Presidente da BHTrans fala sobre rotativos para incentivar o uso de coletivos

Marcelo Ramos - Hoje em Dia
17/01/2015 às 11:36.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:41
 (Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

(Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

Com quase 1,5 milhão de automóveis, Belo Horizonte opera no limite de sua capacidade. Conversamos como presidente da BHTrans, Ramon Cesar, sobre o que a administração pública tem feito e o que o cidadão pode fazer para melhorar a mobilidade na capital mineira.    Quais são os desafios de Belo Horizonte, quando se fala em mobilidade urbana? A frota de veículos em Belo Horizonte teve um crescimento acelerado na última década, basicamente mais que dobrou. Nenhuma cidade do mundo suporta tamanho crescimento dessa magnitude e oferecer infraestrutura viária no mesmo ritmo. Devemos considerar que um dos fatores do aumento da frota está relacionado com perda de participação do transporte coletivo no mercado de viagens, na cidade. Sendo assim, o grande desafio é melhorar a qualidade do transporte público de maneira que motive o cidadão a deixar seu carro na garagem no uso cotidiano. Mas sabemos que, para que isso ocorra, é necessário oferecer um transporte coletivo qualificado.   E o que é factível de ser feito, dentro da realidade econômica da cidade? Nos últimos quatro anos, houve um grande investimento na imple-mentação dos dois primeiros corredores do BRT, o nosso Move, que transporta 500 mil pessoas diariamente, com melhor condição de conforto e custo menor do que era antes, com um grande ganho de tempo no deslocamento ponto a ponto. Nesse período, a Prefeitura de Belo Horizonte e o governo do Estado articularam os primeiros passos para a expansão do metrô, em que os projetos de engenharia das linhas entre Lagoinha-Savassi e Calafate-Barreiro já foram entregues à Caixa Econômica Federal, que será o agente financiador, e acredito que daqui a cinco ou seis anos essas duas linhas novas vão se consolidar. Além disso, para os dois últimos anos da atual administração, ainda teremos investimentos na expansão do BRT no eixo Oeste, que segue pela avenida Amazonas. Estamos programando 80 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus e criação de ciclovias com acesso às estações do BRT e metrô.   As ações existem, mas são capazes de motivar o cidadão a deixar o carro em casa? É uma questão cultural que precisa ser construída. Por exemplo, na região ao norte da Barragem da Pampulha, há um sistema tronco-alimentado, que em algumas semanas nós vamos abrir estacionamento rotativo coberto, que apesar de pequeno, com cerca de 300 vagas, será um bom incentivo para os moradores do entorno deixem seus carros na estação e sigam para o Centro de ônibus. É uma experiência pequena, mas que servirá de semente para uma mudança comportamental e cultural.   Em algumas estações do metrô, como a Calafate, isso já é feito, mas de maneira improvisada. Há possibilidade de expandir esses estacionamentos? Dentro do programa de expansão do metrô, há a revitalização do entorno das estações, justamente para estimular o motorista a deixar seu carro na estação e complementar sua viagem de transporte coletivo, nos moldes do padrão europeu.   Falamos de administração, mas o belo-horizontino é um bom motorista? Na BHTrans, temos uma função de educação de trânsito, principalmente com os mais jovens e estudantes de segundo grau, próximo dos 18 anos. Fizemos um estudo e ele nos mostrou o desejo desses jovens em se tornarem motoristas. Dizer se o cidadão é bom ou mau motorista é uma questão de policiamento. Nós temos uma função secundária.   Mas esse motorista pensa e age de maneira coletiva? Em nossa atividades operacionais, percebemos comportamentos como fila dupla, o mau hábito de não dar seta, que parece ser uma característica dos belo-horizontinos, que é percebido claramente por quem vem de São Paulo ou Rio de Janeiro. Em nossos programas educacionais, buscamos levar conceitos de uma vivência mais solidária no trânsito. É muito importante ter mais respeito ao pedestre. Temos um índice de atropelamentos de idosos expressivos. Temos buscado soluções como a reprogramação dos semáforos na região do central, como Praça Afonso Arinos e no entorno da Santa Casa, para dar mais tempo para esse idoso, que se desloca mais devagar, poder atravessar com segurança. Esse modelo de engenharia de tráfego que privilegia o pedestre será expandido para outras áreas do Hipercentro.   E o pedestre, ele é educado? Nós precisamos proteger o pedestre, mas muitas vezes o pedestre precisa ser mais cuidadoso. Mas há de reconhecer que, muitas vezes, para dar fluidez ao tráfego penalizamos os tempos de travessia dos pedestres. Ele precisa ser mais cuidadoso, mas as condições são muito adversas e estamos mudando isso.    BH tem uma frota perto do 1,5 milhão de automóveis. Quantos deles deveriam ficar na garagem para garantir uma fluidez satisfatória? Não há uma conta fechada para isso. O sistema tem trabalhado bem próximo da capacidade e qualquer colisão ou defeito de automóvel na via provoca um congestionamento. Nesse período de janeiro, época de férias, registramos uma grande melhora no trânsito. Estimamos que uma redução de 20% do volume de veículos em circulação nos daria uma condição de trânsito satisfatória. Se conseguíssemos que esses 20% trocassem o carro pelos modos transporte coletivo, teríamos um alívio.

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