potenciais eleitores.

Desta vez, porém, a oposição ao governo petista não conseguiu aproveitar a lavagem para firmar posição sobre se marchará unida em torno de um representante ou se lançará múltiplos candidatos na eleição. "A festa não é momento de escolher candidato", disse o prefeito. "Aqui, está todo mundo mais motivado pela fé que pela política."
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