No pedido que o procurador-geral Rodrigo Janot fez ao ministro Edson Facchin, para que revise a decisão de deixar solto o senador Aécio Neves ou entregue ao pleno do Supremo Tribunal Federal tal decisão, existe um trecho de uma conversa transcrita entre Ricardo Saud e Frederico Medeiros, primo do tucano. Ela se deu quando Frederico, chamado de Fred, foi pegar a mala com dinheiro que seria destinada ao senador Aécio Neves (PSDB).
De acordo com Janot, fica claro que Fred “tinha total consciência da irregularidade da conduta praticada e de que o destinatário final dos valores era o senador Aécio Neves”. Mas chama a atenção também a forma como o primo de Aécio trata dos ilícitos que cometeria em nome do senador. A certa altura da conversa, Fred diz que só o faz por lealdade e que sabe no que está se “metendo”.
Segue a transcrição do trecho:
Frederico: A primeira vez. Outro dia eu tava pensando, acordei à meia-noite e meia, o que eu tô fazendo? O que eu tenho com isso? Eu não trabalho pro Aécio, eu não sou funcionário público, eu sou empresário (ininteligível) pra caralho pra sobreviver, trabalho pra caralho, Ricardo.
Ricardo: Eu sei. (...)
Ricardo: É um projeto político né?
Frederico: Sim.
Ricardo: Seu primo e tal.
Frederico: E ao mesmo tempo, como é que eu não faço?
Ricardo: Você acha que eu tô confortável com o que eu tô fazendo?
Frederico: O que que eu ganho? Rosca...eu só tenho a perder. Se o cara chegar pra mim...eu compro a passagem pra vir pra cá no meu cartão.
Ricardo: Ah, pára com isso.
Frederico: Como é que eu vou comprar passagem aérea?
Ricardo: Ele não te reembolsa nada? (...)
Frederico: Reembolsa, vê quanto você gastou, três mil, quatro mil. Mas é o seguinte, minha vida tá descolada disso agora. Eu tenho com o Aécio um compromisso de lealdade que o que precisar eu tenho que fazer. Eu falei, olha onde eu tô me metendo”.
A lealdade é tamanha que em outro trecho Frederico diz que, caso fosse parado em uma blitz, com dinheiro, diria que o recurso é dele. Fred até diz a Ricardo que dirá a Aécio, por sugestão de Ricardo, para que arrumem outra pessoa para pegar o dinheiro.
Frederico: Amanhã eu tô com o Aécio na fazenda. Amanhã eu tô com ele em Cláudio. Vou falar que já tive aqui duas vezes, faltam mais duas. Só pra você entender que a gente está se cercando de todos os cuidados, mas não é uma operação cem por cento sem risco. O que você quer que eu faça nas outras duas. Sou eu de novo?”.
Ricardo se despede de Frederico propondo um negócio a ele. Fred conta que está comprando um lote em Pains.
Frederico: Vale isso, quatrocentos e setenta.
Ricardo: Mas compra só o terreno, depois chega lá deu errado, aí tudo bem. Aí você pode, eu tenho lastro, tá até aqui meu imposto de renda, eu deixo um milhão no imposto de renda.
Frederico: Vamos fazer o seguinte, se for pra eu voltar aqui eu trago um documento, a gente faz um xerox, uma nota promissória, faz uma caução, faz um (misensen) e deixa tudo pronto (sic)”.