Professores avaliam primeiro dia de provas do Enem e apontam tema da redação como grande destaque

Paula Bicalho
pbicalho@hojeemdia.com.br
05/11/2017 às 21:42.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:33
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Neste domingo (5), quase 70% dos 6.731.344 inscritos no Enem 2017 fizeram as provas de redação, linguagens (língua portuguesa e língua estrangeira) e ciências humanas (geografia, história, filosofia, sociologia e conhecimentos gerais).

Os candidatos tiveram cinco horas e 30 minutos para concluir a prova e, além da redação, cada uma contou com 90 questões objetivas.

O coordenador do Departamento de História do Colégio Bernoulli, Márcio Edriano, fez um apanhado geral sobre as questões resolvidas neste domingo. 

Sobre a prova de linguagem, ele disse que foi coerente com a dos últimos anos. "Alguns alunos podem reclamar um pouco dos textos longos que a prova trouxe, mas acredito que não foi tão difícil assim". 

Para ele, "o fato de não ter sido no mesmo dia que a prova de matemática ajudou muito também". Já as questões de ciências humanas exigiram um maior conhecimento do aluno, já que abrangeu muitas áreas. 

"A prova distribuiu bem as questões de filosofia, geografia, sociologia, abordando diferentes períodos da história", comenta Edriano. A grande novidade, na opinião dele, veio com a prova de geografia. 

"Neste ano, tivemos mais questões de geografia física, ao contrário dos outros. Se o aluno não tinha um conhecimento técnico também nesta área, deve ter tido dificuldade".  

Tema da redação foi o grande destaque

Professora acredita que o tema pode ter assustado no princípio mas que vários argumentos poderiam ter sido usados na construção do texto

Os participantes do Enem tiveram que escrever sobre os “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. O texto, dissertativo-argumentativo, podia conter até 30 linhas, e tinha que ser desenvolvido a partir da situação-problema e de subsídios oferecidos pelos textos motivadores.

O assunto pegou muita gente de suspresa. "De maneira geral, este é um tema que assusta à primeira vista por trazer esse recorte bem específico da questão dos surdos. Mas o aluno que leu e escreveu sobre inclusão não teve grande dificuldade", afirma a professora de português do Bernoulli, Allana Matar de Figueiredo. 

Allana conta que conhecer a Lei Brasileira de Inclusão, chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência, ajudou a  discutir o problema de forma mais coerente na prova.    

Um ponto abordado pela professora que poderia ter sido utilizado é o ensino da Linguagem Brasileira de Sinais - Libras, que inclusive fez parte do enunciado da questão. "O aluno poderia argumentar que, de nada adianta a lei garantir o ensino da Libras se não temos professores capacitados para isso". 

Outro argumento seria a exclusão no mercado de trabalho. "Se o aluno não consegue formação educacional adequada, ele também não terá acesso ao mercado de trabalho da mesma maneira", comenta.

"O candidato podia tocar, ainda, na questão da ausência de material didático, estrutura tecnológica e, mesmo, sobre o preconceito social, que chamamos de capacitismo, que desmotiva a persistência na tragetoria escolar". 

A professora explica que o repertório socio-cultural, uma exigência da prova de redação, pode dificultar a principio, mas é possível um diálogo com obras fundadoras da educação, como "Pedagogia da Autonomia", de Paulo Freire. "Ele trabalha na perspectiva de educação mais crítica, reflexiva e inclusora, oferecendo vários marcos legais além da Lei Brasileira de Inclusão". 

"Filmes também poderiam ser usados, como 'O Milagre de Anne Sullivan', que conta a história da filósofa americana Helen Keller, que é cega e surda e se tornou doutora superando os obstaculos da inclusão".  

Assim, "de acordo com as propostas de intervenção, outra exigência do Enem, a problematização seria mais tranquila de ser executada", conclui Allana. 

Próxima etapa

Para as provas do domingo que vem (12), Allana Matar acredita que cada aluno deve conhecer seu ritmo e emoções, para então decidir o que fazer para se preparar. 

"Acho que o aluno deve criar um equilíbrio entre fazer um estudo revisional dentro de um padrão que não exija muito, que não o deixe muito cansado porque, assim, ele estará mais bem preparado para as próximas provas. 

A professora ainda faz um alerta: "Os alunos devem se lembrar que, para o domingo que vem, o tempo de prova é mais apertado, então tem que saber dosar bem para não se perder". 

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