Preço alto das passagens de ônibus gera insatisfação nos brasileiros

Hoje em Dia
18/06/2013 às 06:51.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:13

Há motivos reais de insatisfação de moradores das maiores cidades brasileiras com os preços das passagens de ônibus urbanos? Ou as manifestações dos últimos dias têm outras motivações que não econômicas? Estudo feito pelo professor Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas, e pelo economista Leonardo Siqueira, divulgado nesta segunda-feira, parece confirmar a primeira hipótese. Além de termos as tarifas mais caras, o serviço oferecido à população é dos piores do mundo.

Para comparar tarifas internacionais, não basta pesquisar seu preço na moeda do país e transformar esse preço em dólar. Quando isso é feito, os preços das passagens de ônibus nas duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, são mais baratas do que as de Londres, Tóquio, Ottava, Nova York, Lisboa, Paris e Madri. Prefeitos brasileiros e concessionários de ônibus se sentem enganadoramente confortáveis.

A comparação correta é quando se leva em conta o salário médio das cidades. Um trabalhador de Nova York precisa trabalhar bem menos que o paulistano para comprar uma passagem de ônibus. Certamente, bem menos também que o trabalhador de Belo Horizonte, embora o estudo não contemple a capital mineira.

Quando é levado em conta o salário médio e o preço da tarifa, São Paulo e Rio têm as passagens mais caras entre as maiores cidades do mundo, como aquelas citadas anteriormente. Na China, país muito criticado pelos baixos salários pagos, se trabalha em média menos de quatro minutos para comprar uma passagem de ônibus em Pequim. Já o paulistano precisa trabalhar 14 minutos e o carioca 13 minutos.

O estudo poderia avançar mais um pouco, verificando quanto tempo um trabalhador gasta, em média, para ir de casa ao serviço, pois “tempo é dinheiro”, como há muito se reconhece. Mesmo incompleto, o estudo é suficiente para desconstruir a ideia de que o preço das tarifas de ônibus no Brasil é mais baixo do que em Tóquio, Londres ou Nova York. Desfeito esse engano aceito por vários prefeitos, cabe-lhes buscar as causas de diferenças tão desfavoráveis aos brasileiros obrigados a andar de ônibus. O que funciona bem em tantas cidades, no transporte urbano, e não funciona no Brasil?

Prefeitos que gostam de apontar o desenvolvimento de suas cidades deveriam meditar sobre essas palavras de Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá: “A cidade avançada não é aquela em que os pobres andam de carro, mas aquela em que os ricos usam transporte público.”

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