Entrevista

Presidente do CBC detalha organização e apoio da entidade na formação de atletas olímpicos

Paulo Maciel afirma: ‘sem os clubes, na maioria dos esportes não haveria seleções brasileiras’

Angel Drumond
angel.lima@hojeemdia.com.br
Publicado em 01/04/2024 às 10:57.
 (Divulgação CBC)

(Divulgação CBC)

No dia 26 de julho ocorre, em Paris, a abertura dos Jogos Olímpicos de 2024. A delegação brasileira irá em busca de mais uma campanha recorde, com o objetivo de superar os números de Tóquio 2020. Nos bastidores do esporte e longe dos holofotes, algumas instituições trabalham arduamente para fortalecer os atletas olímpicos, como é o caso do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC).

A entidade possui parceria com mais de mil clubes em todos os estados e Minas tem papel de destaque neste cenário, apresentando 57 clubes integrados ao CBC, como os tradicionais Minas Tênis Clube e Praia Clube.

De forma geral, os números apresentados pelo Time Brasil em missões internacionais ressaltam a importância da atuação do CBC. Somente em 2023, o suporte da entidade refletiu nos resultados do Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, onde foram conquistadas 205 medalhas. Dessas, 70% tiveram a contribuição de atletas formados em agremiações parceiras do CBC.

Já nos Jogos Olímpicos de Tóquio, 88% da delegação era composta por atletas de clubes ligados à entidade. Das 21 medalhas conquistadas, 15 foram de atletas de clubes formadores. 

Alguns exemplos práticos de atletas que atuam em clubes mineiros e que foram impactados pelo Programa de Formação de Atletas do CBC são: Duda e Ana Patrícia (vôlei de praia) - Praia Clube - ouro no Pan de Santiago; Darlan Romani (arremesso de peso) - Praia Clube, ouro no Pan de Santiago; Alice Gomes (ginástica de trampolim) - Minas Tênis Clube, conquistou recentemente vaga inédita para o Brasil nesta modalidade para os Jogos de Paris; Fernando Scheffer (natação) - Minas Tênis Clube, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e ouro no Pan do Chile.

(Miriam Jeske/COB)

(Miriam Jeske/COB)

Atualmente, Paulo Maciel, que comandou o Tijuca Tênis Clube por 27 anos, é o presidente do CBC. O profissional está no cargo desde 2021 e, recentemente, foi reeleito para o quadriênio 2025-2028. Natural de Bonito (PE), Paulo conversou com o Hoje em Dia e detalhou a atuação da organização, explicou como é feito o trabalho junto aos clubes e destacou o protagonismo das equipes mineiras. 

De forma prática, como o CBC ajuda os clubes mineiros? 

O CBC apoia os clubes mineiros por meio do Programa de Formação de Atletas, que direciona recursos para áreas específicas chamadas de eixos. O Eixo de Recursos Humanos viabiliza a contratação de equipes multidisciplinares, enquanto o de Materiais e Equipamentos Esportivos garante recursos para aquisição de equipamentos e materiais esportivos. O eixo de Competições viabiliza a participação dos Clubes nos Campeonatos Brasileiros Interclubes (CBI®). Os recursos são repassados por meio de editais e atos convocatórios para os eixos de Recursos Humanos e Materiais e Equipamentos Esportivos, enquanto o eixo de Competições é executado diretamente pelo CBC, que adquire as passagens aéreas dos beneficiários, garantindo a participação dos Clubes nos CBI. Além disso, o CBC promove a capacitação permanente de profissionais e gestores dos clubes por meio da realização de seminários, oficinas e de outros eventos e cursos em parceria com universidades renomadas e entidades, como o COB e o Ministério do Esporte.

Desde o início do CBC, quanta verba a entidade já destinou para clubes de Minas Gerais?

O CBC foi criado em 1990, mas passou a receber recursos lotéricos apenas em 2012, quando assumiu a nova missão na formação de atletas. A regulamentação da legislação ocorreu apenas em 2014, ano em que o CBC passou a destinar recursos aos clubes. Os Clubes de Minas Gerais já foram beneficiados com mais de R$ 52,5 milhões.

Quais são os principais cases de sucesso do CBC junto aos clubes mineiros?

Podemos citar um case recente, nos Jogos Pan Americanos do Chile, onde dois clubes de Minas, que fazem parte do Programa de Formação de Atletas do CBC, ficaram no ranking de medalhas de clubes brasileiros entre os 10 primeiros. Foram o Minas Tênis Clube, em 5º, com um total de 15 medalhas, e o Praia Clube, em 6º, com um total de 12 medalhas. Para nós é um orgulho ver o reflexo do programa no sucesso de nossos atletas.

(Alexandre Loureiro /COB)

(Alexandre Loureiro /COB)

Por ser ano olímpico, o trabalho do CBC é ainda mais intenso? Em quais frentes vocês têm atuado?

No ano olímpico, o CBC intensifica a atuação em diversas frentes estratégicas para garantir o máximo de apoio aos atletas e aos clubes. Além da cobertura olímpica, o CBC concentra esforços no planejamento e execução de ações que visam o encerramento de um ciclo e o início do próximo. Isso inclui a revisão e ajuste de diretrizes, a análise de resultados e desempenho dos clubes parceiros, bem como a preparação para os próximos desafios esportivos. A entidade também se dedica a maximizar o suporte aos clubes e atletas que representarão o Brasil nos Jogos Olímpicos. Em recente parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o CBC passou a apoiar treinamentos de campo e a avaliação dos atletas do Time Brasil, garantindo a sua mobilidade com a aquisição das passagens aéreas. Além disso, o CBC aproveita o momento olímpico para promover o esporte e incentivar a participação da comunidade, fortalecendo o cenário esportivo nacional. Mas é importante ressaltar que o CBC investe na perenidade da política esportiva, dando sustentabilidade para os clubes durante todo o Ciclo Olímpico.

Quando se fala em esportes olímpicos, há muito destaque para o Comitê Olímpico do Brasil (COB), mas pouca gente cita a missão do CBC. Qual é o papel da entidade neste cenário?

O papel do CBC é fundamental no desenvolvimento do esporte olímpico brasileiro, uma vez que a entidade trabalha diretamente com os clubes, que são a base da formação de atletas em nosso país. O CBC oferece suporte financeiro, técnico e estrutural para os clubes, contribuindo para a formação e o desenvolvimento de atletas que posteriormente representarão o país em competições internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos. Como é sabido, são anos de investimento para que um atleta se desenvolva e chegue ao topo para conquistar uma medalha olímpica. No Brasil, essa trajetória ocorre essencialmente nos clubes, com raras exceções de esportes que não são praticados em clubes, a exemplo do ciclismo e do surf, entre outros. Considerando a realidade brasileira, podemos dizer que se não fosse o trabalho dos clubes, na grande maioria dos esportes olímpicos não haveria seleções brasileiras. O trabalho das Confederações e do COB, realizado na reta final, se soma ao intenso trabalho realizado pelos clubes por anos a fio na formação desses atletas.

Qual a importância de clubes tradicionais como Minas Tênis Clube e Praia Clube para o esporte olímpico brasileiro?

Clubes tradicionais como Minas Tênis Clube e Praia Clube desempenham um papel essencial para o esporte no Brasil. Esses clubes oferecem infraestrutura de alta qualidade para treinamento e competição, e servem como verdadeiras “fábricas” de talentos, proporcionando aos jovens atletas oportunidades de desenvolvimento em diversas modalidades esportivas. A excelência esportiva oferecida por esses grandes clubes coroa o trabalho dos demais clubes do Estado que atuam em outras fases da formação desses atletas. Os recursos destinados pelo CBC são fundamentais para apoiar seus gestores nesse enorme desafio. Antes da destinação dos recursos lotéricos ao CBC, e também de outras fontes como Lei de Incentivo ao Esporte, esses clubes fomentavam o esporte de rendimento quase que integralmente com recursos próprios, advindo das contribuições dos associados. E o custo é altíssimo. Por isso, a soma de esforços, a otimização dos recursos e a eficiência com que os clubes os executam, com rigor e transparência, são parte dessa engrenagem complexa que molda o esporte olímpico brasileiro.

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