(Hoje em Dia/ Maurício Vieira)
Os motoristas de Belo Horizonte, que continuam necessitando utilizar o carro mesmo no período de isolamento social, tiveram um alívio nesta semana ano notarem a redução no preço da gasolina e do álcool. Em alguns postos, o combustível chega a custar R$3,98 (para pagamento em dinheiro ou débito).
A reportagem do Hoje em Dia percorreu alguns postos da capital nesta sexta-feira (3) e confirmou reduções nos preços em comparação com o mês passado, quando havia feito o mesmo trabalho no dia 5 de março. Entre os postos visitados, houve queda no Diala (Shell), na rua Pouso Alegre, no Floresta (região Leste), cujo preço da gasolina está R$3,98. O álcool era vendido a R$2,79.Hoje em Dia/ Riva Moreira e Maurício Vieira
Posto Pica Pau, na avenida do Contorno: queda de 6% na gasolina em um mês
No Eco (Shell), na rua dos Tupis, no Barro Preto (região Centro-Sul), a gasolina era comercializada a R$4,28 e o álcool a R$2,94. Já no Pica Pau (Shell), na avenida do Contorno, no Carlos Prates (região Oeste), o preço da gasolina estava em R$4,27 nesta sexta-feira contra R$4,54 no dia 5 do mês passado - uma redução de 5,9%.
Oportunidade para quem precisa
Alguns motoristas aproveitaram para encher o tanque de seus veículos. É o caso do psicólogo Anderson Agulhari, de 38 anos, que notou o desconto no último dia 24, quando completou o nível de álcool do veículo em um posto da rede Petrobras, no Cidade Nova, na região Nordeste de BH. Acostumado a pagar R$3,29, Agulhari se surpreendeu com o insumo a R$3,09 - uma diminuição de 6%.
"É um grande alívio. Nesse momento de crise, a gente pensa nas outras contas a pagar. O combustível é necessário, mas tem sacolão, prestação do carro e do apartamento", contou o profissional, que tem priorizado o atendimento por videoconferência ou chamadas telefônicas. Para ele, a redução é reflexo da pouca demanda provocada pelo isolamento social.
O gastrônomo Sinval Espírito Santo encontrou a gasolina por R$4,29 em um posto da avenida Teresa Cristina. Encheu o tanque. Até então, ele havia abastecido antes da quarentena por R$4,89, na rua da Bahia, no Funcionários (Centro-Sul) e observou postos com preços acima de R$5. Sinval tem saído apenas para comprar alimentos ou ir à farmácia, mas preferiu completar o nível de combustível do veículo.
Para ele, a redução é positiva, mas... "Alívio, mesmo, seria ver as empresas de energia elétrica, água e internet, ou seja, serviços que se tornaram mais demandados nesse momento, adotarem uma postura de descontos. Isso reforçaria a necessidade de isolamento e ajudaria nesse período de reclusão obrigatória", opinou.
Redução, mas nem tanto
Para o economista Fabricio José Missio, da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) da UFMG, a queda encontrada nos postos da capital está mais relacionada a um reajuste interno na política de lucros dos revendedores, já que os preços estavam muito altos, do que necessariamente uma resposta à diminuição da demanda.
Outro ponto avaliado pelo especialista é a especificidade do setor. Em mercados de ampla concorrência, a queda na demanda, ou seja, a queda no número de pessoas comprando um item, faz os preços caírem como forma de disputa pelo cliente. "Os postos têm pouca concorrência e poder de mercado. Em situações assim, eles estão só minimamente ajustando lucros", disse.
Além disso, Misso relembra que a produção do insumo é praticamente monopolizada no Brasil. "A Petrobrás, ao invés de baixar os preços em uma situação como essa, reduz sua capacidade de produção. Esse é um setor complicado, com preços rígidos. Os preços caíram nos postos, mas caíram menos do que o esperado, se for levado em conta a queda de quase 50% na ida aos postos", pontuou.
Segundo ele, uma queda realmente grande no valor poderá ocorrer caso o número de casos de coronavírus cresça substancialmente em Belo Horizonte. "Estimativas apontam para o número de casos para o fim do mês. Se isso ocorrer, a demanda vai cair ainda mais. Aí sim eles precisarão reduzir o preço para disputar os clientes entre eles", finalizou.
A reportagem também procurou o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), entidade que representa cerca de 4 mil postos de combustíveis no Estado, para entender a redução encontrada nesses estabelecimentos na última semana. Em nota, o Minaspetro informou que não faz estimativas ou análises de baixas ou altas de preço dos combustíveis nas refinarias e, portanto, não se posiciona sobre o assunto.
De acordo com a entidade, os estabelecimentos revendedores de combustíveis são "apenas mais um elo na cadeia de comercialização, esta que é extensa e composta por importantes players durante o processo, desde o refino até a disponibilização do produto ao consumidor final".
Por essa razão, o Minaspetro informou que os postos, "sendo o último e mais visado elo no segmento de distribuição e revenda, dependem de decisões e repasses – caso estes aconteçam – por parte dos outros agentes do setor; ou seja, governo, refinarias, usinas de etanol e companhias distribuidoras" para que ocorram diminuições ou aumentos nos preços dos combustíveis.
Petrobras baixou preços
Procurada para comentar a redução dos preços nos combustíveis, a Petrobras informou, em nota, que baixou os preços do óleo diesel em 7,5% e da gasolina em 12%, no último dia 19 de março, em suas refinarias. Segundo a empresa, essas alterações representam, no acumulado do ano, uma redução de preço de óleo diesel de 29,1% e 30,1% na gasolina.
Além disso, a Petrobras informou que conta com as distribuidoras e revendedores para que estas reduções cheguem até o consumidor final.
"Vale ressaltar que apesar das reduções significativas, a Petrobras não tem ingerência no preço final ao consumidor". Neste link, o consumidor pode conhecer a composição do preço final, nos postos de combustíveis.
Questionada sobre a redução na produção, a empresa informou ela ocorreu devido à baixa demanda de gasolina e diesel no cenário atual, de diminuição na circulação de veículos devido à pandemia de Covid-19.
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