Presidente do Atlético volta a conceder entrevista coletiva depois de cem dias

Luciano Dias e Henrique André
24/10/2019 às 10:50.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:22
 (Reprodução/ TV Galo)

(Reprodução/ TV Galo)

O presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, surpreendeu na manhã desta quinta-feira (24), na Cidade do Galo. Depois de mais de três meses ou cem dias, o mandatário alvinegro reapareceu na sala de imprensa do CT para uma entrevista coletiva que durou pouco mais de 1h30. A última havia acontecido no dia 17 de julho. 

O dirigente, que há, quando o time se preparava para o primeiro duelo das semifinais da Sul-Americana, em Santa Fé, na Argentina, respondeu a vários assuntos, como a demissão do técnico Rodrigo Santana, as frutrações da temporada, o planejamento para 2020, as forte críticas vindas das arquibancadas, a manutenção de um funcionário cruzeirense e muito mais.  Reprodução/ TV Galo 

Confira alguns trechos da entrevista: 
 

Eliminação da Copa Sul-Americana

Sem dúvida nenhuma, a nossa desclassificação na Copa Sul-Americana foi péssima em todos os aspectos: financeiros, moral do time, na confiança. Óbvio que a gente fez uma aposta muito grande no campeonato, que nos levou a sacrificar alguns jogos no Campeonato Brasileiro. Acreditando que nós pudéssemos estar na final e ganhá-la. Não vou nem dizer se acertamos ou erramos porque quero dizer pra vocês que estas decisões não são minhas. A gente tem pessoas qualificadas aqui no nosso corpo técnico e elas que opinam sobre a utilização de time reserva ou time principal. Eu tenho que confiar nestes profissionais. Não conheço de preparação física profundamente. Especificamente sobre a questão da Conmebol, além de tudo, tem o prejuízo financeiro. Todos sabem que a gente está com uma situação financeira difícil. A passagem para a final, mais a perspectiva de ganhá-la, sem falar na valorização do próprio elenco, trazem um prejuízo muito grande e temos que assimilar. Naquele dia, todos ficaram abalados e abatidos. O time jogou bem, com pênalti no final. Perder é sempre muito ruim. Naquele dia, tive que reunir muita força interior para poder, naquele momento, como comandante do clube e pessoa a frente de tudo, reunir os jogadores no vestiário; e falei pra eles, alguns chorando. Eu tive que me segurar também porque eu estava chateado. Tive que dar para eles uma palavra de confiança. 

Saída de Santana e chegada de Mancini

A questão do Rodrigo temos que achar um caminho no futebol brasileiro. Muita gente reclama que não se dá oportunidade a um treinador de fazer um trabalho longevo. Outros ahcam que tem que fazer troca. Eu particularmente entendo que tem que ser um trabalho de longo prazo, como acontece na Europa, de um modo geral. Tentamos fazer isso com o Rodrigo. Talvez, a gente tenha segurado mais do que o devido, mas é a cultura do futebol brasileiro. É assim. Nós tivemos que fazer esta mudança para mudar os ares aqui dentro e funcionou na nossa visão. Eu conseguir um novo ambiente. O Rodrigo é excepcional, acho que terá uma carreira bem-sucedida. A vinda do Mancini é um treinador experiente. Tem críticas de ter caído com alguns times da Série A, mas esses times já estavam situação complicada. Mas fez bons trabalhos também, como no São Paulo este ano, mas depois foi substituído pelo Cuca, que não deu a continuidade do bom trabalho do Mancini. É um treinador experiente, que conhece, que já tinha trabalhado com alguns atletas do nosso elenco. Quero crer que ele vá ter todo o sucesso aqui neste período de contrato. Se ele vai continuar conosco aqui é uma outra história. Nós estamos pensando no jogo contra o São Paulo, jogo a jogo. 

Agravamento financeiro em 2014

Não tenho isso de cabeça, mas foram os anos que nós ganhamos a Libertadores e a Copa do Brasil. Houve investimento em jogadores de ponta. Eu estava aqui nesta diretoria e sei como foi bom ganhar aqueles títulos, importante para o nosso torcedor. Mas é sempre assim, sempre muito apertado. A gente tenta fazer o melhor. O que o Alexandre (Kalil) fez foi isso, o Daniel (Nepomuceno) também tentou. A gente ver uma série de reclamações em elação a nossa gestão por conta d resultado, mas a verdade é que os resultados que é pegamos um time fora da Libertadores em 2018. Com todos os problemas, nós conseguimos a sexta colocação e nós não tivemos bom desempenho na Libertadores, acho que tivemos desempenho razoável na Sul-Americana. Futebol é assim. Um ganha e o outro perde. 

Pior presidente do Atlético?

Eu sofro também. Muitas vezes até minha gestão é julgada pelo o que acontece em campo. É boa, se ganha título, é ruim, é péssimo, se perde. Precisamos pensar melhor sobre isso. Eu, hoje, sou o pior presidente do Atlético, mas eu sou porque sou o atual. Já foi o Daniel, depois o Ziza foi o pior, o Alexandre nos três primeiros anos foram sofridos. Depois ele ganhou e aí fica de bom aquilo que fez. Mas quem apanha não esquece. Ele sofreu naquela época. Eu também não posso ter a chance de tentar fazer alguma coisa nos três primeiros anos aqui para, quem sabe, também performar nos próximos anos, se eu for para eleição. E os outros clubes, vão renunciar também (...) Acho que está faltando respeito ao presidente. Em algumas vezes, eu mereci porque erramos. Mas eu não posso ser culpado da pipoca do estádio tá fria, da cerveja está quente, da privada com problema. Tem coisa boa também. Estamos tentando organizar o clube com gente competente. Acho que eu sou competente. 

Cleiton no Bragantino?

A chance é o Bragantino vim aqui e pagar o preço que vamos pedir para ele. Ou seja, difícil. Nem todo jogador do atlético é inegociável. Se chegar aqui e pagar, ok. Vinte e cinco milhões de euros. Se depositar aqui, leva. 

Críticas na internet e nas arquibancadas

Eu não aceito quando alguém comente um crime ou contravenção. Aí é diferente. Quando alguém te chama de ladrão, falando que vai matar a sua filha, se você não se defende, deveria. A pena para crimes digitais vai triplicar (...) Eu chamei atenção (sobre segurança que tentou censurar manifestação de torcedor no Independência), vamos tomar algumas medidas para que isso não volte acontecer. O torcedor tem todo direito se manifestar. Eu não tenho menor problema com isso, eu não ligo para isso. Fico triste de ver uma pessoa com uma faixa me xingando, acho que isso é desrespeito, mas se ele quer fazer isso de uma maneira mal-educada, paciência. Mas, de mim, nunca saiu determinação nenhuma neste sentido. 

Funcionário cruzeirense

Vou falar um fato corriqueiro, mas é uma coisa que tem sido falada. Quando eu cheguei ao Atlético, fiz um levantamento de cada profissional, quanto ganhava, o que fazia. E aí fizemos um ajuste na folha e algumas pessoas saíram e outras pessoas ficaram pelas avaliações que foram feitas. Uma dessas pessoas, que já estava lá, se chama Pedro Magalhães. A avaliação que eu recebi é de que ele era um bom funcionário e tinha um salário baixo. Então falei: ok, fica. Eu não sabia de nada. Depois fui saber que o pai dele era presidente da Gasmig. Uma pena porque ele teria postado uma foto no passado com a camisa do Cruzeiro e que, por isso, eu teria que demiti-lo. Eu queria perguntar o seguinte: se eu for contratar uma pessoa, qualquer que seja a função, vocês acham que a pergunta que você torce não é discriminatória? Então a torcida que acha que tem censura? Ela agora vai discriminar a pessoa por causa do time que ela torce? Então o Nelinho e o Palhinha não poderiam ter jogado aqui. Os nossos jogadores são todos atleticanos? E o Maluf? E os jogadores que estão lá e já jogaram aqui? E vocês que são setoristas? Tem gente que vai para a porta da sede e fica gritando o nome do sujeito. Quer que eu mande o cara embora sem ter motivo justificável para ser mandado embora. Enquanto eu estiver no Atlético, não vou fazer isso. Isso (torcedor citado) não torce para o Atlético, torce para ele. É questão de humanidade.

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