O presidente Juan Manuel Santos defendeu neste domingo (18) a paz na Colômbia, um dia depois do atentado com explosivo em Bogotá que deixou três mortos, entre eles uma francesa, e ofereceu uma recompensa de 33 mil dólares pela captura dos responsáveis.
"Com a paz, com a reconciliação, avançamos muito para garantir a tranquilidade dos colombianos", disse Santos após uma reunião com o comando da força pública na Casa Nariño.
O presidente, ganhador do Nobel da Paz em 2016, afirmou: "Não iremos permitir que o que foi alcançado até agora seja freado por alguns extremistas, covardes, ou quem não deseja a reconciliação do povo colombiano".
Às 17h locais de ontem, um artefato explodiu no banheiro feminino do segundo andar do shopping Andino, matando a francesa Julie Huynh, 23, e duas colombianas, de 31 e 41 anos.
"A equipe de investigação trabalha com três hipóteses concretas, e não irei mencioná-las, para não prejudicar a investigação", disse Santos.
A maioria dos nove feridos na explosão, entre eles a mãe de Julie (confirmou à AFP o embaixador da França, Gautier Mignot), já receberam alta, à exceção de uma mulher que "segue em cuidado intensivo", detalhou o presidente.
Nada freia a paz
O atentado ocorreu antes de a guerrilha das Farc iniciar, na próxima terça-feira, a terceira e última fase da entrega de armas prevista no acordo de paz assinado em novembro com o governo.
"A Colômbia enfrentou o terrorismo com muito êxito no passado, sabemos como enfrentá-lo", expressou Santos.
Nas últimas duas semanas, a guerrilha entregou 60% de seu arsenal à missão das Nações Unidas na Colômbia, encarregada do processo. É um passo-chave para que 7.000 combatentes iniciem sua transição para um movimento político e a vida civil.
Mas há o temor de que o atentado no shopping possa prejudicar o processo de paz.
O analista Víctor De Currea-Lugo considera pouco provável que o ataque tenha sido obra das guerrilhas Farc ou ELN, esta última a única em atividade no país.
"Existem grupos armados de extrema direita de linha paramilitar que foram responsáveis pelo assassinato de líderes sociais e ações contrárias à paz", assinalou o professor da Universidade Nacional à AFP.
De Currea-Lugo descartou que esteja ameaçado o processo de paz, "que tem uma dinâmica própria", afirmou.
Tanto o chefe das Farc, Rodrigo Londoño (Timochenko), quanto o ELN condenaram o atentado e alertaram para aqueles que querem "bloquear os caminhos da paz" ou prejudicar o processo de negociação.
O governo e o ELN iniciaram um diálogo de paz em fevereiro, sem ter sido acordado um cessar-fogo.
Flores e despedida
A Zona Rosa, onde fica o shopping, cercado de restaurantes, bares e boates frequentados por turistas, retomava a normalidade neste domingo, Dia dos Pais no país, e clientes foram até o local para homenagear as vítimas.
Segurando um buquê de flores, María Isabel Cerón, 40, lamentou o retorno de episódios de violência ao país. "Dói muito saber que pessoas estão morrendo na esquina por causa do terrorismo", disse.
Os corpos de segurança, a Promotoria e a prefeitura de Bogotá têm um plano "para garantir a segurança dos cidadãos", afirmou Santos.
A jovem vítima francesa era voluntária da ONG Proyectar Sin Fronteras, que trabalha "com jovens deslocados" em uma área popular do sul de Bogotá, informou à AFP o embaixador Mignot. Ela estava prestes a concluir o voluntariado e retornar à França, contou.
Santos anunciou neste domingo que cancelou uma viagem a Portugal, para liderar as investigações do atentado no shopping, mas assinalou que irá manter uma visita a França.
"Tomei a decisão de cancelar minha viagem a Lisboa para estar à frente destas investigações nestes três dias cruciais", disse o presidente após uma reunião com os comandos da força pública.
"Os primeiros dias depois de um atentado como o de ontem são essenciais para encaminhar a investigação e obter avanços importantes na identificação dos responsáveis", assinalou.
O presidente anunciou que viajará na próxima terça-feira a Paris, que, juntamente com Lisboa, fazia parte de um giro programado em que ele deve se reunir com o colega Emmanuel Macron e sua equipe, com o objetivo de "avançar em nossa agenda de cooperação".
Santos participará em Paris da abertura da segunda parte do Ano França-Colômbia, um conjunto de manifestações culturais no território francês.
O presidente colombiano também expressou solidariedade às vítimas do incêndio florestal em Portugal, que deixou mais de 60 mortos.
O atentado de ontem foi o segundo com gravidade ocorrido este ano na capital colombiana. Em 19 de fevereiro, uma explosão perto da Praça dos Touros deixou um policial morto e 25 feridos, sendo dois civis, uma ataque atribuído ao ELN.
A Colômbia vive um conflito armado de mais de meio século envolvendo guerrilheiros, paramilitares e agentes do Estado, que já deixou 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 7,1 milhões de deslocados.