Presidente da Fiemg defende novo imposto para compensar desoneração de folhas; assista à entrevista

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
20/07/2020 às 18:39.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:04
 (Flávio Tavares/Arquivo Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Arquivo Hoje em Dia)

Com dois anos recém-completados como presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o empresário Flávio Roscoe defendeu, na tarde desta segunda-feira (20), durante entrevista ao Hoje em Dia/Portal HD por meio de uma live no Instagram, a criação pelo governo federal de nova versão de um imposto sobre transferências e movimentações financeiras, semelhante à extinta CPMF.

Roscoe ressaltou, contudo, que a iniciativa seria bem-vinda somente se o objetivo de tal alíquota fosse substituir os impostos e contribuições incidentes hoje sobre pagamentos de salários feitos pelas empresas. Essas cobranças, aliás, estão suspensas no momento para alguns setores econômicos no país, mas, conforme veto do governo federal a lei aprovada pelo Congresso, que previa prorrogação da chamada desoneração fiscal das folhas até o final de 2021, deverão voltar já em janeiro do próximo ano - a não ser que o referido veto seja derrubado pelos parlamentares.

"Não estou defendendo a criação de um imposto para arrecadar mais. A Fiemg sempre foi contra a criação de novos impostos que onerem o setor produtivo. Estou defendendo a criação de um imposto para substituir outro que afeta diretamente a capacidade de geração de empregos. E não tem nada mais precioso do que o emprego", disse Roscoe. 

"É a única fonte de receita (o novo imposto, incidindo sobre operações financeiras e pago por todos os cidadãos que as fizerem) que a gente vê para compensar essa desoneração. Muita gente fala na antiga CPMF, e é mais ou menos ela, mas um pouco alterada. Para o trabalhador, certamente, é muito melhor que os 20% do INSS que o empregador paga sobre as folhas salariais", completou.

Balanço e críticas

Roscoe fez um balanço das ações encabeçadas por sua gestão na Fiemg desde maio de 2018, quando iniciou o mandato, em plena greve dos caminhoneiros. Desde então, o executivo enfrentou outros grandes desafios, como a tragédida de Brumadinho, que impactou fortemente o setor de mineração, um dos principais formadores do PIB estadual, as chuvas torrenciais que castigaram Minas no início deste ano e, agora, a devastadora Covid-19.

"Eu preferirira um cenário mais calmo, mas tranquilo e propício a mudanças estruturais, mas, dentro do cenário que foi a nós legado, fizemos todo um trabalho para valorizar a participação do empresariado na transformação do Brasil e na transformação do ambiente de negócios', disse.

"Os desafios mencionados são importantes, mas pontuais", afirmou. "O grande desafio do Brasil continua sendo mudar uma mentalidade que penaliza o empreendedor, que marca o empreendedor como um oportunista. Como aquele que explora a sociedade, mas isso é uma grande inverdade. O empreendedor é aquele que gera emprego, gera renda, dinamiza, paga impostos, arrecada tributos para que nossa sociedade possa arcar com seus compromissos", acrescentou.

Roscoe não poupou críticas à imagem de "forte" que muitos ainda fazem do Estado brasileiro, algo que, na opinião dele, sofre grande e indevida influência de questões culturais e ideológicas. Seria um discurso distorcido, ainda bastante difundido e comprado por uma parcela da elite intelectual do país.

"Boa parte da desigualdade do Estado brasileiro vem através da concentração de renda do próprio Estado. Os mais ricos hoje da sociedade brasileira, o número maior dentre os 5% mais ricos, não é de empresários, é de servidores públicos, que, em tese, estão aí para servir a sociedade. Mas, na verdade, hoje a sociedade é que esta a serviço do Estado", destacou.

"Essa visão de setor privado versus, por exemplo, o setor de saúde, como agora na Covid, ou do setor privado versus o meio ambiente (como no caso de Brumadinho), é uma visão falsa, que está baseada nessa cultura que coloca empresários como exploradores. Não como membros ativos da sociedade que fazem diferença na sua transformação", acrescentou Roscoe.

"Esse é o problema estrutural (do Brasil), e todo resto é consequência disso. Infelizmente, no Brasil o Estado fica na mão de poucos e ele é, na verdade, o grande concentrador de poder e de riquezas. O Estado sempre vai se contrapor à iniciativa privada, com a cultura que temos", completou o dirigente.

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