Na tentativa de garantir uma refeição completa, muita gente trocou a carne de boi – cujos preços estão nas alturas – por alternativas mais baratas, como frango ou porco. Foi um “plano b” que garantiu uma opção de proteína na mesa de muitos mineiros, mas que agora também está pesando no orçamento.
Os custos de produção e a demanda externa pressionaram os preços e provocaram alta nas carnes de aves e suínos em agosto. A asa de frango, por exemplo, está 4,45% mais cara. Já o pernil com osso subiu 4,35% (veja infografia).
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo site Mercado Mineiro, em parceria com o aplicativo ComOferta, em estabelecimentos de Belo Horizonte.
Segundo Feliciano Abreu, diretor do Mercado Mineiro, um dos fatores que influenciaram os preços foi o aumento das exportações. “A gente sabe que as exportações vão de vento em popa e é o consumidor que acaba pagando o ‘pato’, ou melhor, o frango e o porco que subiram muito neste mês”, afirma.
Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as vendas de frango para o mercado externo cresceram 6% neste ano, totalizando 2,6 milhões de toneladas. A receita, em função do aumento de preço, subiu 20%, chegando a US$ 892 milhões.
Com a venda mais interessante para o mercado externo, falta produto para o mercado interno e os preços sobem.
A pesquisa indicou também uma pequena queda no preço das carnes bovinas, provocada por um menor consumo interno. “Não foi uma queda por aumento de produção, foi em virtude de o consumidor não conseguir mais comprar carne bovina. Com isso, está sobrando mais. Não é à tôa que o filé mignon foi o que mais caiu. Várias pessoas não conseguem comprar no preço que está e o açougueiro tem que diminuir o preço, pois a carne tem prazo de validade curto”, explica Feliciano.
A troca de produtos para caber no orçamento tem sido uma prática comum na casa da cuidadora de idosos Kethleen Palhares. Ela conta que várias vezes trocou a carne de boi por frango no balcão do açougue, justamente por causa do preço. E lamenta que a estratégia não tenha mais o efeito de meses atrás.
“Está tudo caro! Eu, sinceramente, não sei mais o que fazer, porque nem optar por ovo está dando mais. Comer está muito caro”, lamenta.
De acordo com Francis Santos, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) de Minas Gerais, a situação vem se complicando desde a pandemia. A instituição fazia distribuição de frangos para diversas regiões da capital mineira, mas agora teve que parar por falta de doações. “As doações caíram quase 90% e a gente não consegue mais atender a todos. Continuamos dando assistência para um ou outro”, conta.
Francis diz que não houve melhora no quadro geral pós-pandemia nas favelas de Belo Horizonte e muita gente ainda não tem condições de adquirir comida da forma adequada. “Sem apoio e doações, eu nem consigo dizer como essas pessoas estão sobrevivendo”, lamenta.
Sola de sapato
Uma das alternativas para tentar economizar ou para conseguir colocar a carne – de qualquer tipo – no cardápio é gastar sola de sapato em busca dos melhores preços.
A pesquisa do Mercado Mineiro mostra que, apesar de os preços médios estarem muito elevados, a variação entre um açougue e outro pode ser muito grande e ainda é possível encontrar estabelecimentos com preços mais vantajosos.
No caso da bisteca suína, por exemplo, o Mercado Mineiro percebeu diferença de 200% entre os açougues da cidade. É possível comprar esse mesmo tipo de carne pagando R$ 14,95 ou R$ 44,95, o quilo.
No caso das carnes de frango, o destaque ficou por conta do filé de peito, que pode ser encontrado com preços variando entre R$ 13,95 e R$ 29,90, uma variação de 114,34% no quilo.
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