Youssef revela pagamento de propinas da 'Lava-Jato' várias vezes em BH

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
08/03/2015 às 07:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:16
 (André Brant / Hoje em Dia)

(André Brant / Hoje em Dia)

Ao prestar depoimento em regime de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef, principal operador do esquema de desvios na Petrobras, declarou ter enviado “dinheiro vivo” para Belo Horizonte várias vezes no período de 2010 a 2011. Segundo Youssef, os valores variavam de R$ 300 mil a R$ 1 milhão. As quantias seriam destinadas para abastecer caixa 2 de algumas empresas.
A declaração consta no pedido de abertura de inquérito feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O outro mineiro investigado é o deputado federal Luiz Fernando Faria (PP-MG). Ambos refutam qualquer envolvimento com o “Petrolão”.
Os dois inquéritos tiveram a quebra de sigilo decretada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O inquérito relata que, em mensagem de texto trocada entre o doleiro e o ex-policial Jayme Alves, o “Careca”, há menção de uma suposta entrega de recursos na rua Tomaz Gonzaga, em Lourdes, endereço onde funcionaria a filial, em Belo Horizonte, da empreiteira UTC Engenharia.
A firma pertence ao empresário Ricardo Pessoa, preso junto com outros executivos de empresas na sétima fase da Operação “Lava-Jato” da Polícia Federal (PF). Pessoa é apontado, pela PF, como chefe do “clube”, o cartel de empreiteiras que pagaria propina em troca de contratos bilionários com a Petrobras.
Além disso, Janot cita, no inquérito, um documento intitulado “Transcareca”, referente a uma planilha com a contabilidade do dinheiro entregue pelo ex-policial entre 2011 e 2013, a pedido de Youssef. O papel mostra pelo menos duas entregas em Minas, sendo R$ 600 mil em um 9 de maio e R$ 270,4 mil em um dia 13 de junho.   Em relação ao senador Anastasia, o ex-policial afirmou que, em 2010, viajou à capital mineira para entregar R$ 1 milhão para uma pessoa que não conheceu no momento. Depois, “vendo os resultados eleitorais, Careca identificou que se tratava de Anastasia”, diz trecho do depoimento. Ao exibir uma foto de Anastasia para o ex-policial, ele disse, conforme o documento, que era “muito parecido” com o homem a quem entregou R$ 1 milhão. Em um novo depoimento, Youssef negou ter determinado a entrega de qualquer quantia ao senador.   No entanto, o procurador-geral levou em consideração outro ponto no depoimento de Careca. Ao ser questionado se já fez entrega a políticos, o ex-policial respondeu positivamente. Ele afirma ter ido até uma casa em BH, em 2010, perto de um shopping, na BR-040. E a pedido de Youssef entregou R$ 1 milhão, mesmo valor que alega ter entregue a Anastasia, de acordo com a delação.
Já o nome do deputado federal Luiz Fernando Faria é citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, indicado ao cargo pelo PP. Também em depoimento de delação premiada, Costa declarou ter recebido Faria na sede da Petrobras em 2009 ou em 2010. Segundo o delator, o deputado mineiro foi lhe fazer um pedido: incluir a Fidens Engenharia nos processos licitatórios da estatal do petróleo.
Segundo a denúncia de Janot, tempos depois do encontro entre eles, a Fidens conseguiu um contrato para a construção de prédios administrativos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Após a assinatura, Costa diz que recebeu R$ 200 mil em espécie do parlamentar a título de “agradecimento”. A Fidens ganhou ainda outra licitação, para obra em refinaria no Maranhão.   Para Anastasia, inquérito no STF vai revelar a verdade   Em nota, o senador Antonio Anastasia (PSDB) alegou que provará ser vítima de uma “infâmia”. Ele garante jamais ter encontrado o ex-policial Jayme Alves, o Careca.   “Ou seja, é absolutamente falsa a afirmativa do Sr. Jayme que teria me entregue valores em dinheiro, em 2010, a mando do Sr. Youssef. O próprio Sr. Youssef, em depoimento oficial, negou que tivesse me encaminhado qualquer valor”, afirmou.
Anastasia aponta contradições nos depoimentos de Alves e do doleiro Alberto Youssef e diz esperar que a verdade apareça.
“Soma-se a isto o fato de eu ser, à época, governador de partido de oposição ao governo Federal, sem qualquer vinculação com a Petrobras”, afirmou. “A abertura do inquérito servirá para demonstrar a verdade, pondo fim à infâmia inventada contra mim, sabe-se lá por qual motivo”, completou o senador.
Também em nota, o deputado Luiz Fernando Faria (PP) disse nunca ter cometido qualquer ilicitude em sua carreira política. O Hoje em Dia tentou entrar em contato por telefone e por e-mail com representantes da UTC Engenharia, tanto na filial de Belo Horizonte quanto na sede da empresa, em São Paulo, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
A Fidens Engenharia S.A. também foi procurada, mas funcionários informaram que apenas a equipe de segurança estava no local, ontem, e que não havia nenhum porta-voz para comentar o assunto.
PSDB   Os tucanos discutirão, no início da semana, como será a atuação do partido de agora em diante na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. O PSDB mineiro defende a radicalização da postura na Comissão como forma de proteger o senador, mas ainda não há consenso sobre qual a melhor estratégia a ser adotada agora.
Os tucanos classificaram como “chocante” o envio do nome de Anastasia ao Supremo Tribunal Federal (STF) e dizem que o senador “entrou de gaiato” na lista. “A melhor defesa vai ser a radicalização da nossa posição para apurar tudo”, pregou o deputado e presidente do diretório estadual do PSDB, Marcus Pestana, falando em “indignação e perplexidade” no tucanato. Ele afirma que a defesa de Anastasia será “a mais fácil da história do Judiciário brasileiro”.   (Com Ieva Tatiana - Hoje em Dia)

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