(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
Reflexo de um país em crise, com mais de 11,6 milhões de desempregados, corrosão da renda e falta de perspectivas, a Savassi, que já foi sinônimo de luxo, tem movimento fraco, corte de funcionários e placas de aluga-se espalhadas por todo canto. Em apenas um quarteirão, é possível contar até seis lojas fechadas.
Se a recessão chegou ao miolo do centro de compras e principais avenidas, nas vias que estão fora do coração da praça Diogo de Vasconcelos a situação é ainda pior. Somente no primeiro quarteirão da rua Sergipe, partindo da avenida do Contorno, são meia dúzia de imóveis à espera de um inquilino. A primeira loja que já não está mais lá é uma franquia de sucos prontos. Passos adiante e surge uma fileira de espaços para alugar.
Dona de um salão ladeado com duas lojas vagas, Rejane Mourão diz que o cenário vem se agravando a cada dia. “Tivemos vários baques. Primeiro foi a construção da Cidade Administrativa, que tirou os funcionários públicos daqui. Depois, vieram as obras. E por último, esta crise. Os clientes sumiram e os custos dispararam. Todo mundo está fechando”, lamenta.
Rejane está há dois anos no mesmo ponto. Mas acumula uma década de prestação de serviços na Savassi. A princípio, o salão era na avenida Getúlio Vargas. Sem dar conta do aluguel, mudou-se para um espaço menor na rua Sergipe.
“O movimento caiu quase 60%. Tive que reduzir os preços para manter a clientela e trabalho o dobro para sobreviver”, diz. O corte que custava R$ 70 hoje sai a R$ 45. Já o valor da escova caiu de R$ 35 para R$ 28.
Para o vizinho da cabeleireira, o dono da Uaiçaí, Márcio Mariano, os proprietários de imóveis não caíram na real. “Muitos comerciantes não têm conseguido negociar o aluguel. O prédio lindo aqui do lado ficou pronto há dois anos, mas até hoje nunca foi alugado, pois pedem até R$ 20 mil por uma loja. O resultado são imóveis fantasmas”, diz.
Seguindo na caminhada pela Sergipe, pelo menos mais três lojas estampam cartazes de aluga-se. E, no quarteirão seguinte, estão outras cinco lojas fechadas, uma atrás da outra. A maior delas, até uns dois meses atrás, era ocupada pelo Salon Shape.
“Só neste salão trabalhavam 27 profissionais. Quase metade eram meus clientes. É triste demais”, conta Maurício de Jesus, que trabalha na região há 20 anos. “Antes eu lavava até sete carros por dia. Hoje, se conseguir lavar três dou graças a Deus”, diz.
No quarto quarteirão, que acaba na esquina com a avenida Cristóvão Colombo, mais quatro imóveis estão disponíveis. Em um deles, funcionava a academia Malhação, que despediu-se do ponto há poucos meses.
O drama se repete em outras ruas, como Fernandes Tourinho, Levindo Lopes e Tomé de Souza. Sobrou até para o coração da Savassi. No quarteirão fechado da rua Antônio de Albuquerque, quatro imóveis aguardam por um locatário.
“Antes não achava nada para alugar. Agora tem aos montes. Há menos gente circulando e as lojas mais escondidas não conseguem sobreviver. Mas isso tudo é um retrato do Brasil, que está quebrado”, diz a presidente da Associação dos Lojistas da Savassi, Maria Auxiliadora Teixeira.