(Arquivo/Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A despeito do amplo debate durante o período eleitoral sobre a reforma do sistema público de aposentadorias, o setor de previdência privada aberta amargou a perda de 224 mil participantes no ano passado. Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) mostram que o ano passado terminou com 13,1 milhões de contribuintes em fundos privados. Além da saída de pessoas do sistema, a captação entre os clientes ativos também caiu mais de 30% em relação da 2017.
A Federação explica a contração do setor por dois fatores principais: a queda do juro básico no País, que diminuiu a atratividade do segmento, e a instabilidade gerada pelas eleições. Essa retração foi observada no comportamento das pessoas físicas e nos planos empresariais.
O setor privado também viu a captação líquida (diferença de depósitos e resgates) diminuir pelo segundo ano consecutivo como consequência do contexto econômico. Foram R$ 39,5 bilhões, cifra 30,64% inferior a de 2017. É ainda o menor patamar desde 2013, quando o setor também sentiu o impacto da volatilidade no mercado financeiro.
Apesar da menor captação e da queda no número de participantes, o novo presidente da FenaPrevi, Jorge Nasser, diz que o setor se mostrou "resiliente" em 2018. "No ano passado, o desemprego não teve a melhora que se apontava. Foi um ano eleitoral com uma série de incertezas e a economia ainda com uma recuperação muito lenta. O sistema como um todo se mostrou resiliente frente a este cenário, com reservas crescentes", afirma o executivo, que assumiu a presidência da FenaPrevi no mês passado para o triênio entre 2019 e 2021. Executivo de carreira do Bradesco, ele também é presidente da Bradesco Vida e Previdência.
Apesar da queda na captação líquida, as reservas dos planos de previdência privada aberta cresceram 10,54% no ano passado frente a 2017, totalizando R$ 836 bilhões. Nos últimos cinco anos, este saldo apresentou expansão em média 12% ao ano.
Para dar saltos maiores, o setor de previdência privada aberta depende, de acordo com ele, do teor da reforma da aposentadoria oficial e quando será implementada pelo governo de Jair Bolsonaro. "Dependendo do novo teto (de idade), do tipo de reforma e o prazo, temos um mercado que vai apontar para um potencial de crescimento", destaca, sem dar números.
A relação, entretanto, não é direta, mas a implementação da reforma da Previdência deve contribuir para elevar a educação financeira e a preocupação com a poupança de longo prazo dos brasileiros, beneficiando, assim, a previdência privada. Primeiro, as pessoas têm de entender o que ocorrerá com o INSS, segundo Nasser.
Retorno
A boa notícia que deve se estender para 2019, de acordo com Nasser, é o maior apetite por risco das pessoas que detêm planos de previdência em uma ofensiva para obter retornos melhores e compensar a queda dos juros no País, cuja tendência é de estabilidade em 6,5% ao ano em 2019 e 2020.
Neste contexto, a parcela de ativos de fundos ligados às modalidades PGBL (para quem declara o imposto de renda no modelo completo) e VGBL (IR simplificado) alocada em multimercados, que combinam diversas estratégias de investimento, dobrou em dois anos, chegando a 10,4% no ano passado ante 5,7% em 2016. Já o peso da renda fixa caiu de 91,2% para 86,5%, na mesma base de comparação.
"Além da venda consultiva ter aumentado em uma tentativa de buscar melhores retornos, temos um total de aportes que passa a ter a visão de elevar o potencial de rendimento e de rentabilidade das carteiras."
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